Capítulo XVI

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No início deste conto de fadas, escrevi que a alegria foi conquistada a duras batalhas, e que este estado não persistiria.

Uma noite, Jorge embalava seu filho com uma antiga canção de ninar cantada por gerações sem fim.

- O Sol adormecerá

E a Lua surgirá

Trará descanso ao ser

Trará o sono para o meu amor.

Se surgirem as sombras,

Não tenha medo,

Papai aqui está,

E a Lua está a observar o mundo.

Ela é farol, ela é guia,

E pra sempre lá estará.

Canto aos reis de outrora

Canto aos meninos do passado

Canto ao filho meu

E canto à paz,

Dos tempos sem guerra.

Foi nessa ocasião em que começou a sentir-se enfraquecido devido à maldição. Colocou o bebê no berço e desmaiou. Leo começou a chorar e Roxana foi ver o que se passava. Jorge estava no chão. A rainha pegou o seu filho e, com lágrimas nos olhos, implorou por ajuda ao guarda mais próximo. Retornou ao quarto e devolveu o bebê, agora tranquilizado, ao berço. Ele segurava as grades com as mãozinhas e observava sua mãe pousar a cabeça de seu pai no colo.

O guarda voltou e trouxe com ele a curandeira. Esta pousou a mão na têmpora de Jorge. Pediu que o guarda prostrado à porta se retirasse, e ele assim o fez.

- Roxana, não é segredo para mim quem realmente és. Não se assuste! Foi Leonardo quem pediu que eu ficasse, pois a família real precisaria de minha benevolência. Pobre mulher! Sobre sua felicidade sempre houve uma sombra. Pode ouvir o vento?

Roxana estava nervosa e fez um movimento negativo com a cabeça. A velha senhora a olhou com carinho e paciência e disse-lhe:

- Aquiete seu coração, silencie suas vozes interiores para ouvir o que se passa ao seu redor.

Por todo o quarto retumbava a voz de Veronika proferindo sua maldição: Há de enfraquecer / À proporção do bem que semear.

- Não! – Disse baixinho, enquanto derramava sua cascata de lágrimas.

- Minha rainha, não há nada que possamos fazer. É uma maldição forte, alimentada por uma raiva profunda. Ela se utilizou da potência da alma para criar semelhante magia e isso a destruiu por completo. Palavras proferidas não podem ser recolhidas.

O rei se restabeleceu de certa forma, sem, contudo, retomar sua antiga vivacidade.

Um ano depois, o rei não conseguia mais levantar-se da cama e a tristeza tomara seu coração e seu olhar. Roxana nunca chorava na sua frente. Ela começou a perceber que o menor carinho que ele lhe dedicava o enfraquecia.

Seu filho, aos dois anos, caminhava vacilante pelo quarto, sorrindo, brincando e depois segurando no braço do pai, que pendia do leito.

- Papai...

Jorge o fitou com o olhar terno, fechou os olhos e não disse nada. Leo o incitava a falar, sem sucesso. Roxana entrou e para seu desespero, Jorge não respirava.

Silenciou seu coração... Há de enfraquecer...

- Palavras pronunciadas

Não podem ser retiradas.

O mal que trouxeste,

Oh! Vento, o afaste!

Peço por mim,

Pelo amor,

Pelo reino

E pela paz.

A Filha da SolidãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora