— De novo? — Franzi as sobrancelhas. Ok. — Oi, Tamires. De novo. Você tem a lista de todo mundo que esteve aí ontem, não?

— Tenho sim.

— Você pode procurar, por favor, um Theo, Theobaldo, Theófilo, sei lá, alguém que comece com "Theo" no nome e passar o número dele, por favor? Por favor mesmo.

— Você não tem o Facebook dele?

— Não, Tamires, não tenho. — Se eu tivesse, não estaríamos tendo essa conversa, não é mesmo, querida? — Não tenho nada dele, só sei seu nome. — Mordi o canto de dentro da minha bochecha antes de continuar. — E preciso do celular, porque o que aconteceu ontem foi muito legal e eu gostaria de reencontrá-lo.

— Ai, olha, não posso te passar, não.

— Por que não? — Meu coraçãozinho afundou um pouco. Eu senti. — É questão de política de privacidade, proteção de dados pessoais, essas coisas? Porque eu juro que ninguém nunca saberá disso. E não usarei o número para nada que não seja falar com ele. Prometo. — Caminhei até meu armário e abri as duas portas para ver se conseguia pensar melhor olhando para minhas roupas. — Posso... assinar um Acordo de Confidencialidade, sei lá. E tenho certeza – mais ou menos – de que ele quer falar comigo.

— Não. Quer dizer, tem isso de privacidade, sim. Mas não é por isso.

— Então é por quê?

— Porque se ele não te deu o celular, ou o Facebook, ou o nome, ou o que quer que seja, é sinal de que não quer nada com você. Sério, é a coisa mais fácil do mundo ser adicionado no Facebook. As pessoas mantêm contato quando querem. Não vou deixar você ficar se arrastando atrás desse cara.

— Mas...

— É, moça, ele certamente nem lembra de você. Você precisa se valorizar, sabe? Precisa parar de se arrastar atrás dos homens — continuou seu discurso, emocionada. — Se você não se valorizar, ninguém vai. Ele que deveria ligar para cá para pegar o seu número.

O quão lindo seria se ele tivesse tido a mesma ideia e ligasse para o Sobradinho à minha procura? Mas ele jamais faria isso, era óbvio, porque ou me odiava por ter ido embora, ou sequer se recordava da minha existência.

— E eu te garanto que nenhum Theo ligou para cá até agora — Tamires continuou, categórica. Obrigada, Tamires, por ter arruinado meus sonhos e fantasias. Muito gentil da sua parte.

— É que eu fui embora sem querer! Porque o Tio Joca chegou, porque a mãe da Pipa não gosta que ela pegue táxi da balada porque tem medo... — tentei explicar. — Por favor, me passa o número dele. Eu tô me valorizando, pensa que eu que fui embora! Deixei ele lá me esperando. — Enquanto isso a culpa me remoía. Eu não deveria ter ido embora. Não deveria. Não deveria.

— Sim, parabéns, moça. — Ouvi três palmas irônicas. — E agora quer estragar tudo isso ligando para ele. Sério, o que você vai falar? "Oi, Theo, aqui é a fulana, a gente ficou ontem, lembra de mim?". Ele vai falar "não", e você vai ficar toda triste e humilhada. Para de correr atrás de macho, mana! Você precisa se libertar dessas correntes de submissão e encontrar na sua deusa interior o caminho para o empoderamento!

Preferi não dizer que minha deusa interior estava muito bem localizada, que eu era uma moça devidamente empoderada e justamente por isso estava indo atrás do macho em questão, em vez de ficar esperando por ele do alto de uma torre, como qualquer princesa passiva dos contos de fada tradicionais.

— Você precisa do feminismo na sua vida, senhora. — Tamires afirmou, e não pude discordar. Todas nós precisávamos. O tempo inteiro.

Trago Seu Amor em Três Dias (AMOSTRA)Where stories live. Discover now