Cúmplices & Errados (Romance gay)

Capítulo Quatro - Herança

NOTA: Em alguns capítulos pretendo narrar sobre a visão de outros personagens, então tais passagens podem estar acontecendo no tempo presente, passado ou futuro. Quando essas passagens ocorrerem vou sempre indicar pra vocês em que lugar ela se encaixa na linha cronológica da história principal. Por isso se ao lerem vocês perceberem que já viram isso em alguma parte da história é porque ela está sendo narrada agora pela ótica de outro personagem.

Este capítulo é narrado por Igor Thomas Russel. - Os acontecimentos aqui relatados acontecem em duas partes, à primeira conta a história em que Igor conhece Jordan cinco anos no passado, os fatos aqui podem acontecer em qualquer período desses cinco anos; e a segunda relata os acontecimentos da noite e manhã de natal.

Guardar um segredo doí, asfixia, nos deixa frágil e não permite viver completamente todos os sentimentos e sensações. Ser e se sentir diferente magoa, fere e anula as possibilidades de agir como você mesmo. Estar vivendo uma mentira ilude, confunde e te leva a pensar que o mundo é injusto. Gostar de alguém que não se pode ter gera angústia, sofrimento e te faz odiar a si mesmo. Era como eu me sentia. Um rejeitado, que ansiava por amor, por afeto e por estar ao lado dele. Que era sem sombra de dúvidas o maior idiota desse mundo, que nunca percebeu minhas investidas, que nunca entendeu minhas palavras, que sempre me deixava de escanteio e me tratava apenas como amigo. O amigo que ele dizia ser o melhor, mas que ele não tinha confiança para compartilhar que era gay.

Eu sempre me sentia sozinho, incompleto e deslocado aonde quer que eu estivesse, mas em momento algum eu me permitia deixar isso transparecer, quando eu sentia que estava sofrendo demais com esse sentimento, com essa angustia, saía sozinho na esperança de afogar minha solidão dormindo com algum garoto, que estivesse disposto a apenas uma noite de sexo e nada mais, meu lema era pegar e não se apegar. Tinha um vazio existencial tão grande em mim, que eu tentava preencher isso com o prazer de unir dois corpos em um só. Era gostoso por uma hora ou duas, mas depois que cada um ia para sua casa o vazio voltava a me assolar. Sempre fui uma pessoa muito social, sempre fiz e fui às melhores festas, estava na presença de conhecidos e "amigos" o tempo todo, mas algo dentro de mim gritava que não era suficiente.

Era um sentimento esquisito e não fazia o mínimo sentido, porque eu era uma pessoa feliz. Meus pais mesmo separados podiam me dar o melhor de seus mundos. Nunca havia me faltado nada do que fosse material nessa vida, mas no âmbito emocional, nenhum de meus pais poderia se orgulhar de dizer que havia me dado tudo. Meu pai abandonou eu e minha mãe quando eu tinha seis anos, se casou novamente com um homem e me deu três meio irmãos adotivos, que eu via uma vez por ano. Minha mãe então responsável pelo sustento da casa começou a trabalhar no escritório de um senador, amigo dela de faculdade, e não tinha tempo suficiente para se dedicar a educar emocionalmente um menino triste e confuso sobre seus próprios sentimentos que não entendia porque havia sido abandonado pelo pai que dizia o amar tanto.

Eu acredito que a relação com meu pai depois que ele me abandonou foi muito influente ao moldar minha personalidade e determinar o que eu definia como sendo um homem que se dizia hétero, mas que sempre que a angústia e o medo de ser como meu pai de se instalavam em mim. Saía à procura de homens para aliviar minhas tensões. Era irônico porque esse medo só desaparecia quando eu transava com um homem, e eu já havia tentado de tudo para substituir essa situação desde transar com mulheres que meu atraiam muito, até a usar drogas pesadas que me tirassem completamente de mim, mas não era a mesma coisa a angústia voltava mais rápido e o medo de ser como ele parecia falar mais alto. Admitir que eu era igual a ele e que compartilhava dos mesmos sentimentos em relação a homens me causava desespero, me fazia suar, minha boca secava. Era quase que uma doença, ou um vício, eu sabia que em um mês ou em algumas semanas ele ia voltar e eu iria ter que procurar outra cara para me satisfazer.