— Máriooo, sai daí! — suplicou Luana, contorcendo-se na frente do único banheiro da casa. — Eu preciso fazer xixiiiiii!
— Mário, deixa a sua irmã entrar — ordenou Renata, que passava por ali com uma pilha de roupas recolhidas do varal. — Agora!
Ele não pensou duas vezes na ordem da mãe. Abriu a porta do banheiro e deu de ombros, enquanto a sua irmãzinha entrava correndo e a fechava exasperadamente. Renata não precisava gritar; sua voz firme já deixava claro que não devia ser contrariada. O garoto de apenas 15 anos era tentado a desafiar os pais. Sua pouca estatura revelava que ainda era uma criança, ou como sua irmã mais velha costumava chamar:
— Ô, pirralho! — gritou Lara, em frente ao seu notebook, que entreouvira toda a movimentação. — Já não disse para parar de implicar com a Luana?!
Mário engoliu com força, possivelmente se impedindo de ser malcriado, e marchou até a irmã mais velha. Ao avistá-la após abrir a porta do quarto, começou a gargalhar com gosto. Lara, não entendendo nada, aborreceu-se com a atitude dele.
— Coé, pirralho? — indagou tirando o notebook de cima do colo e colocando-o sobre a cama, de onde se levantou intrigada. Quando se irritava, seu sangue carioca aflorava. — Qual a graça?
— Devia se olhar no espelho — explicou o irmão depois de tomar fôlego e enxugar o canto dos olhos. — Você tá hi-lá-ria! — Então voltou a rir.
Curiosa, a garota saiu do quarto às pressas e caminhou até o banheiro, que já estava desocupado. Ao se encarar no reflexo do espelho, Lara se perguntou, por um milésimo de segundo, o que tinha acontecido com o seu rosto. Seus cabelos castanho-escuros estavam revoltos e ressecados nas pontas, enquanto seus óculos de grau — fora agraciada com miopia —, redondos e cinza, pendiam do lado direito do rosto. O gloss estava borrado na boca, pois acabara de comer bolachas para aplacar a fome. Tinha se esquecido por completo de qualquer outra coisa por estar tão atenta ao que fazia no computador.
— Por que não disse que eu estava parecendo um palhaço assassino? — perguntou Lara ao irmão, que não conseguia encará-la sem soltar uma gargalhada sonora. — Para com isso, Mário! — disse, mas também riu.
Suspirou e preparou-se para melhorar o estrago. Pegou o pente que deixava na prateleira do banheiro, com outros produtos de higiene pessoal, e começou a desembaraçar o cabelo. Apesar de tê-lo alisado há alguns meses, os fios eram teimosos. Sempre fora comprido e permanecera boa parte de sua vida preso em coques ou rabo de cavalo, até que cansou. Além de mais fácil de cuidar, Lara o mantinha solto a maior parte do tempo, apesar do calor do Rio, o que a deixava mais bela, de certa forma. Ela nunca acreditou de verdade em sua beleza.
Após o rápido ritual, o cabelo longo e escuro parecia bem melhor, teve que admitir para si mesma. Tirou os óculos e depositou-os em cima da pia enquanto lavava o rosto e o secava com a toalha. Após uma breve analisada, constatou que nada podia ser feito em relação àquela armação. Não tinha percebido até aquele momento, pois estava absorvida em seu trabalho final de biologia, porém devia tê-los entortado enquanto dormia. Tinha mania de se deitar de óculos e tudo, por mais que sua mãe sempre lhe advertisse, e ali estava o resultado!
A garota bufou. Odiava usar lentes de contato. Tinha apenas um par de óculos e, se os usasse naquele estado, seria motivo de chacota. Na escola, já tinham motivos suficientes para implicarem com ela por ser nerd, cdf, geek... Cada dia inventavam um novo nome.
Contra a vontade, Lara pegou as lentes de dentro da caixinha no armário da pia do banheiro e colocou-as nos olhos, sentindo o desconforto habitual. Fitou-se no espelho e não viu muita diferença na cor de seus olhos castanho-claros. Eles ficaram um pouco mais iluminados, com um toque aterrorizante. Piscou para o seu reflexo, mandou um beijo com seus lábios grossos e sorriu.
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Instituição para Jovens Prodígios - A Seleção (livro um)
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