Vestia-se de laranja e amarelo, com discretas sapatilhas azuis. Dançava, solitária, no palco minúsculo. Piruetava de um lado ao outro, em um espetáculo imperceptível. Destruía-se a cada passo, bem como destruía o que estava ao seu redor. Paradoxalmente, essa destruição, essa dança frenética era o que a mantinha viva.
Em vão.
Seu público, insensível, não prestava o mínimo de atenção. Riam, conversavam, brincavam perante a luz de seu palco. Sabiam que ela estava lá, mas não a notavam – como se dançarina não passasse de uma vã presença.
Indignada, continuava a bailar ao som da chuva, do vento e das trovoadas. O público parecia mais atento à orquestra do que à ela. Ameaçou se matar por duas vezes, procurando resquícios de atenção.
Em vão.
Sequer notaram suas quase-mortes. Talvez se morresse de fato... Ou será que seria substituída imediatamente por outra dançarina invisível?
De repente, a luz.
A dançarina, envergonhada, encolheu-se em seu palco de cera arruinado. Sua luz, bela e dançante fora completamente ignorada; agora, aquele hedionda luz que vinha do teto, parecia encantar e alegrar seu ingrato público.
Uma menina veio em sua direção. Emocionada, a dançarina aguardou algum elogio. A garota ignorou-a, e a artista entendeu o que estava por vir. Em pânico, a dançarina se bruxuleou em uma última dança, uma súplica pela sua existência.
Em vão.
Num sopro, sua vida extinguiu-se. Tudo que restou dela foi um cheiro marcante e uma fina fumaça que ascendia em espirais.
Seu último ato.
Não houve aplausos.
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A Bela Dançante
RandomUm conto curto para quem curte um conto. (Na verdade é só uma experimentação de escrita, mas a verdade não importa.)