XI

7 0 0
                                    

Levi havia aguentado mais do que uma criatura poderia aguentar naquela arena. Estava sangrando e cheio de ferimentos e Lucio ainda nem começara a suar, o céu também estava limpo, o que significava que o rei mal tinha usado magia. A forma primaria de Levi fora derrotado nos primeiros momentos da luta, depois o corpo nu, já restaurado, fora arrastado por todo o chão de areia para o delírio da plateia.

Sangue se misturava com o ar e o cheiro de ferro impregnava o local, cada parte de Levi estava ou quebrada, deslocada, arranhada ou sangrando. Lucio começara aquele combate com ódio e terminaria em uma humilhação pública para o homem.

- vamos – disse a voz irada de Lucio – levante, vejamos se vossa língua ainda continua afiada.

O homem se levantou ofegante, limpou o sangue que escorria por cima do olho, graças ao supercílio estourado. A plateia foi a loucura, estavam amando ver aquela criatura sendo torturada.

Levi olhou ao redor e o tempo ficou mais devagar, o mundo era silencio, ele olhou para o público. Diversas criaturas com os dentes rasgando suas bocas esboçavam algo grotesco que podia ser traduzido como um sorriso, suas peles vermelhas eram rubis em meio àquela arena de pedra. Criatura pequenas e patéticas, a escolha perfeita para o reino de Lucio.

- vocês são idiotas mesmo – gritou apontando para os pequenos demônios que logo se calaram – esta criatura não é um bom rei, nunca o foi, e vocês ai se vangloriando de uma reles execução.

A plateia vaiou.

- agradeceram quando ele matou o seu pai na sua frente! – apontou para Lucio, se o rei estava assustado não demonstrou – ELE NÃO É UM REI!

- cale-se – Lucio ergueu as mãos em concha e as nuvens começaram a se formar

- o verdadeiro rei fugiu, aquele garoto te matará Lucio – cuspiu sangue no chão ao dizer o nome do rei – e eu posso morrer feliz ao saber que o ajudei nesta missão.

A arena ficou escura, os céus rugiram e a expressão de Lucio era apenas uma carranca dos traços finos habituais. O vento mudou e o local esfriou.

- e aquela humana será sua ruina...

O mais estrondoso raio caiu sobre a cabeça do homem, areia foi espalhada por todos os lados, a velocidade era tamanha que algumas criaturas da plateia foram feridas, poeira foi erguida e, por um momento, o palco da execução se tornou neblina.

Quando a poeira baixou Levi, ou o que sobrou dele, estava deitado, queimando e com o dedo médio levantado em direção a Lucio. O corpo começou a dissolver e se tornar areia azul que foi levada na primeira brisa que passou.

- patético – disse o rei para si mesmo

As criaturas que assistiam não aplaudiram o ato, estavam caladas observando. O coliseu era sombra e a atmosfera era pesada. O rei observou, onde antes haviam sorrisos, agora eram caras horríveis de criaturas raivosas.

Não se sabe onde começou, mas se sabe que começou com um pequeno cochicho que foi crescendo e no fim se tornou uma revolta. Os demônios queriam descer e fazer sua própria revolução. Estavam pulando de seus acentos e cercando o rei, com ódio em seus olhares tão vermelhos como suas peles. Lucio não precisava recuar, aquilo não era ameaça suficiente para ele, mas precisava acabar com aquilo logo, portanto ergueu os dedos indicador e médio da mão direita na frente do seu rosto e apontou para a massa que se formava em sua frente com os mesmos dedos que erguera, mas com a mão esquerda.

- mil flechas – disse calmamente e mil agulhas de luz se formaram em suas costas apontadas para a massa de criaturas que parou de avançar.

No céu, outra formação de nuvens surgiu, estas eram roxas e mais densas que as de Lucio, trovejavam e o dia deu lugar a noite. As trevas dominaram a arena e as criaturas olhavam para o céu, até o próprio rei estava com a cabeça erguida, mesmo sabendo do que se tratava aquilo, aquele show sempre o impressionava. Um trovão ecoou por toda a terra de Infinit-flame, fazendo o chão tremer e as paredes da arena balançarem e soltarem poeira, era como se um gigante desse passos e a terra entrasse em agonia por cada vez que seu pé encostasse no chão.

Vitor Salavar - Os Quatro ReisWhere stories live. Discover now