Liana

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DEGUSTAÇÃO

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DEGUSTAÇÃO

ESTE LIVRO FOI RETIRADO CONFORME O PRAZO ESTABELECIDO, FICANDO APENAS OS PRIMEIROS CAPÍTULOS COMO DEGUSTAÇÃO.  EM BREVE O MESMO ESTA DISPONÍVEL NA AMAZON. LINK https://amzn.to/3iAA38h


A chuva do lado de fora do carro e o frio que fazia dentro não parecia ser normal. A sensação congelante vinha dos meus ossos. Com as mãos firmes no volante eu encarava o pequeno prédio a minha frente, mas o que enxergava ia muito além dos tijolinhos que compunham a sua fachada charmosa, ou até mesmo o jardim bem cuidado, castigado pela chuva torrente.

Eu me via em um filme de terror. Estava assustada. Aterrorizada, se quiser uma ideia mais exata. As sensações horríveis que evitei por tempo demasiado me causavam aquele mal-estar. Encarava o meu passado. O meu pesadelo ali, não na minha frente, não diante dos meus olhos, porém outra vez em minha vida no momento em que descesse daquele carro e fizesse a primeira curva em direção a àquele apartamento.

Meus dedos apertaram firmes o volante. As dobras esbranquiçadas e a respiração acelerada entregavam meu estado de espírito. Quis fazer algo que jurava ter me livrado: acender um cigarro, deixar a fumaça me envolver formando uma barreira de proteção. Mas não. Aquela não era mais eu.

Durante anos não fui a minha melhor companhia. Era difícil ser eu mesma quando tudo o que eu era causou a minha destruição. Na mesma medida não consegui ser boa com ninguém a meu redor. Era como se todos fossem culpados, ou possíveis culpados... futuros culpados.

Não dizem que a vida estabelece padrões que se repetem, e se repetem, e se repetem em um ciclo vicioso sem fim? Se no passado os culpados estavam lá, não seria ironia do destino encontrá-los no futuro, não?

Durante anos implorei a morte dos envolvidos. Depois me obriguei a colocar um véu escuro sobre os acontecimentos, e a guardá-los naquele fundo para onde nunca mais meus olhos se voltariam. Quanta inocência!.

Tudo fora arrancado de mim, minha infância, minha família, minha confiança e alegria, não me restava mais nada a não ser a própria vida e o que ela me deu de novo. Foi justamente por este "novo" que me esforcei, ou me enganei, fazendo-me aceitar que seguir era possível.

Nenhuma terapia impediu as dores que ainda existiam, nem os pesadelos que insistiam em permanecer, mas, durante um tempo, conseguiu me fazer olhar sempre para frente, nunca para trás.

Agora eu estava ali, encarando a chuva, tremendo, com raiva, medo, desespero, ansiosa por vingança, ou pelo ponto final. O momento em que, não só viraríamos a página, mas fecharíamos de uma vez por todas aquele livro macabro.

Havia um plano. Não perfeito. Também não era sequer seguro. Contudo era o tínhamos de certezas. E ainda assim eu estava naquele carro, incapaz de dar o primeiro passo.

O telefone tocou me sobressaltando.

- Liana?

O nome a tanto não utilizado me fez estremecer. Também tentei encaixotá-lo, enxotá-lo para o canto escuro da sala onde trancafiei as lembranças. Aquele momento eu me forçava aceitá-lo mais uma vez, principalmente por vir de quem vinha. Meu coração se acalmou um pouco mais.

- Tudo certo?

- Sim.

Forcei a voz a sair forte e segura. Foi assim que me trabalhei durante todos aqueles meses. Ele não se deixou enganar. Não fiquei surpresa, não seria fácil agir. Por isso enxergou rápido o que havia escondido atrás da minha segurança.

- Não vai desistir agora, não é? - Engoli em seco.

- Não. - Fechei os olhos buscando qualquer coisa que não me ajudasse a desistir. - Está chovendo.

- Você precisa continuar. - Foi firme. A voz seca e forte. - Por nós dois. Pense no que ele nos fez, no que nos transformou, ele...

- Eu sei! - Cortei seu discurso. Já o conhecia por completo. - Eu sei, Bruno.

Ele não se incomodou com o nome. Talvez porque este fosse o ponto em que se agarrava para continuar com aquele plano. Talvez porque era só o que restava de nós dois. Ele se prendia ao passado. Eu só queria me livrar dele.

- Não vou voltar atrás. Vamos pegar aquele maldito.

Seu silêncio repercutiu em mim por um tempo fazendo com que novos fantasmas aparecessem. Quando Bruno voltou a falar já não era mais ele.

- Vamos pegar aquele filho da puta! Boa sorte! Até amanhã. Amo você!

Desliguei e desci na chuva, decidida a dar continuidade ao plano. Era hora do show.

Sem PerdãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora