Capítulo 10 - Olá escuridão

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O velho senhor Takowskí, o carteiro da região sempre trocava nossas cartas e correspondências, o que acabava sendo um pouco incomodo para ambas as partes.
Ele era um senhor muito competente e simpático, mas o fato das casas serem completamente parecidas acabava confundindo a mente do pobre homem.

-Senhora White, tenho uma solução para o nosso pequeno conflito. -indagou alegremente o homem de sotaque engraçado. -Aqui está, o que acha? -perguntou o mesmo, retirando uma placa colorida de dentro da sua bolsa de couro.

-É uma idéia ótima senhor Takowskí. -minha mãe lhe deu um leve tapa nos ombros. -Mas, eu não tenho como pagar, Michael está desempregado e... -o gentil idoso a interrompeu com a voz firme.

-E quem está pedindo dinheiro mulher? Eu mesmo que fiz essa placa, meu pai era carpinteiro e pude aprender algumas técnicas com ele. - Takowskí sorriu. - Essa placa será útil para nós dois. Minha memória enferrujada já não é tão eficiente quanto a alguns anos atrás.

-Obrigada, o senhor é mesmo muito gentil. - exclamou minha mãe, com um sorriso largo e perfeito em seus lábios vermelhos.

A placa fora colocada no muro alto que cobria a pequena varanda, e lá estava até hoje.

Residência dos White.

·¤·

- Entrem. - os convidei, retirando a chave da fechadura e a guardando em meu bolso.

-Onde estão seus pais? - Rachel ainda se recuperava do cochilo tirado no banco apertado do veículo vermelho.

-Foram a uma feira de culinária em Westland. - respondi sem animação, indo em direção a cozinha.

-Então você está sozinha? - Rick tinha um brilho diferente no olhar, o que me deixou com um certo receio.

-É o que parece não é, Einstein.

-Você não tem irmãos? - Dylan observava um quadro com a foto da minha família.

-Tenho, viajou com meus pais. - revirei os olhos, ao vê-lo fuçando entre meus livros. - Agora chega de interrogatórios. Querem sorvete? - coloquei 5 taças transparentes sobre a mesa de vidro.

-Precisamos ir embora agora. Tivemos uma noite agitada. - Rick fez aspas com os dedos ao falar "agitada".

- Ah, então... Obrigada pessoal, por tudo. - coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha. - Principalmente a você Rick, se não fosse você nem sei o que teria acontecido no Jully's.

-Não se preocupe menina Sarah, mas quer um conselho? Se você trocar o spray de pimenta por uma katana acho que será bem mais eficiente. - o garoto arqueou as sombrancelhas.

"Menina Sarah?"

-Claro, como vou colocar uma katana dentro da bolsa  gênio?

-Chega de namoro, eu quero ir embora. - Josh o puxou pelo braço. - Até mais Sarah.

-Até. - acenei com as mãos.

Fiquei algum tempo parada na janela, observando a inexistente movimentação do local.

Após ver o carro virar a rua, tranquei a porta e subi para o meu quarto.

Eu estava sozinha,receosa...
Seria ótimo se não fosse péssimo.

Tomei um longo banho,deixei que as gotas de água quente deslizassem sobre meu corpo, retirando todos os resquícios de sangue que me faziam reviver os momentos de horror naquele beco.

Deitei em minha cama, me enrolei nos cobertores macios e tentei, sem sucesso dormir.

Os gritos de Phill, o latido do cãozinho, o sangue, o medo... Isso martelava na minha cabeça, fazendo o sono desaparecer.

Abracei Plop, meu ursinho de pelúcia e deixei as lágrimas enxarcarem meu travesseiro.

Ao abrir os olhos novamente me vi na mais completa escuridão. Abri a janela e pude ver que nas casas vizinhas não existia luz alguma também.

Olhei fixamente para as portas abertas do meu guarda-roupas e senti um frio na barriga.

-Tenho que sair daqui. -sussurrei para mim mesma.

Lugares fechados e escuros são as únicas coisas que eu realmente sinto medo.

Tateei o criado mudo a procura da minha lanterna, mas foi em vão.

A escuridão insuportável fazia meus olhos arderem, o desespero não ajudava em nada.

-Sarah...

A voz de Phill ecoou pela casa, um tremor tomou conta de mim.

-A minha imaginação está fazendo isso. - repeti inúmeras vezes para mim mesma, na tentativa de me acalmar.

Caminhei arrastando meus pés para não tropeçar, e após alguns minutos senti um liquído quente escorrer em minha perna.

Um vulto de luz passou em minha frente, e pude ver claramente o cãozinho deitado aos meus pés com uma expressão de dor.

Passos,passos,passos.
Grunhidos e respirações.

-Se acalme Sarah, por favor. - repetir isso só piorava a minha situação.

O cão crescia em minha frente, enquanto as luzes piscavam. Garras surgiam de suas patas negras, senti gotas de sangue atingirem minha pele.

Toc,toc,toc.
Três batidas na porta, alguém estava lá.

Como em um truque de mágica, todas as luzes da casa acenderam-se, e o cão e os barulhos desapareceram.

Lágrimas de felicidade deslizaram em meu rosto, mas eu ainda corria perigo.

Corri até a cozinha, peguei uma faca e me dirigi até a porta.

-Quem está aí? - gritei em tom autoritário, com a faca entre as mãos.

Um silêncio perturbador respondeu a minha pergunta desesperada.

-E-eu vou perguntar mais uma vez. Quem...

A maçaneta girou,fazendo minhas pernas falharem.

-Abre a porta Sarah, o pneu do carro furou. - era a voz de Rick.

Naquele momento descobri o verdadeiro significado da palavra "alívio".

-Vai me esfaquear White? - o mesmo ergueu os braços e arregalou os olhos, com um sorriso no rosto.
Sim, esse garoto sorri o tempo todo.

-Vontade não me falta. -joguei a faca no chão. - O que houve?

-Os pneus foram cortados. Todos. Estão cheios de furos, não sei como isso aconteceu.

- Eles não iam se furar sozinhos, alguém fez isso. - indagou Dylan, impaciente.

- Alguém como ele? - Rachel me entregou o jornal de duas semanas atrás.

"Piero Takowskí e Clara Grey: dois assassinatos em uma só semana. Vingança ou briga familiar?"

Frizei meus olhos para poder enxergar as letras miúdas.

"Phill Grey, filho do casal é o principal suspeito".

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