Love Wings

Capítulo 21

- Não, não vou trabalhar hoje. Não. A minha tia pediu-me para ir tomar conta de uma miúda. Sim.

            Desliguei o telemóvel e pressionei o botão da campainha do infantário, aguardando. Uma jovem veio abrir a porta e logo lhe informei que vinha buscar a Emma, que apareceu passados uns minutos. Soube que era ela porque a minha tia me havia mostrado fotos anteriormente. A miúda era uma doçura autêntica.

- Olá Emma, muito prazer.

- Quem és tu? - Perguntou, desconfiada.

- O meu nome é Beatrice, mas podes chamar-me Tris. A dona Leila é a minha tia.

E foi o suficiente para ela abrir um sorriso, acompanhando-me até ao carro. Assim que entramos liguei o GPS, colocando a morada que a minha tia me havia dado no dia anterior: acabei por ir ter a uma zona reservada da cidade, a uma casa gigante e luxuosa.

- É aqui? - Perguntei, interrompendo o seu intenso monólogo sobre as razões pelas quais eu devo ver my little poney.

A miúda é mesmo engraçada, super faladora, o que vai tornar isto menos maçador. Há crianças que conseguem ser realmente irritantes, mas Emma é um amor.

- Sim, é. Estás a ver ali? É a minha casa da árvore, foi o Zazza que fez para mim.

- O Zazza?

- Sim, ele está a trabalhar, por isso é que estás aqui. Eu não tenho mãe, sou só eu e ele, como no nemo.

 Fiquei ligeiramente confusa mas evitei fazer perguntas, a minha tia disse que o patrão não gosta de gente intrometida. Entramos em casa e perguntei a Emma onde ficava a cozinha, preparando-lhe um lanche de leite e torradas. Por alguma razão que desconheço, sinto que o pai de Emma tem algo a esconder: ainda não vi uma única foto dele desde que cheguei e a minha tia disse que era expressamente proibido entrar no escritório e no quarto dele.

- Vamos brincar, Tris?

- Claro!

Rapidamente percebi por que razão a minha tia me dissera que ia ser um desafio cuidar de Emma, devido ao problema das suas mãos, mas facilmente nos entendemos. Emma mostrou-me a prenda que o pai lhe oferecera nos anos e acabamos por nos divertir imenso a dançar as músicas da Disney. De repente o som da campainha soou e parei o jogo, perguntando-me quem poderia ser.

- Fica aqui, Emma.

Dirigi-me à porta e perguntei quem era, sentindo um nervoso miudinho percorrer-me o corpo.

- É o tio, Emm, abre.

Respirei fundo e abri a porta. Um jovem com aspeto duvidoso e com uns olhos de um azul intenso e assustador olhou-me de forma confusa mas desprezível. Havia qualquer coisa nele que me dizia claramente que representava um perigo, talvez a intensidade da cor dos olhos, ou o sorriso cruel, mas ainda assim era uma mistura agradável de uma beleza agressiva e pouco comum e um certo misticismo malévolo que lhe dava um ar de criatura sobrenatural.

- Ei lá, e o meu maninho não pára... Quem és tu?

O que raio quer ele dizer com isto?

- Não sei o que pretende dizer com isso, mas eu vim substituir a dona Leila, hoje. - Respondi secamente. Sinto que há algo de tremendamente errado aqui e num gesto instintivo coloquei-me na ombreira da porta, impedindo-o de passar. - O seu irmão não está, quer que diga que passou por cá?

Um sorriso desenhou-se no seu rosto e eu senti o medo tomar conta de mim. Não era um sorriso meigo nem nada que se pareça, era mais um sorriso triunfante, de vitória.