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-O que está acontecendo?_ Jéssica estava aflita quando eu entrei no quarto. Ela olhava pela janela enquanto alguns pontos luminosos percorriam a floresta atrás da muralha. Felizmente nosso segundo quarto tinha também a mesma vista favorável.

-Eu não sei bem... Parece que alguém estava tentando fugir...

-O que será que vai acontecer se os caçadores os pegarem?_ Por que Jéssica precisava se preocupar tanto assim com os outros? No momento eu só me preocupava em não ser entregue aos caçadores por Gregorian Desmond, o caçador mais bipolar que havia visto na vida. Fechei a porta do quarto para não levantar mais suspeitas. Jéssica estava vestida com a camisola nova. Pude notar uma cuia onde um creme esverdeado e pastoso estava sobre a pequena mesa de madeira. Deveria ser o tal medicamento para as minhas feridas.

Sentei na cama. Agora não eram mais beliches, e sim duas camas de solteiro. Uma janela central, igual a do antigo quarto, e uma mesa baú no fim de cada cama para que guardássemos nossos pertences novos, duas camisolas e uma roupa extra de treino, uma cuia de madeira que servia também de copo, ataduras e uma toalha. A tina de banho ficava do lado oeste do quarto, junto com os produtos de higiene. Pelo menos não nos proibiriam de um banho dessa vez.

-Deve haver alguma penalização... Como nos mosteiros._ Jéssica se virou e caminhou em minha direção.

-Você sabia disso. Era o que tinha no papel, não era?_ Ela era mais esperta do que eu imaginava. Dei de ombros:

-E se soubesse?_ Ela passou as mãos pelos cabelos, irritada.

-Você devia tê-los impedido. Eles são caçadores, não monges. Com certeza as punições serão piores.

-Não tenho o direito de proibir ninguém, ainda mais quando se trata de fugas, é a minha área afinal._ Levantei o cabelo para que ela pudesse ver até onde iam as cicatrizes em minhas costas. Dez chicotadas, minha última punição por tentar fugir do mosteiro. Jéssica parou um pouco com o seu ar histérico e apertou o braço direito com a mão esquerda. Ela abaixou a cabeça e caminhou em minha direção.

-Desculpe, Elizabeth. É que eu me preocupo muito com essas coisas... Eu não queria ser assim...

-Mas assim não seria você._ Disse tentando animá-la um pouco. Ela estava claramente arrependida e até com um pouco com vergonha pelo o que disse. Estiquei-me na cama para pegar da sua mistura pastosa. Comecei a tentar passar sobre as minhas feridas. Ela se aproximou e começou a limpar os excessos.

-Deixe, eu termino isso._ Enquanto ela passava o medicamento pelas minhas feridas, estalei as articulações dos meus dedos.

-Pode ser que eles consigam fugir, mas se forem pegos... Talvez nem voltem mais.

-Você quer dizer que...

-Sim. Eliminados. Recebi uma dura pelas minhas respostas, por ser "rebelde", o que dirá para os aprendizes que fogem... Esse é o maior ato de rebeldia que pode existir em uma prisão como essa._ Ela terminou de passar o medicamento e limpou o dedo na aba da camisola. Caminhou em direção a sua cama e se sentou.

-E o que faremos?_ Comecei a retirar as minhas roupas, minha camisola aguardava em cima de minha cama. Dei de ombros.

-O que mais podemos fazer além de dormir? Esperar o amanhã seria muito cansativo, precisamos estar preparadas para qualquer coisa._ Ela suspirou e se cobriu com a colcha. Caminhei em direção ao castiçal da porta e assoprei as velas. O quarto se tornou tão escuro quanto o corredor dos exorcistas. Deitei-me na cama e fiquei imaginando o que poderia haver por aquele corredor, o tipo de treinamento que os exorcistas recebiam. Era tão secreto e sigiloso que eles não se misturavam conosco em hora nenhuma do dia.

Ignis Luna - Amostra Grátis Onde as histórias ganham vida. Descobre agora