Amanda

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-Filha, está pronta? – Marietta Rocha, uma senhora de 55 anos bateu à porta do quarto onde Amanda se arrumava para a Fogueira Anual da cidade de São João das Campinas. Todo ano, um final de semana depois do dia dos namorados, a cidade inteira se reunia na Clareira da Campina, no pé da montanha que acalentava a cidade como uma filha, para comemorar o dia do padroeiro da cidade. Este ano, porém, comemorado um dia antes, para reunir pessoas das cidades vizinhas também.

Toda a cidade se empenhava para ajudar de alguma maneira. A família Rocha, foi responsável pela decoração do local. Apesar de Amanda não estar muito em clima de festa esse ano, sua mãe não lhe deu escolha.

- Quase, mainha. -gritou de dentro do quarto torcendo para que ela não entrasse e notasse o desanimo estampado em sua cara. A casa Rocha era na entrada da Clareira, o que possibilitava para Amanda escutar o barulho da movimentação das pessoas chegando e a música começando a tocar para animar o ambiente. Como se estivesse esperando uma brecha, a jovem de 17 anos reembarcou nas memórias do último dia 12 de junho.

"Naquela manhã, Amanda Rocha se olhava no espelho com um sorriso largo no rosto. Os cabelos claros com alguns reflexos loiros aqui e outros ali, caiam sobre os ombros em cascatas onduladas. Os olhos castanhos brilhavam de felicidade. Sabe que dia é hoje, Amanda? Ela pensou. Hoje é o dia que tudo vai mudar com você e Dante. Completou seus próprios pensamentos. Há algumas semanas, se pegou planejando o que faria para surpreender Dante no dia dos namorados. Claro que contou com a ajuda de Karine Ferronato, sua melhor amiga. Karine havia ajudado a planejar a surpresa, sabia exatamente quais passos Amanda daria no dia e, ajudaria caso ela precisasse. Amanda conferiu novamente seu reflexo para ver se estava tudo ok. Estava usando uma saia preta, uma camisa listrada em preto e branco por baixo de uma blusa jeans amarrada à cintura. A mochila esperava em cima da cama com o livro de biologia e matemática ao lado. Quando teve certeza de que estava pronta, virou-se de costas para o espelho, jogou a mochila nos ombros e apanhou os livros sobre a cama saindo do quarto.

- Mainha, estou indo. -avisou a mãe que estava na cozinha arrumando algumas vasilhas do café.

-Espera! Espera! – Marietta jogou o pano de prato nos ombros enquanto corria até a filha que já estava a ponto de sair pela porta. – Me deixa ver como minha pequena está. -pediu levando as mãos à boca de surpresa quando a viu na porta.

- Que tal? – Amanda perguntou erguendo as mãos enquanto rodopiava, a saia fazendo um leve arco com o movimento.

- Ah minha filha, você está linda! A cada dia que passa ainda mais linda. -respondeu aproximando-se da filha e depositando um beijo em sua testa. – Promete que vai se cuidar?

- Prometo! – Amanda respondeu encostando o indicado no nariz da mãe como sempre faziam quando iam se despedir.

Naquele momento, Amanda Rocha irradiava felicidade. Se alguém a parasse ali agora e mandasse voltar para casa porque o dia não iria ser bom, ela ia rir na cara dessa pessoa e ia continuar saltitando pelas ruas. Todos que passavam por ela, sentiam a energia e felicidade que fluía do teu corpo.

Não estava no combinado com Karine, mas ela não iria aguentar até a escola para ver Dante. Mesmo que demorassem só dez minutos. Por isso, virou a esquina na rua Amarildo Diniz ao invés de seguir reto até o colégio e foi ai que seu mundo desabou. Dante estava saindo de casa com a mochila nas costas, ele olhava para a porta com o braço esticado para que a pessoa que estava atrás pegasse sua mão. E ela pegou. Karine Ferronato pegou sua mãe e o beijou nos lábios enquanto Amanda correu para se esconder atrás de alguns arbustos na esquina. E foi ali que ela soube, que Karine estava sempre disposta a ajudar para sempre saber quando ela iria se encontrar com Dante. Os olhos de Amanda queimavam de raiva e mágoa. Sua mente estava em um confronto incessante, um milhão de pensamentos e lembranças que agora faziam muito sentido. Ela esperou que os dois passassem pelo lugar em que ela estava escondida e correu para o lado oposto, voltando por onde viera. Achou melhor não chegar em casa com os olhos e o nariz vermelhos. Droga, seu corpo sempre a denunciava quando chorava. Então, ela foi ao seu lugar favorito na cidade. Um lugar que quase ninguém sequer sabia que existia. A pedra.

Amanda descobriu a pedra quando ainda era criança. Ela gostava de explorar a cidade e, quando a descobriu, soube de duas coisas. A chamaria de pedra, simples assim, porque as coisas nem sempre precisavam ser complicadas, e jamais falaria desse lugar para ninguém. A não ser que a pessoa merecesse. Enquanto pensava nessas coisas, seus pés seguiram apressadamente pelo caminho conhecido há anos. Sabe o que era mais incrível? A pedra permitia que ela visse toda a cidade por se encontrar no ponto mais alto que se podia chegar na montanha. E então, sentando-se na pedra, ela soube que estes últimos dois anos foram jogados no lixo. Dante nunca se importou de verdade com ela, porque se tivesse se importado, jamais iriam fazer isso. As lágrimas rolavam, agora com facilidade, pelo rosto. E, quando percebeu soluçava. Ela era nova e, provavelmente sofreria bastantes decepções mais para frente. O que a machucava era saber que as decepções vieram das duas pessoas que ela mais confiava."

Ok, Mandy. Ela pensou passando uma última vez as mãos no rosto para limpar as lágrimas. Suas sardas palpitavam nas bochechas, ela passou o rímel e forçou um sorriso. Quem estava tentando enganar? Depois de confrontar os dois, toda a cidade já sabia do ocorrido e, da noite para o dia, Amanda se tornara uma das pessoas mais comentadas da cidade. Ela respirou fundo suspirando no final e desejando que toda a tristeza fosse embora naquele suspiro. Chega de se esconder. Concluiu em pensamentos saindo do quarto e apagando a luz.

Amor de São JoãoOnde histórias criam vida. Descubra agora