– Passei a noite em claro, o que é normal, mas foi a noite que mais pensei sobre a minha vida e como ela não está bem. Só eu tenho poder de mudá-la, vou começar a partir de agora e o divórcio é o início para essa transformação. – Desabafo, me sinto muito leve por verbalizar a melhor decisão que tomei após casar com Fernando.

– Você não sabe como estou feliz em ver você se erguer, estou aqui para você minha amiga, ao seu lado em todas as suas decisões.

Rick com enorme sorriso vem me abraçar e com abraço caloroso inicio meu trabalho na D'Ávila e com a certeza que comecei fazendo a escolha certa. "Quando a felicidade bate na sua porta, deixa ela entrar". – Penso. Esse é o momento de ela fazer morada na minha vida.

Assim que encerro as reuniões e compromissos que tive que cumprir na D'Ávila retorno a cobertura, cada passo meu é decisivo para mudar meu futuro, agora não terá mais volta. Aviso ao Rick que amanhã não venho a empresa para que ele possa adiar todos os compromissos. Vou começar organizar a minha vida pessoal, tudo está muito claro agora, não é egoísmo me colocar em primeiro lugar, na verdade é preciso amar tudo em mim, amar cada pedacinho meu e agora eu sei, eu mereço ser amada e respeitada e homem nenhum mudará isso.

Assim que chego em casa encontro Lis ao telefone. A conversa já devia estar acontecendo um pouco antes da minha chegada. Ao me ver um enorme sorriso surge em seu rosto, ela acredita que o Fernando ligou para falar comigo, acho que ela tem mais esperança do que devia sobre esse casamento. Escuto ela falar animada com ele enquanto deixo minha bolsa em cima do sofá.

– Sim, menino. Pode deixar. – Uma curta pausa e ela volta a falar. – Ela já chegou, sim.

Não me surpreende, ele ligar depois de duas semanas e apenas perguntar se eu cheguei. Ele me enxerga como um pertence, – tenho hora para sair, para chegar em casa, tenho as pessoas selecionadas por ele para socializar, quando ele quer procurar a esposa para atender as suas necessidades devo está a sua disposição, mas logo me esquece minutos depois de ter conseguindo o que queria –. Eu permiti viver nesse círculo vicioso, mas agora eu posso ver o quanto isso me fez mal. Escuto a voz da Lis sugestiva ao conversar com o Fernando.

– O senhor deseja falar com ela? Posso passar para ela agora. – Lis Pergunta na esperança de que o Fernando e eu possamos conversar depois de duas semanas sem nos falarmos. – Tudo bem eu digo a ela então. – Mais uma pausa. – Tchau.

Mais uma vez ele consegue provar que não se importa como eu estou ou com o nosso casamento, meu coração não tem onde ser quebrado mais. Simplesmente agarro-me na esperança de que depois do divórcio dias melhores virão. Após encerrar a ligação Lis vem em minha direção com um sorriso de consolo, sei que vai tentar amenizar a situação, achando que esse casamento ainda tem solução, mas o resultado final é a separação.

– Laura, o Fernando me pediu para dizer que não tem data para retornar porque os problemas aumentaram no escritório de São Paulo, mas se precisar de algo pode ligar para o assistente pessoal dele. Acredito que logo ele estará de volta, minha menina. – Lis espera uma reação, mas não tenho.

A cada palavra dita pela Lis, acabo escutando a voz fria do Fernando, sinto-me triste, por mais que eu saiba que não devia sentir assim. Mas quando abri a porta do seu coração para outra pessoa entrar, você nunca espera que ela possa te ferir assim. Talvez esse foi o meu erro, um dos tantos, acreditar que com o Fernando tudo fosse diferente. Fechei os olhos, me deixei ser levada por ele por caminhos perigosos e sombrios. Cada ferida que me marcava nessa jornada meus pés não recuava para um lugar seguro, já que depois dele me ferir sua mão era estendida em minha direção e eu simplesmente aceitava, era um consolo, pois achava que ele me amava e que eu poderia muda-lo com meu amor e muita resiliência. Sinto-me com raiva do que eu vivi para ficar ao lado dele, ser a sombra de um homem que só me acrescentou cicatrizes de um relacionamento doentio. Saio dos meus devaneios, eu estou cansada de todos a minha volta me olhar com piedade, como a Lis está me olhando agora.

– Tudo bem Lis, obrigada por avisar. – Percebo que minha reação era algo que ela já esperava, submissa, mas dessa vez será diferente. – Você pode chamar o Vitor, por favor. Vou precisar de ajuda para levar algumas coisas ao carro.

– Sim, pode deixar senhora. – Ela saiu para chamar um dos porteiros.

Vou para quarto. Vejo as malas que arrumei ontem à noite enquanto chorava em minha crise de auto piedade, elas estão prontas para sair daquele lugar, assim como eu. Naquele lugar quantas vezes em um lapso de loucura implorei para ser amada? Quantas vezes fizemos sexo enquanto eu fingia que a cada toque dele era uma amostra do seu amor? Quantas vezes ele disse ali na cama que compartilhávamos depois que transava comigo que eu era fria enquanto fazia amor e que nem ele entendia porque estava comigo? Quantas vezes eu passei por essa tortura calada? Sinto uma lágrima solitária escorrer em meu rosto. Escuto Lis bate na porta, ao entrar no quarto seu olhar surpreso vão em direção as malas. Eu sei que no fundo ela deve saber o que está acontecendo.

– Trouxe o Vitor. A senhora vai viajar?

– Estou indo embora desse apartamento Lis. Vitor. – Falo agora olhando para o porteiro. – Boa noite, por favor, é para levar essas quatro malas para o meu carro.

– Sim, senhora. – O porteiro leva as malas em direção ao elevador.

– A senhora está indo para aonde? Laura você tem certeza? – Lis fala preocupada.

– Lis, está tudo bem. Vou continuar no Rio. Preciso de um tempo para mim. Vou te pedir que as outras coisas que estão no closet você coloque nas outras malas que amanhã cedo venho buscá-las. Obrigada por tudo, pelo carinho que você teve comigo esses anos, Lis.

– Minha menina, espero que você possa ser muito feliz. – Ela me abraça me trazendo paz.

– Todas as malas já estão em seu carro senhora. – Vitor surge lembrando que já passou da hora de eu partir daqui.

– Obrigada, Vitor.

Sigo em direção ao elevador. Mas antes lembro-me o que meu futuro ex–marido disse e viro-me para Lis.

– Lis, se o Fernando ligar, diga a ele que não ligue para o meu assistente pessoal e sim para o meu advogado, pois será assim que iremos nos comunicar até o final do divórcio. – Falo calmamente e sigo o porteiro até o Elevador.

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