Capítulo VII - Part I

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Desde que descobri que o meu pai estava vivo e aqui dentro, fiquei decidida que queria sair desse lugar e acabei não percebendo que existia a possibilidade de eu estar errada. E o pior disso tudo é que essa é a correta. Todos esses dias eu me deixei enganar pensando que ele estava vivo. Como eu pude ser tão burra a ponto de pensar que o meu pai gostaria de me ver sofrer!

Não sei como vou conseguir seguir em frente depois desses acontecimentos.

Eu fui capaz de matar alguém, me iludi pensando que meu pai estava vivo e ainda perdi uma amiga. Se eu me recuperarei disso eu não sei, mas está doendo muito e eu não tenho mais algo para me apegar. Eu não quero voltar para o estado que eu estava há duas semanas, mas acho que já estou e eu não sei como fugir disso.

Ignoro completamente as diversas vozes repetindo dezenas de vezes o que eu nunca fui capaz de imaginar. O antigo dono da Instituição é o enfermeiro Pedro. O homem que contei sobre coisas que nunca comentei com ninguém, o homem que fui capaz de confiar... ele me enganou. Teve a coragem de entrar nas nossas vidas interiormente mesmo depois de nos roubar das nossas vidas comuns e nos jogar aqui. Eu deveria ter suspeitado.

O rosto do homem parado em nossa direção não é desconhecido e não sou a única a perceber isso. Algumas trocam olhares assustados, outras curiosos e algumas nem dão tanta atenção. Olho fixamente para o homem na tentativa de usar os seus traços ao meu favor e funciona. Eu já o vi antes. As noites correndo pela casa para conseguir assistir os jornais de Torlan serviram de algo. O rosto do homem de cabelo preto e postura ereta e muito bem treinada não me engana! Ele é o próprio rei Lawton de Ávila. Mas o que um homem tão importante faz aqui nessa prisão?

Quase me esqueci de que ele é o dono disso tudo. O novo dono, como disse o coronel antes de beber aquele líquido venenoso na frente de todo mundo. Ele sabia que depois de contar o seu fim seria o mesmo, então deve ter dado a iniciativa antes dos outros. Seria bem pior, reflito.

Nunca passou pela minha cabeça a possibilidade de viver em um lugar cujo o proprietário é um rei, mas posso garantir que a Instituição é tudo, menos um palácio.

— Boa tarde. — o rei começa, mas não recebe uma resposta. O seu rosto permanece indecifrável, expressando absolutamente nada. Nem mesmo um mínimo de incômodo pelo silêncio como resposta das suas novas súditas, ou eu deveria dizer prisioneiras?

— Curvam-se sobre o rei! — ordena um homem desconhecido ao seu lado.

Todas obedecem pelo o que posso ver enquanto faço uma reverência desordenada. Não quero chamar atenção sendo a única estátua enquanto todas se curvam na sua presença. Quero ficar o mais invisível possível.

— Vocês devem estar surpresas pela minha visita. — ele diz em tom autoritário como o seu título exige. O silêncio permanece. O rei não parece gostar muito de falar. Ele observa cada uma de nós aos poucos, olhando cada detalhe do nosso corpo até passar para outra. Quando chega a minha vez de ser "analisada", ele olha profundamente para meus olhos como se estivesse procurando algo ou lendo a minha mente. O rei não deve ser um H, certo?

Ele caminha em passos lentos e volta a olhar para cada uma de nós. Repete isso inúmeras vezes até sermos dispensadas.

Esperava mais atitude vinda desse reizinho de meia tigela.

Não presto muita atenção nesse mundo de vestidos longos e pomposos, coroas, príncipes e princesas, portanto, não sou a melhor pessoa para comentar sobre essas pessoas e tentar imaginar o que o rei está querendo conosco. Eles costumam ser malucos devido ao peso de governar. Mas merecem. Geralmente não fazem muita coisa para a minoria, por isso não costumo sorrir ou acenar para essas pessoas. Até porque eu nunca me deparei com nenhuma.

Eu sei que não posso fugir e nem me esconder como eu costumava fazer na minha antiga vida. Ele está aqui e possui olhos por toda parte da Instituição. Fugir é impossível.    

