Destino

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Eram praticamente três da manhã quando voltávamos para casa. Daniel dirigia com cautela dobrada pelas ruas quase desertas, meus olhos estavam pesados demais para perceber se estávamos ou não perto de casa. Ao som de Esmerald Eyes que parecia me embalar, fazendo com que eu quase adormecesse, eu amava aquela música.

O que mais me preocupava naquele instante era o silêncio de Daniel, ele permanecia assim desde que saímos do local.

— Bem, chegamos — disse ele saindo rapidamente do carro e dando a volta até abrir a minha porta e olhar em meus olhos. — Precisa de ajuda?

— Você fala como se eu estivesse bêbada. — O encarei de modo acusador.

— Na verdade você pode dar essa leve impressão quando está com muito sono... — O frio da madrugada me fez quase encolher ao tocar minha pele e ele permanecia onde estava, esperando que eu falasse alguma coisa. — Você vem?

Assenti.

Ele segurou em minha cintura o que me deu mais equilíbrio. Outros privilégios sobre sua adolescência era sua altura, não apenas isso, mas o Dan que conhecia parecia ter passado por uma metamorfose.

Depois de ter brigado durante alguns minutos com a fechadura de casa, o cheiro dela era tão familiar e tão vivo por dentro que me causava um leve aperto em meu coração. Era quase impossível não sentir uma sensação de vazio quando adentrava naquele cômodo dividido entre sala e cozinha.

— Você quer que eu fique? — perguntou, parecendo preocupado, pelo menos era o que seus olhos aparentavam.

— Não precisa — falei rapidamente —, eu consigo me cuidar sozinha.

— Eu sei como se senti, Grace. — Ele suspirou olhando bem em meus olhos enquanto passava os dedos levemente por minhas bochechas. — Consigo perceber há metros de distância.

— Agradeço por todo seu cuidado até aqui — falei e sorri de canto, desviando um pouco os olhos. — Eu não poderia querer um amigo melhor.

Ele sorriu, se juntando comigo no sofá velho cor de âmbar da sala. Suas mãos procuraram minha nuca e a massageava com a ponta dos dedos entre meus cabelos, fazendo com que eu soltasse um suspiro.

— O que achou da banda? — perguntei aleatoriamente, tentando acabar com o silêncio que vez ou outra pairava entre nós.

— São bons, mudaram minha opinião inicial sobre eles — respondeu em um tom convencido. — O vocalista pareceu gostar de você.

— Imaginação sua — falei franzindo o cenho diante de suas palavras —, acho que não tem como não fixar em um único ponto quando se está nervoso, eu mesma faço isso o tempo todo.

— Posso apresentá-los, se quiser.

— Claro que não, eu apenas gostei de sua música, mas nada dele fazia meu tipo.

— E qual é seu tipo, Srta. Grace?

— No momento nenhum! — Sorri enquanto me endireitava novamente em seus ombros e fechando meus olhos. — Mas você bem que seria um namorado e tanto.

Ele riu.

— É melhor você ir dormir, já está até falando besteira... — Sorriu beijando o alto da minha cabeça. — Boa noite, Grace.

— Boa noite, Dan.

De alguma forma minha cabeça estava se sentindo bem melhor do que antes. Não sei se por conta do conforto que Dan transmitia ou se pela chance de ter conseguido me distrair depois de alguns meses. Antes que pudesse cair no sono, lembrei da minha mãe, mas não como estava agora, mas de quando eu era apenas uma criança e seu instinto protetor estava sempre comigo. Lembro-me dela dizendo algo sobre encontrar alguém que cuidasse de mim e que não entregasse meus sentimentos de bandeja para o primeiro que me chamasse para sair. Seguindo seu conselho eu ainda não tinha ido para nenhum encontro e esse era um dos motivos para Dan sempre caçoar de mim, aquilo era realmente trágico. Mas não esperava um cara num cavalo branco com ótima postura, o cavalo podia até ser preto, tanto faz, só esperava alguém que realmente me fizesse sentir como eu me sentia com o Dan.

Realeza por Acaso (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora