— Você está rindo. — Elena se inclina sobre mim para bisbilhotar a tela do celular. Não percebi que estava sorrindo, mas ela conseguiu matar qualquer resquício de divertimento.
Guardo o aparelho e fico de pé. Acabei aderindo ao visual de "agente secreto", e prefiro não pensar muito no que esta escolha representa. Elena exibe todo o glamour de uma jovem no auge dos seus vinte e poucos anos. Seus cabelos trançados com flores azuis lembram uma bonita cascata, mas quando combinados com o vestido rodado e cheio de pedrarias vermelhas que está usando, transformam o conjunto em uma escolha berrante.
— Você está atrasada — pontuo. Estico o cotovelo e ela entrelaça seu braço no meu.
A parte de trás do vestido de Elena possui uma cauda — céus! — e suas pernas ficam à mostra na frente. Os olhares estupefatos das mulheres mais maduras não abalam minha acompanhante, tampouco os furtivos olhares masculinos. É um ponto positivo. Seja lá a mulher que estiver ao meu lado, o ideal é que não se deixe abalar por convenções.
— As pessoas estão nos olhando — cochicha melodicamente, apertando-se contra mim enquanto nos aprofundamos no salão. O contorno na lateral dos seus seios se molda na curva do meu braço tão naturalmente que me pergunto se é de propósito. — Acho que formamos uma bela equipe.
Elena diz a verdade, estão nos observando e suspeito que amanhã estamparemos a primeira página de algumas revistas eletrônicas de fofoca.
— Como vai ser? — murmura baixinho, acenando para um grupo de senhores que conversa em uma das extremidades do salão, próximos às sacadas, onde a festa continua.
— O quê? — indago, igualmente baixo.
— Como vamos nos apresentar? Eu sei que me convidou por educação e em respeito ao meu avô, mas você é o presidente! — A última palavra sai um pouco esganiçada, eufórica. — Não quero que passe vergonha.
De esguelha, analiso Elena. O teatro de menina inocente é perigoso, mas muito difícil de ser identificado. Posso não ter certeza do seu caráter, mas não a julgo caso esteja dando início ao jogo de poderes assim, tão depressa; é somente algo com o qual não gostaria de lidar hoje.
— Falaremos a verdade. Que você é minha acompanhante e está estagiando na minha empresa.
— Claro! — Ela solta uma risadinha, morde o lábio rosado e desvia o olhar. — Vovô ficou muito feliz quando soube que tinha me convidado. Ele anda preocupado por causa do clube, mas eu o tranquilizei. A Corporação Volkiov é tão acolhedora que sinto como se fôssemos da mesma família.
É muito diferente, penso. Minha relação com os funcionários é regrada, misturar trabalho com relacionamentos nunca termina bem. Mas meu lado interesseiro assume o controle e Elena é minha melhor aposta com o velho Kokorin. Ao menos até encontrar Serena Fajardo e entregar o dinheiro que for em troca daquele lote, terei que suportar as investidas — e decidir se levo isso adiante.
— Claro, quase da família. — Paro de andar, deslizo o polegar em sua maçã do rosto. O gesto a pega de surpresa e seus olhos brilham de felicidade.
É preciso tão pouco para agradar esta menina. Pouco demais.
Continuamos com as formalidades, passando por grupos que nos assaltam com perguntas indiscretas e piadas sobre dinheiro. Entre uma volta e outra, uma cena captura a minha atenção: Leonel, parcialmente escondido por um grande vaso de flores silvestres, conversa com uma funcionária. Embora sua atitude me pareça muito suspeita e inadequada, é na mulher que meus olhos se fixam.
É ela.
— Presidente! — exclama Leonel ao nos perceber por perto. Abre os braços e vem na nossa direção, cumprimentando Elena com dois beijos no rosto. — Che bella donna!
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Entre Acasos e Destinos | LIVRO 2 | DEGUSTAÇÃO
RomanceDEGUSTAÇÃO | DISPONÍVEL NA AMAZON | SÉRIE: Entre Amores: Família Volkiov. LIVRO 2 - Entre Acasos e Destinos (Vladimir e Serena). Ele se considera um monstro. Ela é o próprio caos. Eles não imaginam que seus passados estão entrelaçados, e que uma pai...
CAPÍTULO • 05 (Degustação)
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