(1189 – 1191)
Giacomo entrou correndo na loja do pai, um comerciante de Palermo que trabalhava com lãs e brocados; ele comprava dos tecelões e artesãos e revendia em sua loja e nas feiras por toda a Europa. O rapaz brecou assim que viu o pai, o encarou, mas permaneceu calado, pois ainda não tinha certeza de como contar a novidade sem lhe causar um enorme susto. Vincenzo, seu irmão mais velho, o enviara justamente para dar a notícia, mas Giacomo sabia que o pai não iria gostar, pois a morte do imperador Barba Roxa colocaria o impiedoso regente, Henrique VI no trono do Sacro Império e sendo casado com Constança da Sicília, ele viria atrás do trono deste reino que era próspero e independente.
--- O que houve filho? - Giancarlo esticou o braço para que o empregado pegasse o tecido que momentos antes estivera examinando. - Podes levá-lo. - ordenou ao servo e depois tornou a olhar para o filho - O que aconteceu, Giacomo?
--- O imperador morreu!
Giancarlo começou a se sentir mal e o chão lhe faltou. Sentiu vertigem e procurou se amparar. Giacomo o ajudou a se sentar. O rapaz planejara tanto não assustar o pai, mas não conseguira. O velho respirou fundo apoiando-se em Giacomo.
--- Quem lhe contou?
--- A notícia acaba de chegar aos generais e meu irmão me enviou porque quer que reúnam a guilda, pois com a morte de Frederico Barba Roxa, Henrique VI passará de regente à imperador e certamente tentará colocar Constança no trono do nosso Reino da Sicília e vai querer nos subjugar, já que nunca lhe agradou o fato de sermos um reino livre.
O povo já se movimentava de maneira diferente. Não se sabia ao certo quem tinha espalhado a notícia, mas o fato era que todos estavam preocupados.
Tancredo I, filho de Rogério III, Conde da Apúlia, era então o rei da Sicília, um reino independente que havia passado por muitos problemas desde a morte do rei Guilherme II, o Bom, um soberano sem muitos talentos para a guerra, mas que mesmo assim teve seu reinado marcado por uma exemplar politica externa e que derrotara o grande e temido Frederico I, Barba Roxa.
Quando Guilherme faleceu em 1189, sem herdeiros, alguns defenderam que o trono deveria passar a pertencer a irmã de seu pai, sua tia Constança, que era casada com Henrique VI filho de Barba Roxa. Mas o sicilianos recusaram-se a aceitar que ela sucedesse ao trono porque era casada com um germano e isso significava jugo aos estrangeiros. Na época da polêmica sucessão, o arcebispo de Palermo liderou um grupo que apoiava Constança alegando que os direitos hereditários deveriam prevalecer. Outra parte da população ficou a favor de Tancredo I, primo de Guilherme II, também conhecido como Tancredo de Lecce.
Os que se opunham à Constança eram liderados pelo chanceler Matteo de Ajello, responsável pelo reino na vacância de um rei. Ele e seus partidários não aceitavam a esposa de Henrique VI no trono, por ser mulher e por ser casada com um germano.
O reino independente da Sicília, cuja capital era Palermo, tinha um invejado grau de desenvolvimento e era centro cultural e artístico da Europa, com as prósperas cidades de Siracusa, Trapani, Catânia e Messina. Também possuía uma parte continental que compreendia os ducados de Apúlia, Calábria, Nápoles e cidades importantes como Brindisi, Amalfi e Reggio. O desenvolvimento socioeconômico só crescerá desde o reinado de Rogério de Hauteville, um normando que, para conquistar a independência do reino, lutara contra os árabes e enfrentara muitas batalhas, inclusive com o Papa Inocêncio II. Rogério fora um rei dinâmico e empreendedor, modernizara o comercio e introduzira novos métodos de produção. Na ilha eram fabricados tecidos finos, lãs, brocados, manufaturavam o couro, fundiam o bronze e trabalhavam finos mármores e mosaicos. O Rei abrira os portos para o comércio marítimo com o Oriente, de modo que povos orientais e europeus de outras partes haviam se instalado na ilha que não distinguia raças ou credos, permitindo a liberdade de culto. Pessoas de todas as partes mantinham comércios, pequenas indústrias, moendas e até bancos. As Ordens Templária e Hospitalária tinham templos na Ilha da Sicília, que se tornara ponto de passagem rumo ao Oriente.
![](https://img.wattpad.com/cover/151677458-288-k526570.jpg)
YOU ARE READING
In Nomine Crucis
Historical FictionFicção baseada em fatos históricos. Cavaleiros no século 12 e 13, lutam por terras, por honra e em Nome de Deus. Cruzadas, Templários...