Capítulo Único

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— Se arruma, vou passar aí em dez minutos.

Ele desligou o celular e eu fiquei surpresa com o aviso, afinal a gente não tinha combinado nada e não estávamos nada bem. A amizade da gente prevaleceu depois do término, mas ainda é complicado; pelo menos para mim, que ainda gosto dele. Suspirei, tirando a toalha do corpo e indo pegar alguma roupa. Escolhi uma camisa preta, grande e folgada, com um short de cintura alta e coloquei minhas havaianas. Penteei o cabelo e peguei minha bolsa, saindo do apartamento.

Fiquei poucos minutos na recepção, esperando Jairo chegar. Saí do prédio, dando um tchauzinho para o porteiro do dia. Entrei na caminhonete de Jairo e dei um beijo na bochecha dele. O moreno começou a dirigir em direção ao nosso antigo lugar e eu só conseguia prestar atenção no seu cabelo meio preso; depois que terminamos ele deixou o cabelo crescer de novo e conseguiu ficar ainda mais bonito. Filho da puta.

Não demorou para que ele parasse o carro no estacionamento do antigo Mc Donald's e a gente descesse, indo ficar na mala da caminhonete. Ficamos encostados, sem falar nada, apenas observando o sol se pôr e apreciando a companhia do outro.

— Eu sinto saudade…

Sua fala me chamou atenção. Eu não sabia se ele estava falando do nosso relacionamento ou da minha companhia toda semana para fazer esse tipo de coisa simples. Suspirei e mudei de posição, ficando de frente para ele.

— Do que exatamente?

— De tudo. — Ele fechou os olhos com força e suspirou — Sinto saudade de quando estávamos juntos, de ficar assim com você sempre que dava. Sinto sua falta na minha vida.

Abaixei o olhar, sentindo a dor em suas palavras. Eu também sentia falta de tudo isso, mas o que eu podia fazer? Nosso relacionamento não foi um mar de rosas e acho que se tentássemos outra vez, seria o fim da nossa amizade.

— Eu também…

— Por que não tentamos de novo? — Ele questionou triste —

— Não funcionamos bem como um casal e você sabe.

— Laisa…

Balancei a cabeça negando e me aproximei, dando um abraço nele. Sabia que ele entendia, mas não queria soltar nosso relacionamento. Mexi em seu cabelo, com o intuito de fazê-lo relaxar.

— Gostei do cabelo assim, combina mais com você.

— Você sempre disse isso.

— É a verdade…

Continuamos abraçados, mas agora estávamos deitados; esperando as estrelas aparecerem. Observar as estrelas era como um passatempo para os dois. Isso começou antes do nosso namoro; sempre que brigávamos, não só um com o outro, mas com qualquer pessoa, nos encontrávamos para ver o céu e relaxar. É algo nosso.

Pelo menos, era. Até que ele arrumou outra pessoa para fazer isso, enquanto ainda estava comigo. Sim, ele me traiu e não, eu não perdoei totalmente; mas eu também não podia viver remoendo o passado. Eu demorei a chegar a essa conclusão, afinal é bem difícil perdoar uma traição, mas é ainda pior perdoar duas pessoas que você ama por isso. Ele e minha irmã.

— Jairo, me explica. Por que minha irmã? Por que você me traiu?

— Laisa, já falamos sobre isso.

— Não, não falamos! — Respondi irritada — Você me deu uma desculpa esfarrapada e eu terminei com você e só!

— Laisa, eu não vou falar sobre isso outra vez!

— Você vai e sabe por quê? Porque você me deve isso!

Eu estava irritada, obviamente. As lembranças voltaram com força e era impossível não sentir raiva com isso. Não foi só a traição dos dois por terem ficado juntos, foi tudo junto.

Os dois juntos. Na minha casa. No meu quarto. Por sei lá quanto tempo.

E onde eu estava nesse tempo? Trabalhando ou estudando. Até hoje me sinto ridícula ao lembrar de tudo aquilo; como pude não perceber? Os dois viviam grudados, mas eles diziam que eu estava louca que fariam algo do tipo comigo. E olha só onde estamos, ele e eu terminamos pela traição e os dois ainda tiveram a coragem de continuar juntos por um tempo, esfregando na minha cara a felicidade deles.

Dois filhos da puta.

Levantei da caminhonete e fui pegar minha bolsa dentro dela. Eu não aguentava mais aquilo, aquela sensação horrível sempre que estava com ele.

— Eu não quero mais saber de você! — Gritei antes de sair — O motivo pra gente não tentar de novo é que você é um pau no cu! Não sabe valorizar quem tá contigo.

— Laisa, não fala isso, você tá me ofendendo! — Disse saindo atrás de mim —

— É? Que bom! — Falei virando para ele — É uma pena que você não sinta o que eu senti quando vi vocês dois juntos, não só na minha cama, mas também fazendo algo que era nosso!

— Você é louca! — Gritou —

— Eu sou louca? — Questionei me aproximando dele — Não, eu não sou. Eu só não aguento mais sentir amor e ódio por você. Eu ainda te amo, mas o que eu já passei com você transforma isso em ódio.

Os olhos dele ficaram arregalados, me fazendo rir fraco; por essa ele realmente não esperava. Balancei a cabeça, em negação. Aquele cara não seria mais nada para mim; ele ia sumir da minha vida, das minhas lembranças, da minha vida.

Peguei o celular na bolsa e pedi um uber, continuamos em silêncio até o carro chegar.

— Essa foi nossa despedida. — Falei entrando no carro — Nunca mais me procura. Tudo que eu sinto por você vai passar e eu vou perceber que tudo isso foi uma perda de tempo.

— Espera, não fala assim.

Fechei a porta, mas pedi para o motorista esperar um momento. Abri o vidro e sorri para Jairo.

— Eu te amo, mas você não merece esse amor. — Ri baixo com o óbvio — Você pode não merecer, mas desejo que seja feliz. De preferência, com uma mulher só.

Balancei a mão, dando um tchauzinho para ele e pedi para o motorista seguir para a minha casa. Suspirei aliviada, aquilo tinha tirado um peso de mim. Eu tentei não lembrar daquilo, tentei ficar numa boa com ele por tudo que já passamos, mas era difícil ver Jairo e não lembrar dele com Gabrielle.

Peguei o celular, mas a luz forte me incomodou e fechei os olhos. Logo senti o impacto e tudo ficou calmo. Nenhum barulho, nenhum Jairo, nenhuma Gabrielle e mais importante, nenhuma dor emocional. Acabou tudo isso, estou livre daquela dor; de um machucado que agora estava curado.

Acabou.




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