CAPÍTULO XV

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   As coisas acontecem muito rápido, é muito difícil acompanhar.

   Um ano atrás, eu estava no fundo do poço, agora estou no meu auge. A melhor parte do meu dia é quando eu leio relatos de pessoas que compraram o livro de fotografias e entenderam melhor como é ter depressão, ou relatos de pessoas em depressão que compraram o livro e perceberam que não estão sozinhos.

   Meu tio e minha mãe estão muito felizes com o meu desenvolvimento e com a repercussão do meu livro fotográfico, agora estava ficando reconhecido pelo estado inteiro.

   Muitas editoras voltaram atrás e agora posso escolher qual que eu quero.

   Alguns jornais locais quiseram me entrevistar, rejeitei durante um tempo até que se tornou um pouco impossível evitar os jornalistas.

   Me senti uma estrela de cinema quando peguei um jornal e uma matéria sobre o meu livro estava na primeira página, saí de casa á pé e reparei em alguns fotógrafos tirando foto de mim, porém não me importei e continuei andando caminho á escola. Na escola, o assunto era o meu livro, e Gabriela estava se gabando por ter sido a minha primeira cliente.

   Mas de tudo, o que mais me surpreendeu foi o meu pai ter ligado pra mim, com a voz incrivelmente mansa.

   Ele falou todo animado sobre o seu novo filho e em como a namorada dele é uma pessoa gente boa e que eu vou adorar conhecer ela.

   — Filha, você vai falar que eu sou seu pai nas entrevistas, né?

   — Ahn?

   — Você vai falar sobre mim nas entrevistas? Não esquece de mim não tá. Eu vi suas fotos, ficaram ótimas.

   — Obrigado.

  — Mas por favor, esquece do seu pai não, tá filha. Você está toda famosa, bem que podia devolver o dinheiro da pensar pra ajudar seu irmãozinho.

   — O dinheiro está sendo doado para uma ONG que ajuda pessoas em depressão, desculpe.

   Foi então que a voz dele mudou bruscamente, e ele começou a gritar.

   — Você é mesmo uma vadia igual a sua mãe, não tem jeito. Vai pro inferno, enfia esse dinheiro no...

   Desliguei o telefone, era demais pra eu ouvir. Me desmanchei em lágrimas, não acreditava no que havia acabado de ouvir do meu próprio pai.

   Meu telefone tocou de novo, atendi sem nem olhar quem era.

   — O que foi?

   — Eita caralho, sua voz tá muito ruim hein — reconheci a voz de Gabriela, não era meu pai me pedindo desculpas — tá tudo bem?

   — Não, não tá nada bem — eu fui sincera, não estava me sentindo bem.

   — Tô chegando aí na sua casa, aguenta aí caralho.

   — Tá.

   Ela desligou o telefone e eu fiquei sentada no sofá chorando sozinha.

   Até que a campainha chamou, e lá estava Gabriela com um pote de sorvete.

   Abri a porta e deixei ela entrar, antes que eu conseguisse falar alguma coisa a abelha rainha já havia começado a falar.

   — Você está com uma cara péssima pra caralho, pior do que quando terminei com o Tiago.

   — Você terminou com o Tiago?

  — Terminei, mandei ele pra puta que pariu. Mas preocupa não, eu já estou namorando de novo.

   Eu ri daquilo, era preocupante ás vezes e ás vezes era engraçado.

  Ficamos rindo e comendo do sorvete, contei para ela sobre o meu pai e ela me contou sobre o pai dela, ao menos eu ainda tinha a minha mãe.

  — Somos duas fudidas mesmo— ela deu uma colherada no sorvete— mas ao menos não somos mais fudidas porque temos amigas.

  — Eu sou a sua amiga?

  — Eu achei que você me considerava como uma amiga— ela fez a pose de ofendida, escondendo o riso.

  — E eu achei que você não me considerava uma amiga.

  — Achou errado então. No primeiro dia achei que você estava olhado demais para o meu namorado, aí fiquei bolada.

  — Ah para né! Eu só dormi a aula inteira e você achou mesmo que eu queria aquele zé droguinha?

  — Minha psicóloga disse que preciso melhorar muito a questão do ciúmes.

  — Com certeza você precisa melhorar isso, e com urgência.

   — Ah para que você tá exagerando.

  — Eu exagerando? Quem é você pra falar de exagero, hein Gabriela?

   Rimos mais um pouco, meu aniversário estava chegando e eu achava que não seria apropriado comemorar. Claro que as abelhas discordaram, elas queriam fazer uma festa grande, mas eu não queria fazer festa ou coisa do tipo.

   No final do ano eu iria para o Canadá, estava tudo resolvido, vou ficar praticamente minhas férias inteiras lá, e as abelhas já querem saber de todos os detalhes, e felizmente os pais delas não deixaram elas irem junto comigo.

   A vida estava estranha, inclusive estava aparecendo em jornais locais e na televisão local, minha caixa de e-mails estava lotada de pessoas literalmente implorando para que eu fizesse o ensaio fotográfico delas.

   Meu pai nunca mais me ligou, mas eu estava ficando com medo do silêncio dele. Tomara que ele fique apenas silencioso.

   

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