Peão do Destino (Assassin's Creed)

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     Apoiou os dedos numa das telhas e impulsionou o corpo para o alto, retirando os pés do peitoral da janela logo abaixo. Atingiu o telhado um tanto ofegante, subindo pela superfície diagonal até seu centro. Assim que os olhos confirmaram o panorama da rua do outro lado, retirou momentaneamente o capuz.

         A população bósnia se aglomerava ao longo da via percorrendo o Cais Appel, junto ao Rio Miljacka. Portavam bandeiras com as divisas do Império Austro-Húngaro, as águias imperiais tremulando por toda parte enquanto mais cidadãos eram atraídos às calçadas ao ouvirem o clamor de dentro de suas casas, num processo que parecia interminável. Pais traziam crianças pequenas em sua inocência; idosos – que muito já tinham visto aquele país mudar de mãos – vinham vagarosos em suas bengalas ou amparados por parentes. E, de cima do telhado, aquela outra águia, não tão nobre e ostentosa como a das armas austríacas, temia cada vez mais sangue inocente ser derramado com o que aconteceria em Sarajevo aquela manhã.

         Erguendo os olhos um momento para longe da rua, viu o prédio da Prefeitura a alguns quarteirões, erguendo-se imponente dentre as outras construções com sua arquitetura mais a fazendo parecer um palácio turco-otomano. Era retrato das contradições culturais daquela região do mundo, os belicosos Balcãs: a Bósnia possuía significativa população muçulmana, mais ligada ao antigo domínio turco; enquanto em nações vizinhas como a Romênia, de onde provinha aquele homem de capuz, guerreiros como Vlad Tepes, o “Empalador”, infamemente conhecido como “Drácula”, eram celebrados como heróis nacionais na luta contra os invasores otomanos. Diferenças que ainda colocavam irmãos contra irmãos naquela terra, fazendo verter sangue sem fim. Perguntava-se se um dia aquilo terminaria, se seriam um povo unido ou ao menos nações convivendo em paz...

         Sem louvarmos a crueldade de tiranos como Drácula, que era um maldito Templário, afinal de contas...

         Ao menos era para tal meta que lutava, entregando sua vida à causa. O Credo dos Assassinos.

         Estreitando os olhos, procurou afastar as divagações e observar o prédio da Prefeitura com a frieza tática necessária àquele momento. Pelo que sabia, e torcia para que os informantes estivessem certos, era o primeiro destino da carreata que há pouco partira da estação de trem e que em poucos instantes passaria pela rua do cais. Os recrutas da Mão Negra atacariam dali – os anos de experiência que possuía não o deixavam julgar o contrário. Um dos lados da rua era fechado pelo rio, reduzindo a margem de manobra da comitiva para que fugisse. Tão logo os inimigos surgissem, teria de agir rápido para impedir que atacassem o carro do Arquiduque. Mesmo conseguindo evitar o pior, um mero atentado sem sucesso já poderia se mostrar fatídico para a atual situação da Europa...

         Desde a virada do novo século, o continente mostrava-se imenso barril de pólvora prestes a ser aceso pela mão mais interessada. No caso, a mão dos Templários – a maldita “mão invisível” manipulando a História desde os primórdios. Os nacionalismos exacerbados, a corrida armamentista, a política de alianças... tudo servia ao propósito da cruz escarlate, aos preparativos do que os Assassinos recentemente haviam descoberto como “O Plano”. As fontes ainda eram escassas e incertas, mas o esquema envolvia empresários e industrialistas já conhecidos como membros da Ordem, tal como Henry Ford, Paul Warburg e Ransom Eli Olds – os criadores do conceito de “Guerra Mundial”. Um conflito devastador envolvendo todo o planeta, aparentemente, era do que os Templários precisavam para estabelecer um período de paz prolongada em que poderiam usar o sistema econômico capitalista para prevalecerem sobre todo o globo, tornando definitivo seu domínio sobre a trajetória humana.

Peão do Destino (Assassin's Creed)Where stories live. Discover now