Por Detrás das Águas

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– Vai ficar aí?

– Só mais um pouco, depois vou voltar pra casa.

– Entra na água.

– Não – respondi seriamente e depois voltei a fechar os olhos.

– Você parece um velho!

– E você uma criança.

Escutei ele rindo. Eu queria realmente saber quando aquele homem iria crescer de verdade. Nem dava para acreditar que tinhamos quase a mesma idade, eu nem sabia como ele tinha conseguido um emprego sério, do jeito que ele era.

– Amaro!

Olhei para ele. Chico na beira da água, apoiando os braços na terra.

– Não vai me deixar aqui sozinho, né?

– Vou sim.

Fechei meus olhos e senti água caindo sobre meu rosto. Respirei fundo quando ouvi a risada de Chico.

– Quer mesmo me irritar?

– Só quero te convecer a entrar.

– Desse jeito é que num vai conseguir – falei olhando para ele.

Chico voltou a nadar.

– Você era mais legal quando a gente se conheceu!

– Eu sempre fui assim.

Eu fiquei observando Chico e fiquei ainda mais irritado, pois eu tinha ficado com vontade de entrar na água, mas meu orgulho não me deixava fazer isso. Se eu disse que não ia entrar, eu não ia entrar. Respirei fundo, e eu que tinha chamado Chico de teimoso.

Quer saber? Fazia muito tempo que eu não entrava naquelas águas e faria bem me refrescar um pouco. Eu me levantei e tirei minhas botas e camisa.

– Eu sabia que você não ia me deixar aqui sozinho – falou Chico.

– Isso num tem nada a ver com você.

Abri o meu cinto e fiquei encarando Chico, que me olhava.

– Dá para olhar para lá?

Chico deu uma risadinha e virou de costas.

– Como se tivesse algo de interessante para ver.

Ignorei o que ele disse e tirei o resto da roupa. Coloquei tudo enrolado dentro do chapéu e entrei na água. Logo senti os meus músculos relaxando. Eu e Chico nadamos até a cachoeira e deixamos a água cair nos nossos ombros.

– Dá vontade de não sair mais, né? – falou Chico.

– É.

– A gente esquece de tudo que existe pelo resto do mundo. Todas as coisas ruins, todas as preocupações, todas as cobranças... A gente devia vir aqui mais vezes.

– Se vir sempre, num vai ser a mesma coisa.

Chico me olhou.

– É, você tem razão. Então a gente vem uma vez por mês, para relaxar de todo trabalho do mês.

– A gente? Já está me colocando nisso?

– Não quero vir sozinho.

– E por que tem que ser comigo?

– Porque só tem você para vir.

Chico tinha dado aquele sorriso besta dele, mas eu percebi que dessa vez ele tinha forçado. Ele ficou chateado com o que eu disse, eu tinha magoado ele. Muitas vezes eu me perguntava como eu conseguia entender Chico.

Por Detrás das ÁguasWhere stories live. Discover now