Silêncio.

Dessa vez, nem um pouco confortável.

"Eu sempre..." Vitória começou, e Ana prendeu a respiração, mesmo que sem perceber, "Eu sempre pensei que algum dia tudo isso fosse passar, toda essa saudade e tudo que me lembra você sumissem, assim como você, bem, assim como você sumiu."

A morena conseguiu apenas abaixar a cabeça em concordância.

Não havia muito o que se falar.

"Pelo visto, e-eu..." As lágrimas e a bebida começavam a dar ainda mais sinais quando a cacheada tropeçava nas próprias palavras, "Eu me enganei. Depois de tanto tempo tudo ainda permanece vivo em mim, até mesmo o desejo que sinto por você. Sempre paro para pensar se alguém será capaz de substituir, se alguém me fará sentir tudo o que sinto por você, se alguém conseguirá me satisfazer como você conseguia. Às vezes eu me pergunto se é você mesmo que eu quero ou se é apenas uma grande vontade de ter você, mesmo depois de tantos anos."

Parte de Ana era só felicidade.

"E, sinceramente, Ana. Por Deus, eu espero que seja apenas vontade..."

Bom, agora já não era mais.

"Mas não é."

"Me desculpa."

"Eu só queria saber o que fazer com tudo isso aqui dentro, Ana. A vontade de gritar é grande mas a de sofrer em silêncio é ainda maior." Maneou a cabeça, voltando a olhar para um ponto fixo qualquer.

Ana viu sua oportunidade de aproximar-se.

"Sei que sou estúpida. Sei que, talvez, você nem lembrará do que estamos falando aqui hoje, aqui agora. Sei que nunca poderei reparar todos esses anos que estive longe. Mas, Vi..." sussurrou, tirando alguns cachos rebeldes do rosto da mulher, "mas, Vi... Me deixa compensar agora que eu tô perto..."

Vitória pendeu o olhar sob o sorriso doce e os olhos ternos da Morena. Apertou o olhar, mordendo a boca, afastando-se da morena mais uma vez, fazendo a Caetano suspirar frustrada.

"Eu sei que pode ser difícil de acreditar. Mas vou estar aqui para você. Da forma que você quiser. Mesmo que me queira apenas como uma colega, uma mera... Uma mera conhecida." Disse, com dificuldade em pensar em Vitória como apenas sua conhecida, "Se por acaso se sentir triste não vou descansar até te fazer sorrir. Se estiver cansada, desanimada ou com todos aqueles sintomas de TPM que te enlouquecem e me enlouquecem junto, vou tentar entender, te dar espaço se precisar e abrigo quando voltar. Se estiver com frio vou te aquecer, te colocar no meu peito e dormir contigo em meus braços, como fazíamos desde.... D-Desde sempre."

Vitória a fitava, os olhos ainda mais vermelhos, a boca trêmula.

"Se brigarmos vou pedir desculpas se estiver errada. Só lembra que eu te amo muito e que sou humano e falho, mas se tem alguém que tira o meu melhor, esse alguém é você, Vi... Você é o meu melhor lado. Se você pula, eu pulo, lembra?"

"Ana, eu não quero assistir esse filme. Que antigo! Só nossas mães assistiriam algo assim." Vitória, no auge dos seus 14 anos, dizia emburrada, "não tem nada melhor?"

"Para com isso, Vitória! Me disseram que Titanic é lindo e conta a história de um amor inspirador. Para com essa carranca."

Passaram a tarde assistindo o filme. Ana chorava sem pudor enquanto Vitória fingia não ter gostado por puro orgulho. Naquela tarde, Ana recebeu a notícia de que seu primo, Fernando, havia falecido.

Pôs-se a chorar e Vitória, como a melhor amiga fiel que era, ficou ao seu lado. Ou melhor, colocou Ana em seu colo e distribuiu cafunés.

"Vi, por que as pessoas se vão tão cedo?"

Quanto Tempo o Tempo Tem?Where stories live. Discover now