01 - Novo habitante

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Acordei um pouco atordoado. Olhei para o lado e o banco do motorista estava vazio. Caramba, dormi por quantas horas? Abri a porta e sai para fora em busca do meu tio. Foi quando ouvi sua voz ao telefone não muito longe de onde eu e o carro estava. Ao perceber que eu estava ali fora, ele rapidamente veio ao meu encontro.

— Você apagou, dormiu feito pedra — disse em um tom de humor.

— Estava com um pouco de sono — tentei retribuir com o mesmo humor. — Por que estamos parados aqui? Aconteceu alguma coisa?

— O pneu do carro furou — apontou para o local danificado, o pneu esquerdo de trás — mas não se preocupe, já estamos perto de Stowe. Não tivemos tanto azar assim, afinal. O pneu furou a poucos quilômetros de lá. Acabei de ligar para o mecânico da cidade, por sorte ele é um velho conhecido meu e disse que vem com um reboque até aqui.

— Ele trabalha em pleno sábado? — perguntei.

— Como eu falei, ele é um velho amigo, disse que quebraria esse galho para mim.

Esperamos por uns 40 minutos até avistarmos de longe uma luz se aproximando.

— Deve ser o reboque — pronunciou meu tio, suspirando de alívio pelo fim da espera.

Não falei nada, apenas observei um homem alto, levemente musculoso e com uma feição amigável descer do carro e vir em nossa direção. Devia ter por volta dos 40 anos. Ele e meu tio trocaram um abraço caloroso e alguns comentários sobre como as coisas mudavam ao decorrer do tempo. Ele não pareceu notar minha presença, tirou e trocou o pneu do nosso carro rapidamente, demonstrando que tinha costume de realizar aquele tipo de trabalho.

— E então, Richard, veio passar alguns dias em Stowe? A Sra. Griffim vai ficar feliz, ela não para de falar em como sente saudades do filho mais velho. E depois do que aconteceu com a Ethel, ela precisa da sua companhia — o mecânico disse aquela última parte com uma tristeza na voz.

Minha mãe e meu tio cresceram em Stowe, cidade com uma população de pouco mais de 4.000 habitantes. Todos os moradores se conheciam, então era natural todos serem próximos.

— Bem que eu gostaria, Rag. Mas tenho algumas coisas para resolver em Montpelier, e depois, vou voltar para minha casa em Burlington, aquele lugar já deve ter criado mofo depois de tanto tempo. Vim apenas para trazer meu sobrinho, ele vai morar com a mamãe — apontou com a cabeça para mim.

Finalmente o tal Rag notou minha presença e mirou sua visão para mim. Ele tinha consigo um olhar triste, como se sentisse pena da minha pessoa. Ele parecia que tinha acabado de encaixar todas as peças do quebra-cabeças, como se tivesse se dado conta que, a filha mais nova da vovó Griffim que morrera há poucas semanas, era minha mãe.

— É um prazer conhecer você, garoto. Se parece muito com sua mãe, tem o mesmo cabelo dela. Ah propósito, me chamo Ragnar Liberato.

Era verdade, um traço inconfundível da minha mãe era seus lindos cabelos ruivos, cor que herdou de minha avó e passou para mim. Eles pareciam grandes chamas vermelhas alaranjadas. Aquele tipo de chama que aquece e deixa tudo mais confortável. Doeu muito ver ela perdendo fio por fio em decorrência do câncer.

— Obrigado, eu acho — minha resposta não foi das melhores, mas não sabia o que dizer.

— Ah, e a sua avó tem a melhor sopa de toda a cidade, você vai gostar — continuou Ragnar, tentando amenizar aquele clima pesado que se formou.

— Meu tio chegou a falar isso para mim uma vez, tenho certeza que vou gostar.

— Richard, já matriculou ele no colégio? — voltou seu olhar para meu tio.

— Sim, sim. Liguei para o diretor ainda quando estava em Montpelier. Já está tudo pronto para Ignis ir para o colégio assim que as aulas começarem.

— Entendi. Ignis, certo? Meu filho estuda lá, ele se chama Pietro. Se precisar de alguém para te ajudar nos primeiros dias, ele não vai recusar.

Balancei a cabeça positivamente.

— Acho que tá na hora da gente ir. Não é legal ficar de noite nas ruas — interviu meu tio.

— Claro — disse Ragnar com um sorriso.

Essas foram as últimas palavras ditas antes de cada um entrar em seu respectivo carro. Seguimos viagem por mais 37 minutos até o nosso destino. Já conseguia enxergar a placa da entrada da cidade. Uma pequena e delicada placa de madeira que dizia "Bem vindo à Stowe". Impressionante como tudo aqui era pequeno. Em determinada hora, eu e meu tio tomamos um caminho diferente de Ragnar. Nós fomos para a casa da vovó e ele para a dele, suponho.

É quando o carro para novamente, desta vez não por um imprevisto, mas sim porque finalmente chegamos onde queríamos chegar desde o início. Olhei pela janela aquela linda casa. Sua arquitetura era típica de uma residência americana; um delicado jardim com cercas brancas que batiam na canela completava a paisagem.

Era isso. Minha nova casa, minha nova vida.

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