IV

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Todas as gavetas estão vazias. Todas as memórias se foram, até mesmo as que pertenciam apenas a você.

Ele levou tudo...

As vezes, é como se nunca tivesse existido. Outras, dói tanto que sua partida parece maior do que realmente foi.

Ele deixou algo para trás...?

E dias vem assim, como uma maldição: hoje há amor, amanhã nada há.

Sim, ele deixou.

Há uma mancha negra e viva devorando tudo aí dentro,
E ela pulsa contrário ao seu pulsar.

Apague isso!

Não há porque chorar por todos os leites derramados.
Se o fizesse, um oceano haveria de brotar nestes teus olhos
castanhos...
E cachoeiras, e cataratas.

Há borrachas em todos os cantos, repletas de ais e coqueirais e vendavais e aventais.
São sentimentos de sombra e água gaseificada, como os teus.

Eles levarão tudo...
E deixarão um pouco mais.

Esses sorrisos inebriantes e os sufocos entre teus lábios,
Aqueles abraços de dinossauro e tudo ao que manteveram-se abituados.

E dias virão assim, como uma maldição: hoje há amor, amanhã...
Torta de limão.

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