Degustação Pt 7

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Dias atuais – Três meses depois

Hoje faz exatamente quatorze dias que me despedi do meu amigo Alberto com um abraço, antes da sua partida para o exterior. Logo ele que há um pouco mais de três meses, antes do vexame na praça, eu ainda achava que seria meu marido e isso me arranca até um sorriso bobo acompanhado por um longo suspiro.

Pois percebo que estou vivendo um estado dúbio.

Hora estou bem, em outros momentos sinto falta daquela sensação de parcialmente pertencer a alguém, mesmo sabendo que não existia mais futuro.

Fazer o que se o amor ou a paixão é um vício tão forte quanto a dependência de comer doce? Costumes interrompidos machucam e isso eu já sei de cor. Sem falar que ainda existe uma possibilidade que só enxerguei após conversar com minha tia solteirona que tentou se apaixonar diversas vezes, nem todo mundo nasceu para ser feliz no amor.

— Pensando na vida, filha? – Meu pai me chama atenção enquanto observo as paisagens que o caminho para cidade me mostra.

— Um pouco, porque a vida é engraçada. – Ele estreita seus lindos olhos verdes como os meus e pelo que conheço dele, preciso contar mais um pouco dos meus pensamentos. — Ora, pai. Se algum vidente ou cigana me encontrasse na rua e me contasse que minha vida ia mudar de tal forma, eu não acreditaria. – Ele balança a cabeça concordando. – Hoje Alberto está no Canadá e eu aqui, quase chegando na cidade para morar contigo. – Ele dá risada.

— É minha filha, a vida é justamente assim, por isso temos que supervalorizar os bons momentos, porque mesmo que nossos planos não deem certo, nós deixamos flores no caminho. – Ele pausa um pouco e inclina o assento do ônibus. — Você é um exemplo, sua mãe e eu não demos certo, mas você existe e é uma bênção. Assim como seu irmão. – Concordo com gestos. — Alberto e você também não, mas tenho certeza que enquanto durou vocês foram bem felizes. – O observo, do jeito que ele franze a testa, dá para ver que meu coroa ainda tem coisas para dizer.

— Desembucha, pai. – Ele gargalha.

— Aline, eu sempre respeitei as suas escolhas. Mas estava apreensivo com seu provável casamento, não por desconfiar da índole de um menino que conheço desde criança, mas por querer o melhor para você que ainda nem fez vinte e um anos, pelo amor de Deus filha. Você viveu o que? Você precisa estudar e vencer na vida, assim como Alberto está fazendo. – Concordo com gestos e olhando para o hoje e a bolsa que consegui para estudar no melhor cursinho da cidade, percebo que realmente é necessário ter realizações pessoais.

— O Sr. Eduardo sempre tem razão. – Brinco e ele apenas confirma com gestos e eu me lembro de matar alguma curiosidade. — Me diz, as pessoas do cursinho são legais? – Ele volta a franzir a testa.

— Sou apenas o jardineiro paisagista, filha. Meu trabalho é deixar a área externa linda. – Meu pai gesticula para o nada como se estivesse ganhando tempo. — Tirando o diretor Diego e alguns professores, pouquíssimos alunos, falam comigo.

— Nossa, que horror. – Ele dá risada ao ouvir meu protesto.

— O cursinho é enorme, fica anexo a melhor faculdade particular do estado e só tem gente rica, é meio que normal não ser visto. – Não curto muito o que ouço e até me preocupo, será que também serei uma invisível no meio de tanta gente granfina? Sem falar que eu preciso de uma nova clientela, pois todo dinheiro que juntei no interior, gastei com a mobília para meu quarto novo, Deus me ajude.

— Será que os alunos vão gostar dos meus doces? – Agora que não mais trabalho, meus bombons serão minha única fonte de renda e eu não quero depender apenas do meu pai.

— Só se eles forem loucos, seus doces são maravilhosos, Line.

— Assim eu espero, pai. – Volto a olhar as paisagens e sinto um toque no meu braço.

— Vai ter uma festa amanhã de boas-vindas aos alunos do semestre, na verdade é da faculdade, você deveria ir, já vai conhecendo a turma, o que acha? – Balanço a cabeça em negativa ao mesmo tempo que recebo uma olhada que exala a frase "Você vai, só perguntei por educação."

— Tudo bem, pai. Já vi que não tenho escapatória. – Ele apenas gargalha e acaricia meu rosto.

— Sua escapatória é viver. Todas as fases de acordo com sua idade e isso é uma ordem.

Depois de me instalar no pequeno quarto do apartamento anexo do cursinho e faculdade que antigamente era destinado a uma equipe de funcionários, meu pai me convida para conhecer as dependências da instituição, alegando que não terá muito tempo nos próximos dias e eu aceito para o satisfazer.

O DIRETOR - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora