Encostamos o carro na frente da casa de vovó, descemos ainda sem as malas nas mãos, passamos pela cerca de folhas que separava a calçada do jardim e chegamos na porta prontos para tocar a campainha.

— Pode tocar você, mãe!

— Toca você, Nick!

— Não... eu deixo você tocar, Joana!

— Dá para pular a parte que vocês tocam essa porcaria de botão, abrem a porta e entram? — Uma voz surgiu do lado de dentro da porta de entrada feita de madeira envernizada com desenhos lindos esculpidos.

Nós dois nos olhamos, Joana com sua mão na boca cautelosa para não rir alto e eu com as minhas na gola imaginária da camiseta, na falsa esperança de ter algo do qual ajeitar antes de entrar.

Abrimos a maçaneta e demos de cara com a sala cujo assoalho brilhante serviria facilmente como um espelho na falta de algum de verdade. Na esquerda tinha a escada que levava ao segundo andar e logo a frente tinha um corredor que terminava na cozinha. Todos os móveis continuavam exatamente os mesmos desde a última vez que os vi, há seis meses atrás. Todos muito bonitos, detalhados e caros.

Mamãe viera de uma família, como posso dizer... cheia da grana, entretanto, Joana sempre quis conquistar seu dinheiro com seu próprio suor, então, durante minha vida toda vivemos de modo simples, sendo o único contato que eu tinha com a realeza — ou pelo menos algo próximo disso — era quando visitava a casa de vovó, o que era praticamente todos os dias, de todas as semanas, de todos os meses, de todos os anos.

Caminhamos em linha reta até chegarmos na cozinha de aspecto antigo, dado que vovó jamais gostara de mobílias em estilo moderno.

— Como foi a viagem, crianças? 

Vovó estava sentada numa grande mesa redonda que antigamente era branca, mas que amarelou-se com o tempo. Ela estava lendo algumas revistas de receitas, enquanto um garoto desconhecido — de aparentemente dezesseis anos — mexia algo dentro de uma grande vasilha em frente ao fogão.

— Mãe! — Joana "repreendeu" Amélia por tê-la chamado de criança na frente de uma pessoa da qual nunca havia visto antes.

— A viagem foi legal, vovó! — eu respondi, buscando manter um diálogo saudável enquanto tentava descobrir quem seria tal garoto misterioso preparando algo para assar. — Quem é ele? — perguntei apontando para o menino.

— Sou o Thomas!

E com um sorriso maior do que o do gato de Alice no país das maravilhas, ele largou o que estava fazendo, veio em nossa direção e apertou fortemente a minha mão e a de mamãe. Ele então voltou para onde estava, abriu um armário, pegou duas travessas de metal e começou a despejar a pasta beije em vários círculos separados um do outro.

— Ele é o filho dos Alcantara, os vizinhos da casa à frente — Dona Amélia esclareceu. — A família dele chegou logo quando vocês se mudaram no começo do ano.

A casa da frente tinha a fama — por algum motivo — de não conseguir manter uma família morando nela por mais de dois anos, desse modo, durante toda a minha vida que morei no interior e visitava a casa de vovó, acompanhei muitas famílias indo e vindo inúmeras vezes, entretanto, todas infelizmente sem nenhuma criança ou adolescente como morador com quem eu pudesse conversar.

— O que você está cozinhando? — mamãe perguntou ao Thomas.

— Cookies.

— Você sabem o quanto sou horrível na cozinha — vovó admitiu —, e como vocês chegariam hoje, achei que seria interessante cozinhar alguns biscoitos para recebê-los! Pena que ainda não estão prontos ainda...

O melhor ano do nosso colegialWhere stories live. Discover now