Capítulo dois: "Fugindo"

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Estava chovendo. Eu preparava o almoço na cozinha,  — batata frita, bife e salada — pois dali a poucos minutos meu pai e meu irmão deviam chegar esfomeados. Minhas irmãs estavam na sala assistindo televisão. Terminei as frituras e coloquei na mesa. O almoço estava pronto. Voltei para sala, onde Ane e Ju acabavam de desligar a tevê porque o papai e o Lucca chegaram discutindo. — Como sempre  fazem — Mas hoje parece ser uma discussão mais séria. Um homem de meia idade veio com eles. Encostou no canto da porta e lá permaneceu observando.

— VOCÊ ESTA PASSANDO DOS LIMITES! NÃO PODE FAZER ISSO! — Meu irmão gritava furiosamente com meu pai.

— Posso e vou. A filha é minha e eu faço o que bem entender. — Meu pai falou vindo em minha direção. Meu coração acelerou na hora. Mas antes mesmo que ele chegasse a um passo de onde eu estava, meu irmão pulou nele acertando um murro de cheio na maça de seu rosto. Meu pai caiu no chão. Se percebia a dor que ele deve ter sentido, pois estava sem consciência.

— Vamos sair daqui Zooe. Corre. — Peguei na mão das minhas irmãs e obedeci o Lucca. Pois se tem uma pessoa em quem eu confio nesse mundo é no meu irmão. Ele é nossa proteção.

Segui ele até as escadas, com a Ju e a Ane que já começou a chorar, pois sabia que dali para frente só iria piorar. Ane tem quatorze anos, e em todo esse tempo sabe muito bem que nosso pai é um louco. Ju também já tem noção de tudo, apesar dos seus mínimos seis anos de idade, ela entende o que acontece por aqui.

— Entrem aqui. — Lucca abriu a porta do meu quarto, onde também dormiam as meninas. Entramos, ele trancou a porta e pegou uma mala de cima do guarda roupa. Jogou-a na cama e abriu.

— Coloquem algumas coisas suas aqui. Nós vamos fugir.

— Fugir? — Perguntei surpresa.

— É. — Ele segurou meu rosto com as mãos. — Zooe, aqui nós não vamos mais ficar. Nosso pai esta ficando cada vez pior.

— Mas o que ele fez dessa vez?

— Ainda nada. Ainda nada. — Disse discando um número em seu celular, então colocou sobre o ouvido e entrou no banheiro que se encontrava ali para fazer uma ligação.

— O que será que o papai fez de tão sério? — Ane me perguntou.

— Não sei Ane. Mas pelo jeito não foi nada bom.

Eu e as meninas fizemos o que o Lucca mandou. Colocamos o que podia dentro da mala. Em poucos minutos ele sai do banheiro guardando o celular no bolso da calça.

— Estão prontas? — Ele perguntou e nisso nosso pai começa a bater com força na porta.

— ABRE ESSA PORTA LUCCA. NÃO SABE COM O QUEM ESTA BRINCANDO.

— NÃO. — Ele respondeu. — Meninas, nós vamos fugir. Temos que correr até a avenida.

— Mas por onde vamos fugir? — Ane perguntou.

— Pela janela. Vou ajudar vocês a descer. — Ele começou a falar baixo para nosso pai não ouvir. — Depois que nós todos estivermos lá embaixo, vamos correr até a avenida.

— Ok. — Respondi. Então ele  me ajudou descer primeiro. Não era tão alto, mas se alguém caísse iria ter uma queda feia. Depois que ele me desceu ele ajudou minhas irmãs. Eu também ajudei. Depois que nós três já estávamos para fora ele jogou a mala. Mas antes mesmo que ele terminasse de colocar a sua primeira perna para fora da janela, meu pai o agarrou. Meu irmão segurou com forças na janela.

— LUCCA! — Gritei preocupada.

— Corre Zooe. Corre. Eu me viro.

— Não, eu não vou sem você.

— Corre você e as meninas, Zooe. Foge para a avenida.

— Não ouça ele filha. Ele esta tentando te enganar. Sou seu pai. Não lhe farei mal.

Sem pensar duas vezes eu sai correndo com minhas irmãs, porque confio no meu irmão. Aliás, só tenho ele para confiar.

— ZOOE, VOLTE JÁ. — Meu pai gritou. Mas não dei ouvidos e continuei correndo.

— ZOOE? — Meu irmão gritou. Olhei para ele que parecia estar chorando enquanto ainda tentava se soltar do meu pai. — EU TE AMO MANINHA. AMO TODAS VOCÊS.

Eu queria muito poder gritar "EU TAMBÉM TE AMO", mas eu não tinha forças. Estava com um choro preso na garganta, e só sentia forças para continuar     

                              * * *

Eu e minhas irmãs chegamos na avenida cansadas, suando, com sede, fome, — pois não tínhamos almoçado ainda—, sem saber para onde ir. Moramos na fazenda e para chegar até a avenida não seria muito  perto. Enfrentamos um sol quente. Já não conseguíamos mais correr. Andamos lentamente pela estrada, mesmo sem rumo e cansadas. Ju reclamava muito de sede, e não tinha ninguém para nos ajudar. Os únicos carros que passavam sobre nós, simplesmente corriam em alta velocidade e nem queriam saber o que três garotas exaustas faziam na rua. Até que então um carro prata para ao nosso lado.

— Precisam de ajuda? — Perguntou o que dirigia, pois dentro do carro só haviam dois rapazes que pareciam ser novos. O motorista sorria, e eu só pude ver seus cabelos escuros e seus olhos que brilhavam com a luz do sol, deixando as cores mel virarem uma cor verde. Podia perceber tudo isso na primeira vez que o vi. Ele saiu do carro. — Vamos, entrem, nós te damos carona. — Falou abrindo a porta.

Não sabia se eu podia confiar nele. Olhei para cara se minhas irmãs, e pensei por um estante. Então cheguei a conclusão que deveria aceitar a ajuda, porque a essa altura, em quem mais poderia confiar?

— Esta bem. Eu aceito.

Entramos no carro. Eu e as meninas ficamos sozinhas no banco de trás. Ele deu partida no carro e começou a andar.

— Meu nome é Zayn, o dele é Harry. — Falou o motorista. — Quem são vocês?

— Sou Zooe, elas Ane e Ju.

Eu estava um pouco envergonhada. Afinal de contas, não é todo dia que pego carona com estranhos. E até que são estranhos bonitos.

— Para onde estão indo? — Perguntou Harry, o garoto que tinha cachos e olhos azuis. Sei que não deveria ficar reparando muito, mas eles eram mesmo muito bonitos.

Sem saber o que responder, acabei suspirando profundamente e olhando para janela.

— Pode nos deixar na cidade.

— Não foi isso que ele nos pediu. — Zayn falou e em seguida ele e Harry riram.

— O-O quê? Vai me dizer que vocês... Vocês são os capangas do meu pai?

— Não. — Riu. — Estamos aqui por ordem do seu irmão, Lucca.

— Lucca? Conhece meu irmão?

— Conheço. E ele pediu que eu buscasse vocês. Mas pelo jeito ele ficou preso né?

— É. Mas para onde estamos indo?

— Para minha casa.

— Sua casa?

— Ordens do seu irmão.

— Ok. Se o Lucca mandou, vamos obedecer.

La estávamos eu, Ane e Ju, a caminho da casa de um estranho, estranho que foi contratado pelo Lucca. Então, estou confiante. Meu irmão deve saber o que faz.

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⏰ Last updated: Aug 18, 2014 ⏰

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Meu anjo. Seu anjo.Where stories live. Discover now