- Acho que você me ganhou... ou será que não? – Maria, Lucia e Nina encostaram na nuca de Morpheu.

- Ora, ora, não é que o garoto evoluiu mesmo – uma voz jovem vinha do pé das escadas, uma voz que Vitor conhecia.

Nas sombras sentia a forma do capitão do navio, ou de qualquer Merman, mesmo assim seus instintos diziam para atacar, ou talvez correr.

- Há quem diga que sua espécie está extinta – a voz de Morpheu era pedra raspando em aço – posso sentir sua verdadeira forma aqui, revele-se Doppengengar

- Sou uma caixa de surpresas velho – então pulou das trevas para a agua, formando ondas, seus instintos apontavam para faca curta na mão da criatura.

Começou o baile na agua, era esguio e mais rápido do que os monges na sala, desviava dos golpes de Morpheu e de Vitor com muita facilidade, quase não fazendo barulho quando se movia. Parecia estar em dois ou três lugares ao mesmo tempo, era muito rápido. Vitor sentia que os ataques da criatura se focavam mais nele do que em Morpheu.

Em um instante o Mermam desviou de Maria e Lucia chegando próximo o suficiente de Vitor, tão perto que pode sentir o cheiro de peixe que exalava e ver as formas humanoides que tinha. No entanto estava lá, parado o olhando fixamente.

- Ora, ora – disse aquela jovem voz – você me pegou mesmo

Mana sombria exalava das escadas, era Morpheu.

- Paralização pelas sombras, Doppengengar

Vitor prontamente deixou as três facas apontadas para a face da criatura. Sentiram a mudança para traços finos e um nariz mais fino ainda, usava rabo de cavalo e sorria. Vitor se lembrava desses traços, mas o que aquele verme estaria fazendo ali? E também conhecia esses poderes.

- Abel? – disse com mais certeza do que duvida

- Ora, ora – o sorriso era aparente mesmo nas trevas que se encontravam – ainda lembra de seu velho amigo, Salavar.

Sem pensar duas vezes Vitor avançou as facas contra o rosto do homem, atravessando carne, osso e órgãos.

- A raiva não te leva a local nenhum, Salavar – Morpheu caminhou em direção ao garoto, mas mesmo com a criatura caída não anulou a magia

- Ele não morre mesmo, acredite, eu já tentei outra vezes – Vitor sentia a mesma raiva que sentira na arena Golias – ele é de Infinit-Flame, o nome dele é Abel.

O corpo começou a se mover aos pés de Morpheu, resmungando e fazendo bolhas subirem, Abel se levantou, balançando a cabeça de maneira muito parecida como os cães fazem.

- Ora, ora, muito esperto, sem hesitar – os furos causados pelas laminas já estavam cicatrizando, quase totalmente fechados – o que vem agora?

- O que faz aqui, Abel? – a raiva o consumia como chamas negras

- Lucio me mandou, Salavar.

Sem pensar, novamente avançou as laminas em Abel, desta vez ao ponto de atravessar o crânio do homem que caiu e logo após se levantou, um pouco mais sério.

- Isto já está ficando irritante Salavar – deu duas batidas no ombro esquerdo, como que para tirar o pó, agua escorria pelo seu rosto – podemos subir? Esta espelunca molha-da está me transformando em peixe novamente.

Subiram, Vitor sentia a apreensão de Morpheu, o velho não recolhera a foice para as trevas e a mantivera flutuando ao seu redor, mesmo com a magia ativa.

Entraram na cabine reservada para os dois homens, Alice preferiu o quarto sozinha, assim evitaria o falatório dos marujos e teria sua privacidade. O quarto era bem iluminado, o suficiente, como dizia Morpheu. Havia uma beliche enferrujada, com colchoes finos e duros, mesmo assim era melhor do que seu quarto na caverna com Sirius.

Vitor Salavar - Os Quatro ReisWhere stories live. Discover now