sobre corujas e montanhas.

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Disseram a Bokuto que sua vida seria cheia de obstáculos, não seria fácil passar por eles e sonhar demais era uma sina, mas como a criança teimosa que sempre foi sonhou a vida toda com coisas que não chegaria à ser realidade.

Coisas ruins e caminhos errados são tomados o tempo todo, asas de anjos não podem os salvar de cair no limbo, armaduras de prata não podem os salvar de queimar no fogo puro. Humanos são humanos, erram o tempo todo tendendo a sofrer consequências terríveis, e não foi diferente com Koutarou que logo cedo já era considerado a decepção de toda a família.

Disseram-lhe que ele era como uma coruja, voaria tão alto que poderia ter a vista do topo do mundo, mas havia montanhas para se escalar e nenhuma delas era fácil. Bokuto desistiu como e perdeu as esperanças tão rápido que era de se assustar, não iria conseguir e nem de longe queria continuar tentando e investindo em algo que estava fora de seu alcance. Sentia em seus ossos o peso do olhar em pura decepção que seus pais carregavam quando chegava em casa. O corpo coberto com feridas e os cabelos bagunçados, os punhos igualmente machucados porque aquele garoto não se aguentava quieto, qualquer palavra que o tirasse do sério era o bastante para uma explosão e em seguida uma inevitável briga, perdeu as contas de quantas vezes isso aconteceu.

Quando estava em seu primeiro ano na Fukurodani, teve o azar - ou sorte - de conhecer Akaashi Keiji. Foi do tipo amor à primeira vista por parte do platinado, aqueles que fazem o coração palpitar mais forte e uma vontade extrema de falar com a pessoa surge. Mas era tão unilateral.

Akaashi andava pelos corredores, conversando e sorrindo com o pessoal do clube de vôlei, rejeitava algumas garotas do clube de culinária e ajudava as do clube de jornalismo, sorria para o celular enquanto trocava mensagens com sabe-de lá quem, eram essas simples coisas que Bokuto observava o tempo todo que o fazia ir para as nuvens e sorrir para paredes. O jovem sabia que não tinha uma boa fama, nem em seu colégio e nos outros não era diferente, por mais que procurasse paz, sempre havia alguém em alguma esquina procurando acabar consigo.

No outro dia, quando entrou no colégio, sentiu-se como em uma peça de teatro em que era o personagem principal. Suas costelas doíam por conta da confusão do dia passado, seu rosto carregava um curativo que tampava o ferimento na bochecha. Todos o olhavam feio, alguns cochichavam sobre si e outros possuíam coragem o bastante para apontar e em seguida soltar risadas. Akaashi estava com todos os outros do time, e diferente de muitos seu olhar era diferente, carregava pena mas acima de tudo: desprezo.

Bokuto soube que nunca haveria nada entre ambos por conta dos malditos olhos que o encaravam nas aulas de matemática, a pena estava ali como se quisesse retirar o mais velho dali e cuidar do mesmo, mas o desprezo estava quase mascarado por trás deste sentimento, como se o levantador estivesse o dizendo o quão irresponsável e inútil era por entrar em problemas assim. Ele não precisava ouvir palavras duras assim de quem gostava, então apenas abaixava a cabeça e dormia o quanto podia.

- Precisamos de um atacante.

Foram as primeiras palavras que Koutarou escutou quando acordou. A sala de aula antes cheia estava agora vazia, o quadro completamente limpo e as mesas em seus devidos lugares. A sua frente, Akaashi está à sua frente, sentado sobre a cadeira, encarando suas pálpebras cansadas com um certo tédio no rosto.

- Perdão?

Respondeu confuso, o que tinha haver com aquilo?

- Se você tem força para bater em alguém dois anos mais velho, duas vezes mais forte e ainda sair vivo, você tem a força e a resistência de um atacante. - Moveu o corpo, se levantando e pegando a mochila, o sol já se punha ao longe e tons alaranjados pintavam o lugar com um bonito contraste. - Esteja no ginásio depois da aula amanhã.

por montanhas não atravessadas | BOKUAKA.Where stories live. Discover now