Capítulo 27: Fazer sentir

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Fleur tinha consciência do seu vício pela morena. Mas, não era como se tivesse tentado resistir a isso.

Aos poucos, a preguiça e a sonolência abandonaram o corpo pálido e ela se levantou. A luz do sol estava fraca, penetrando através das surradas cortinas do quarto do chalé. Ainda fazia frio e ela, imediatamente, correu para o banheiro e despiu-se para tomar um banho quente. Demorou mais do que deveria, tentando fazer o calor da água penetrar em sua pele para aplacar a saudade que sentia do corpo de Hermione. Quando, finalmente, saiu, existia uma névoa de vapor circulando-a.

Fleur escovou os dentes ainda enrolada na toalha e voltou ao quarto, ao abrir a porta do guarda roupa para escolher as suas roupas do dia - uma calça jeans escura, botas de cano e salto baixo, uma blusa de lã e um pesado moletom de tricô verde musgo - um som contínuo e desconhecido rompeu o silêncio do chalé.

O som vinha do térreo e pela acústica, parecia estar próximo à porta do local. As rugas de confusão tomaram a testa pálida e a francesa terminou de se vestir enquanto perguntava-se da onde vinha aquele som. O mesmo parou por alguns minutos, o necessário para que Fleur se vestisse, antes de voltar a ecoar no silêncio do chalé à beira mar.

Dessa vez, a chef não perdeu tempo e correu pelo quarto e pelas escadas. No térreo, os olhos azuis vasculharam os pequenos cômodos enquanto a audição apurava-se para descobrir a origem do toque. Meros segundos tinham passado até que Fleur localizou o brilho da tela de um celular que não era seu. As sobrancelhas douradas franziam-se e ela se aproximou a passos lentos que divergiam, totalmente, da pressa anterior.

O celular de Hermione que ela esquecera, na pressa ao sair de casa, no início da manhã.

Fleur sabia que não existia espaço para aquilo, agora, mas, a insegurança voltou a tomar conta dela. Não uma insegurança em relação ao que sentia por Hermione ou ao comportamento da morena e sim, algo incontrolável que podia ser desencadeado ao atender aquela chamada. Uma chamada que, para agravar, não era destinada a ela.

A curiosidade, naquele momento, uniu-se à insegurança. Fleur tinha plena consciência de que as suas atitudes não eram as mais corretas, - atender ao telefone de alguém era uma invasão de privacidade, a francesa não queria ser uma daquelas mulheres que sufocam seus parceiros - contudo, a força que a magnetizou até a mesinha ao lado da porta foi mais forte, irresistível. O celular ficou preso nas mãos de dedos longos por mais uns segundos, na tela, brilhava o código de telefone de Londres.

Poderia ser algo relacionado ao trabalho, uma mentira que soou como verdade na mente ansiosa de Fleur. Sem pensar muito, ela aceitou a chamada e levou o telefone ao ouvido.

- Finalmente! Eu achei que, de novo, ninguém fosse atender!

- Pois não...? - Fleur respondeu cautelosa diante da voz feminina e desconhecida que a recebia. Não era a voz de Astoria, ela sabia que seria capaz de reconhecer o escárnio contido nas cordas vocais daquela mulher em qualquer lugar. Era um timbre mais maduro, ainda que aparentasse guardar certa jovialidade nele. Fleur não soube mais o que dizer e esperou alguma interação do outro lado da linha, tudo que podia escutar eram os cochinhos afastados do microfone até que a mesma voz perguntou:

- Esse ainda é o telefone de Hermione Granger?

- Oui! Digo, s-sim...! - As palavras saíram bagunçadas diante do nervosismo de Fleur. Aparentemente, a mulher do outro lado da linha conhecia Hermione, isso era um alívio assim como podia ser uma preocupação. Fleur não era ingênua diante da vida que a morena levara antes de Astoria e dela, também, não era surpresa que ela tivesse tantas moças interessadas. Hermione era apaixonante. Os suspiros do outro lado da linha trouxeram Fleur de volta e a pergunta incisiva pegou-a de surpresa:

La Petite Mort [FLEURMIONE]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora