.mesmo que lúgubres

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disseste-me que meus olhos lúgubres ainda cintilavam vida quando encontravam-se com os teus. duvidei. tua capacidade de fabular poderia te passar a perna, por vezes.

duvidei pois, se nem com o brilhar das estrelas meus olhos se rutilavam mais, por que iriam relumbrar-se para ti?

porém, não duvido que talvez, tenhas me encantado com a forma como tua alma dança no meio da distópica realidade. talvez, tenhas aquebrantado um tanto da melancolia que meus olhos guardam. talvez, tenhas acorbertado com teu abraço a angústia em que meu âmago me dilacerava. talvez, eu tenha caído no conto de que os olhos são a janela da alma, pois se és verdade que os meus cintilam quando olham para os teus, é certeza que eles se apaixonaram pela tua alma, não pela imensidão castanha que me retornas quando firma teu olhar ao meu.

tu és calamidade, no entanto, teus sentimentos são efêmeros. me pergunto se hei de ser um dos contínuos ou um dos finitos, mas se ajudar-me a guardar o rutilar do meu olhar, não me preocuparei nem se for um dos passadiços.

todavia, não pinte peças as quais não irás admirar. não me beijes como se foste a última vez que me verás, pois meu coração lamenta-se culposiosamente, e com ele meu intrínseco se quebra um pouco mais. não me vicias com teu cheiro, se quando foste embora completamente, saberás que sentirei falta para sempre, e este teu rastro virará tua marca registrada. não me cativas, se não sabe compreender o valor que esta palavra tem. não me digas que sou poesia, se não sabes me ler. não me diga que teu coração conhece o meu, se tu deixaste ele entrar no abismo que sou eu, quando dissestes que começara a amar as peças quebradas que ainda batem — lentamente — no meu peito. não digas que irás ficar, pois ninguém nunca permanence ao meu lado.

e talvez, a culpa seja da minha alma fugidia e de sua tendência a afastar quando não tens idéia do que faz, mas a solidão em que mantém-se em meu encalço, relembra-me que todo o ciclo irá viciosamente repetir-se. e eu estando pronto ou não, muitas almas neste mundo hei de perder. seja pela tristeza do fim definitivo da morte, ou por culpa da vida e seus afazeres medíocres. mas peço aos céus que pelo menos guarde a tua comigo.

contudo, irei de levá-los cada um em meu íntimo ao decorrer do que chamamos de vida, o que na verdade é um paradoxo cruel, também conhecido pelo doce alcunhar realidade.

teus olhos ainda cintilam. Where stories live. Discover now