Bailarina Libidinosa - Fragmentos memoriais

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Olhos felinos, olhar desinteressado, sensual. Aliás, tudo nela é. Quem? Ora, a moça que baila.

Bailarina? Não, não.

Sim, eu disse que ela baila, dança lindamente. Rodopia incansavelmente com minhas emoções. Ah, tão linda. Gira, gira, gira, até me deixar tonta, inebriada, um furacão em minha cama (quando chegamos lá).

Anh? Sexo? Quem falou em sexo? Bobinha, você entendeu errado. Sexo não, dança! Dançamos...

Ela chega tarde, tem minha chave, quando não percebo pelo seu perfume, percebo pela música. Vai direto para o meu quarto, liga a música em tom mediano. Quando já estou no quarto, observo atenciosa ao ritual: solta o cabelo e deixa seu corpo acompanhar o ritmo da música, olhos fechados, respiração profunda, calma – por enquanto – vestido leve, embora curto, não faz jus à sua beleza nua. Me ignora por alguns minutos, como se eu não estivesse ali, entretanto, é um show particular e o foco sou eu.

Quando estou em outro cômodo, e percebo sua chegada, vou até a porta e observo em silêncio até que ela me perceba, ela já sabe que em algum momento irei para o quarto e a espionarei atenciosamente. Nos dois casos o desfecho é o mesmo.

Se transamos? NÃO, não! Dançamos!

Ela me olha, olhar fixo, nunca falamos nada, ela diz estragar o momento. Me observa, me atrai, lança um sorriso malicioso, despe-me. Lentamente tira minha camisola, fazendo-a deslizar até meus pés. Sinto cada centímetro de pele arrepiar, não sei se pelo toque macio do tecido, ou se pelo toque quente e delicado dos seus dedos. Olhos claros, talvez cinzas, se bem que, não me parecem ter uma cor definida, – para mim, cor de desejo – me fitam com excitação, da cabeça aos pés enquanto tira seu próprio vestido preguiçosamente, mas ao mesmo tempo de forma provocante, joga a cabeça bagunçando o cabelo, no ritmo da música, seus olhos continuam em mim. Queimo por dentro, me sinto molhar, anseio pela dança. Como sempre, ela apaga a luz, faz parte de seu ritual. A luz do poste entra pelos buracos do topo da cortina. Agora, não mais dois corpos nítidos, apenas silhuetas. Seu toque tórrido e decidido em minha cintura, encosta seu corpo ao meu. Suspiro. Ela me guia devagar, rosto próximo ao meu, hálito temperado, adocicado, cheiro de tabaco, com refresco de bala de hortelã. Minutos em silêncio, sendo guiadas tão somente pela voz rouca da cantora, passadas calmas pelo pequeno espaço vazio do quarto. Logo, os cheiros de seu hálito eram gostos em minha boca. Sinto a parede gelada em minhas costas nuas, e seus dedos dentro de mim. Gemido abafado pelo beijo, línguas dançando, travando uma batalha. Seu corpo pressionado contra o meu, ainda contra a parede – agora, não mais fria – sinto seu peito subir e descer bruscamente sobre mim. Prestes a desfalecer sob seus dedos, ela se afasta, me tirando o chão, o ar (ou a falta dele). Aumenta o som, agora um homem canta, penso ser francês, não sei, minha mente está uma bagunça por um gozo interrompido. Me puxa novamente, a rodopiar vagarosamente para fora do quarto, explora meu corpo com as mãos, com a calma incompatível à urgência de seu beijo. Dançamos, agora, na escuridão da sala, ouço mais nossa respiração – profunda – do que a música. Não esbarramos em nada, já sabemos onde podemos pisar. Ergue meu braço, segura na ponta do meu dedo, me gira 360° e me beija. Me ergue, me coloca sobre um móvel, deve ter tirado os porta-retratos estrategicamente, antes de ir ao meu quarto. Beija minhas pernas, a partir de meu tornozelo, até minhas cochas, os beijos se transformam, não mais pequenos beijos, ela traça sua língua subindo devagar, contudo, com certa urgência, após sua trilha ardente, me bebe. Quase lá.... Novamente, ela se afasta, – filha da p... – me pega pela cintura e me desce, sempre no ritmo da música, me guia até o banheiro, durante todo o caminho beija e morde meu pescoço, cravo as unhas em suas costas (unhas aparadas a pedido dela). Me puxa para o box, liga o chuveiro, a música agora é quase inaudível. Me beija, não, não.... Me devora de forma consensual. Sua mão sobe por minha perna; a água quente, o vapor, seu corpo inflamado.... Ela me adentra, arrancando um gemido extasiado, tão habilidosa em mim, quanto é no piano. Tudo gira, tudo explode, fogo, chama, calor, água, gozo, fraqueza. Beijo encerrado com uma mordida, chuveiro desligado. Cabelos pingando, voltamos ao quarto. Enquanto me visto, observo-a sob a luz, tão linda, tão angelical, coloca o vestido, em seguida tira o pequeno arco dourado do bolso e o coloca de volta no dedo anelar esquerdo. Me beija.

"Até amanhã?" Pergunto com medo da resposta, como sempre.

"Mal posso esperar". E assim ela se vai, me deixando com sentimentos e sensações tontas de tanto rodar.

Anh? Ah, sim, a história, não vou terminar. Você fica me interrompendo com essa história de sexo, não fazemos sexo, só dançamos. O contato físico é só um complemento da dança. Mas, você já me aborreceu, preciso tomar banho. Claro que não, eu não fiquei excitada, nem estava pensando em nada, é apenas um banho. Meu Deus! Já disse que você tem a mente poluída?

Talvez, talvez.... Hoje terei de bailar sozinha.

Bailarina LibidinosaWhere stories live. Discover now