Emma levou alguns segundos a processar a informação e no fim falou:

- Tens coleiras para gatos com brilhantes?

- Hmm… posso arranjar.

- Ótimo. Eu quero um gato mas o Zazza não me dá. Eu vou conseguir convencê-lo e quando conseguir vou querer que o meu gato ande sempre bonito.

- Compreendo. – Respondi, olhando para Tris pelo canto do olho. Ela come silenciosamente sem levantar os olhos do prato. Trocou para uma t-shirt de Zayn que lhe fica extraordinariamente larga e extraordinariamente sensual, o que me leva de novo ao nosso beijo estranho. Não que eu já não tenha beijado miúdas sem as conhecer, mas esta situação do ladrão vs. dama-indefesa foi inédita, e não posso dizer que desgostei. Na verdade a moça beija bem para caraças e se não fosse a pirralha eu já tinha saltado sobre os pratos da pizza rafeira para comer Tris de todas formas possíveis e imagináveis.

- Bea.

Ela desviou o olhar e levantou-se, colocando o prato na máquina de lavar.

- Bea, como está o teu braço?

Voltou a ignorar-me enquanto secava alguma louça que estava na banca.

- Posso ir brincar? – Perguntou Emma, baloiçando-se na cadeira.

- Podes. – Respondi secamente, vendo-a saltitar até ao quarto.

Aproximei-me de Tris, que estava de costas para mim, e enfiei os braços em torno da sua cintura, aprisionando-a contra o balcão.

- Não me ouviste a falar contigo?

Um arrepio – de medo? – percorreu o seu corpo e ela tentou, em vão soltar-se dos meus braços.

- Larga-me, imbecil.

- Bea, eu não te vou fazer mal. - Sussurrei, encostando o rosto na curva do seu pescoço. - Não muito.

- Tens três segundos para me largar: eu tenho uma frigideira e não tenho medo de usá-la!

Ri-me da sua ameaça ridícula, e sorri triunfante quando ela se virou de frente para mim, com os nossos corpos de tal forma colados que não hesitei em subir um pouco mais a mão.

Depois não me lembro de mais nada porque subitamente ficou tudo preto.

*

POV Tris

Oh deus, oh deus, oh deus. Eu matei-o? Pode matar-se alguém com uma pancada de frigideira na cabeça? oh deus.

Inclinei-me sobre ele e senti a respiração irregular, o que me acalmou. No máximo dei-lhe um shake qualquer no cérebro que o vai fazer ficar daltónico, ou amnésico, ou com distúrbios perceptivos, mas não morto, o que é aceitável.

 Sentei-me junto ao seu corpo inanimado e enterrei o rosto nas mãos, deixando o pensamento vaguear. Eu estou tragicamente atraída por um delinquente e isso faz de mim uma pessoa horrível.

Quando era criança gostava de levar uma quantidade considerável de bonecos para o banho e ficar horas dentro de água a brincar. Eu construía verdadeiras tramas amorosas que geralmente implicavam uma barbie linda e bondosa, uma barbie não tão linda e maléfica, e um action man musculado, corajoso, e geralmente nu porque era o meu único boneco homem e assim que perdia a primeira roupa não havia mais para substituir. Quando a minha mãe entrava no quarto de banho para me escovar o cabelo, eu punha o action man a dançar no casamento com a barbie bondosa, enquanto faziam juras de amor inocentes, sinceras e púdicas.

Mas quando a minha mãe saía, eu juntava o action men à barbie maldosa e metia-os a namorar. Sentia-me um ser terrívelmente desprezível e dizia em voz de barbie boazinha: "mas action men, ela é má, eu sou a bondosa, deves casar comigo, comprar um castelo e viver feliz para sempre ao meu lado", mas o gajo lá decidia ficar com a má da fita, mesmo sabendo que ela deitava lixo para o chão, mentia aos pais e maltratava gatinhos. Quando a minha mãe voltava, sentia-me culpada e envergonhada, e voltava à encenação.

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