O Outro Lado da Vida

CAPÍTULO 20

Nesse momento nos entreolhamos e Dona Cecília toma a frente e fala.

Cecília: Bom Vera foi isso que nos trouxe até aqui, a Ariela achou a nossa cápsula do tempo, aquela que jogamos no mar há 43 anos.

Vera: Aquela que escrevemos nossas expectativas do futuro?

Cecília: Sim. Essa mesma, Ariela achou e está em busca de todas as gatinhas, com isso ela me achou e estamos em busca de todas as outras, ai tive uma pista de que você estava morando aqui e viemos atrás de você.

Vera: Por isso que vocês vieram aqui naquele dia que Getúlio não deixou que eu recebesse vocês.

Cecília: Isso. Nosso objetivo naquele dia era te encontrar por causa da cápsula e ai nos deparamos com o que estava acontecendo e por isso voltamos atrás de você.

Vera: É menina Ariela você está certíssima, a Vera daquela carta está muito, mais muito distante dessa que está aqui na frente de vocês hoje.

Ela respira fundo e continua.

Vera: Aquela menina cheia de expectativas, objetivos e sonhos morreu.

Cecília: O que aconteceu para ela morrer Vera?

Vera: Vou contar pra vocês o que aconteceu depois de nossa formatura no colegial e que me tornou a mulher que sou hoje.

Cecília: No nosso último encontro você estava grávida, com uma gravidez não esperada, porem aparentava estar muito feliz e de casamento marcado.

Vera: Quando terminamos o colegial eu já estava tendo um namorico com o Getúlio, ele se mostrava um homem maravilhoso, era lindo, educado, me tratava muito bem, se dizia apaixonado e com isso me envolvi cada vez mais com ele, até que engravidei, foi uma gravidez inesperada, eu não queria ter engravidado, porem estava apaixonada por ele, meu pai cobrou dele uma atitude por ter me engravidado, e a reparação do passo errado era o casamento, então Getúlio teve que casar, naquele encontro eu estava mesmo feliz por achar que algumas coisas tinham acontecido de forma atropelada só eu estava apaixonada e achava que iríamos juntos superar tudo e formar uma família feliz.

Cecília: Todos achamos mesmo que você estava feliz de verdade.

Vera: Foi só depois do casamento que as coisas mudaram de figura, Getúlio depois de casado mudou, deixou de ser aquele homem que era e se transformou, se viu preso em um casamento, com um bebezinho e uma esposa então passou a me tratar como uma escrava, meu dever era servir ele de todas as formas, como dona de casa e esposa.

Ariela: Que horror.

Vera: Ele passou a beber cada dia mais se tornando um alcoólatra, por culpa do alcoolismo ele perdeu o emprego e passou a não ter mais dinheiro para sustentar a casa e meu pai passou a ter que nos ajudar financeiramente para muitas vezes termos o que comer, porem meu pai não aceitava uma filha desquitada e falava que fui eu que procurei e que teria que agüentar, que não me aceitava de volta em casa e que se me separasse poderia me considerar órfã.

Cecília: Aquela era outra época a mulher não podia nem pensar em separação.

Vera: E então engravidei de novo, e de novo porem esse terceiro filho morreu após o parto por eu não ter me alimentado de forma correta durante a gravidez, e também por ter apanhado de Getúlio então meu filho adquiriu problemas e horas depois do parto morreu, depois tive mais um filho, tenho hoje três filhas o único menino foi o que morreu.

Guilherme: Como podem existir homens assim.

Vera: Fora as traições, ele sempre teve mulheres na rua, me traia na frente de todo mundo, várias pessoas me falavam, ele saia na sexta- feira e só voltava na segunda para casa e nesses dias eu tinha que me virar pra dar o que comer as minhas filhas, por esse motivo comecei a lavar roupa para fora, a fazer trabalho de faxineira na casa das pessoas, para ter como me sustentar e sustentar minhas filhas.

Cecília: Você foi muito guerreira.

Vera: Tenho muito orgulho de minhas filhas, com muita dificuldade consegui criar as três praticamente sozinha, pois o Getúlio ao invés de ajudar ainda atrapalhava, pois quando vinha em casa queria pegar o pouco dinheiro que eu tinha conseguido com o suor do meu trabalho, então eu tinha que esconder o dinheiro, deixava sempre um pouco, pois se ele não encontrasse nada eu apanhava então tinha que ter algum valor para ele comprar a cachaça dele.

Ariela: A senhora tem que ter muito orgulho da senhora mesma.

Vera: Foi muita luta aos longos dos anos, porem eu consegui, trabalho até hoje como faxineira diarista em algumas casas. Depois que Getúlio ficou velho ele melhorou um pouco, ficou doente hoje tem pressão alta mais mesmo assim continua com a bebedeira e as mulheres, nós não temos mais nada há anos, dormimos em quartos separados e só partilhamos da mesma casa.

Ariela: E suas filhas.

Vera: Elas não agüentaram mais conviver com o pai, a mais velha casou ainda cedo porem com um bom homem, a do meio se formou em enfermagem e a mais nova está fazendo faculdade de Fisioterapia, todas tem família e tenho lindos netos.

Guilherme: E porque a senhora não vai morar com uma de suas filhas?

Vera: Não quero atrapalhar, cada uma tem suas vidas, suas famílias e eu não vou ser um peso na vida de ninguém. Aqui e minha casa e eu tenho que ficar aqui eu sou casada.

Cecília: Deixa essas convenções do passado Vera. Que casamento é esse que só te faz sofrer, não tem porque viver uma vida de fachada, quer dizer nem de fachada porque a cidade toda comenta como e sua vida então você não precisa disso. Vem conosco?

Vera: Já disse que não quero atrapalhar ninguém.

Cecília: Você não vai atrapalhar, em morar comigo lá é só eu e Guilherme, ele faz faculdade e quase não para em casa, e eu também trabalho, você acabou de falar que também trabalha, nós podemos ajudar uma a outra.

Vera: Depois de velha me separando. Não, eu não posso.

Cecília:Você ainda tem muito pra viver e você pode ser feliz.

Vera: É melhor vocês irem o Getúlio pode voltar a qualquer momento.

Cecília: Vera quero que você saiba que não vou desistirei assim de você, eu fiz o convite e vou te dar um tempo para pensar, vou deixar meu número para você me contatar qualquer coisa e vou voltar aqui com você.

Vera: Agradeço por sua consideração porem minha resposta e não e acho melhor você não voltar mais aqui, foi muito bom lhe rever porem nossa conversa acaba nesse momento.

Nesse momento Dona Cecília abraça Vera que retribui nos despedimos e vamos embora.