— Vocês devem permanecer nas suas devidas alas até a segunda ordem. — ordena o rei através das caixas de som presentes também nos corredores.

Continuo meu percurso até a ala G com o uniforme cobrindo grande parte do meu corpo. Abro a porta girando a maçaneta e adentro o cômodo familiar em seguida. A primeira instrução que recebo do meu cérebro é correr para o banheiro.

Após alguns minutos tomando um banho de cabeça no banheiro que fede a esgoto, volto para o cômodo principal da ala e me deparo com Andressa esparramada no chão com o rosto virado para o lado que sou capaz de visualizar. Apesar dos olhos fechados ela nota a minha presença e acorda para a realidade, ficando com vergonha.

— Ai está você! — ela diz tentando quebrar o péssimo clima, mudando de posição. — Não nos falamos já faz um bom tempo... gostaria de saber se você está bem. — ela abaixa a cabeça quando termina de falar.

Está com vergonha de mim agora?

— Indo... obrigada por perguntar. — dou passos curtos até a minha cama. Por recebermos apenas sapatos e trajes corpo inteiro, penteio o meu cabelo com as mãos. — Obrigada por me respeitar nos momentos mais difíceis para mim. É a segunda vez que você faz isso e eu sou muito grata.

— Eu sei que você estava precisando ficar a sós por um tempo, todas nós precisamos disso às vezes. Mas agora você está bem, não é? — ela pergunta olhando fixamente para mim.

— Eu não sei, para ser sincera. Ainda é doloroso e difícil, mas vou conseguir.

— Olha... não sei como vou falar isso... eu só... eu só quero que você saiba que eu sempre acreditei em você. Eu sei que você não tem nada a ver com aquilo que aconteceu.

— Do que está falando, Andressa? — pergunto exibindo abertamente a confusão que a minha cabeça está criando. Eu realmente não estou entendendo.

— Na noite que Lily desapareceu, você foi culpada por isso, lembra? — agora é ela que está confusa pelo que parece.

— Culpada? Algumas pessoas me chamaram disso, mas eu... eu continuo sem saber do que você está falando. — por favor, explique isso.

— Tudo bem. Eu só preciso me lembrar de tudo, dês do começo... Depois que você mato... você foi levada para fora do Refeitório e nós permanecemos. Chegaram uns guardas e levaram a mulher ferida. Depois que terminamos de comer e estávamos prestes a voltar para as nossas alas, o caixa de som apitou e começou a emitir um discurso. Disse que foi tudo culpa sua, que as pessoas que foram levadas sumiram devido a você. Eu não acreditei nisso, mas muitas acreditaram e daí teve uma "confusão". Queriam você morta. Gritaram isso para as câmeras. Foi horrível. — algumas lágrimas surgem no rosto de Andressa, porém não caem. Ela luta para isso não acontecer. Eu já estou abalada e chocada demais.

Lembro-me como se fosse ontem o que a mulher que eu matei disse. Suas palavras foram diretas o bastante para eu entender que armaram para mim. E eu até sei quem foi. O representante do coronel morto. Nos barramos horas antes do entardecer. Ele não falou nada, mas aquela mulher me disse que ele tinha matado a namorada dela na sua frente e ainda disse que era culpa minha. Esse ele certamente é esse representante. Posso estar louca, mas estou certa disso.

— Está tudo bem. Isso já passou. — uso meus braços para envolvê-la em um abraço reconfortante. Por um momento, sinto como se estivesse abraçando meu irmão mais novo. Sempre que ele chorava eu o abraçava e o balançava lentamente para acalmá-lo.

— Eu ainda não terminei. Tem coisa pior.

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Oii genteeee,

O último capítulo da semana! Agradeço a aqueles que leram até aqui, muito obrigado, e eu espero que você tenha gostado do capítulo e de toda a obra. Se gostou, não se esqueça de clicar na estrelinha para fixar o seu voto e comentar a sua opinião, ela é muito importante para mim. Vamos interagir! :DD

Próximo capítulo está previsto para segunda-feira.


Aprisionada [PROCESSO DE REVISÃO]Where stories live. Discover now