29 • A volta para casa

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— Nick querido... eu queria te contar a verdade, mas como já disse, estava esperando um momento certo para isso...

Eu não estava bravo com Joana, como poderia estar? Entendi e compreendi toda a situação e todas as explicações que ela dissera. Depois deste diálogo, eu sentia que estava mais próximo de mamãe do que jamais estive na vida, senti que um grande passo foi dado e uma enorme barreira foi quebrada em nossa relação.

Joana secou as lágrimas, se recompôs e retornou a prestar total atenção na estrada escura em que estávamos.

— Sabe mãe... —  Eu finalmente disse algo. — Consigo entender e compreender tudo, de verdade! Me sinto totalmente agradecido e mais próximo de você como jamais estive. —  Sorri e coloquei a palma da minha mão esquerda sobre a sua mão direita que estava no câmbio do fusca. — Agora acho que podemos conversar sobre garotos juntos!—  comentei rindo para que finalmente pudéssemos mudar um pouco o clima dentro daquele carro.

Joana riu e pareceu ter ficado satisfeita com a mudança de vibe.

— E então filho, sem ser o vizinho da sua vó —  Ela revirou os olhos com um sorriso — , já esteve interessado em alguém?

— Bom, tem alguém sim... — Pensei em Vinicius — , mas você não vai conhecer... —  menti.

— Conta! — Mamãe pareceu muito jovem, sem ser algo forçado, mas algo natural e que demonstrava real interesse em minhas respostas.

— Vinicius! — respondi não ligando muito para a dor que sua falta me provocava.

— Mentira! — Ela fingiu surpresa. — Obviamente eu já sabia! Conta mais sobre ele, mas não como um amigo, mas... pera aí, Vinicius é seu amigo, Nicholas! — Agora sim ela ficou surpresa de verdade quando raciocinou sobre a situação.

— Eu sei! Mas mãe... ele é tão gentil, tão bonito... sinto vontade de apertar suas bochechas toda vez que ele abre a boca para dizer qualquer coisa!

— Por que você nunca mais falou dele? Vocês não são amigos?

Meu sorriso sumiu do rosto. Joana rapidamente notou e com sua preocupação de mãe perguntou sem hesitar:

— O que aconteceu, Nick?

— Bom, resumindo... ele meio que começou a andar com o pessoal do Clube de Esporte e aos poucos foi se distanciado de Gabi e eu... 

— É nítido que você ficou mal quando lembrou disso, querido, mas mesmo assim eu gostaria de ouvir da sua boca como você se sente com isso. — Joana tirou a mão do câmbio e a pousou sobre a minha que estava no banco.

— Me sinto traído sabe... as pessoas do Clube de Esportes são o tipo de pessoa que não vão com a cara de pessoas como eu e...

— Como assim não vão com a cara de pessoas como você, Nicholas? — ela interrompeu, retirando a mão de cima da minha e a colocando no volante em seguida. Suas sobrancelhas arquearam-se quase que no mesmo instante. 

— Bem... ai mãe... você sabe como são as pessoas da minha idade... idiotas e tudo mais...

— Eles falam alguma coisa pra você? Fazem alguma coisa? Nicholas, o que acontece? Vamos me diga! —  Mamãe ficou estressada. —  Agora estou ficando estressada!

— Mãe, não é nada do qual eu não possa ou consiga lidar! Juro estar tudo sobre controle... o que eu estava querendo dizer é que me sinto traído por ele estar andando com eles, sabe? — confessei, procurando fazer com que Joana recuperasse o fôlego. — O pior é que nem brigamos... ele simplesmente começou a namorar, ou sei lá o que, e se distanciou da Gabriela e eu! Mas enfim, nada do que eu não consiga lidar... Sinto saudade, mas sei que quem está perdendo uma amizade maravilhosa como a minha e a de Gabi é ele.

— Não quer que eu converse com a diretora, algo sobre estas pessoas que você comentou, Nicholas? —  Joana perguntou, ignorando completamente o que eu dissera sobre ter tudo sob controle.

— Está tudo bem... como eu já falei.

— Querido. —  Ela finalmente recuperou a calma. — Se é uma coisa que aprendi em todos os meus anos de vida foi que: quando o mel é bom, a abelha sempre volta pra colmeia! — Mamãe soltou um sorriso simpático. —  O Vinicius vai voltar, ouça o que estou te falando!

Não respondi nada, porém mergulhei profundamente em meus pensamentos. Relembrei no começo do ano, mais especificamente no primeiro dia de aula... dia do qual Vinicius dissera já ter sido amigo de Antoine antes no Ensino Fundamental, mas que tinha se distanciado pela pessoa horrível que Antoine se tornara, entretanto, vendo-o junto de novo deste antigo erro, será que o mel de Antoine era melhor que o meu? E se fosse, será que Vinicius se tornaria tão ruim quanto todos eles? Se foi uma coisa que aprendi em todos os anos de vida matriculado em escolas, foi que tudo pode acontecer durante um período de férias, e isso certamente era o que me preocupava.  

Mamãe e eu agora olhávamos atentos para a estrada a frente, ela esperando chegarmos em nosso destino, e eu, receoso a respeito do desconhecido do qual eu me submeteria em meu segundo primeiro dia de aula.



O melhor ano do nosso colegialWhere stories live. Discover now