8 - Início da jornada

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     - Lago? - Jeor olhou ao redor deles, como se esperasse ver o tal lago de onde estavam.

     - Quando chegarmos ao lago, quer dizer que estamos na metade do caminho - explicou a raposa. - Vamos, não temos tempo a perder - gesticulou com a cabeça vermelha, caminhando em seguida na direção de um emaranhado de arbustos.

     A princípio, Guido e Jeor obviamente hesitaram. O choque de presenciar a transformação de Silvie numa criatura do Bosque de Antazes ainda os paralisava e as batidas de seus corações desaceleravam bem devagar. Trocaram um breve olhar que quase poderia ser considerado cordial e, dando um passo cauteloso de cada vez, seguiram a raposa mantendo uma distância segura do animal.

     À luz da manhã, o bosque quase poderia ser chamado de belo. Guido ficou impressionado ao ver o modo como os primeiros raios de sol pareciam acender as folhas verdes das árvores quando as tocavam, tornando tudo brilhante e vibrante, quase como num bosque normal. Não havia o cantar dos pássaros e os esquilos sacudindo os galhos, mas, naquele ínfimo momento, parecia haver paz ali. Guido sentiu paz. Enquanto caminhava ao lado do caçador, atrás da raposa, sentiu que estava fazendo a coisa certa e teve esperança. Desta vez, pensou ele, vou pedir que ela venha embora comigo. Mesmo que ela seja uma raposa mágica.

     Os três caminharam por entre as árvores e folhagens durante certo tempo, até que, subitamente, a raposa parou. Guido e Jeor também pararam e olharam para ela, intrigados. A raposa ergueu o focinho e farejou algo diante deles. Então, virou-se e bateu com a cauda no chão, espalhando terra e folhas ao seu redor, que revelaram uma série de fios dourados tecidos numa rede enorme a menos de um palmo de distância do trio. Os fios dourados estavam entrelaçados aos troncos das árvores e, até então, invisíveis a olhos nus. Eram uma armadilha letal para caçadores desavisados, pois cortavam qualquer tipo de coisa que entrasse em contato com eles.

     - Ouro da morte - sussurrou a raposa.

     Guido e Jeor olharam para os fios.

     - Ouro? - perguntou Jeor, interessado.

     A raposa o encarou.

     - Não o ouro que os humanos conhecem - ela explicou. - Isto aqui é enfeitiçado para parecer ouro, mas são lâminas iluminadas pela luz do sol. Se tivéssemos passado por aqui à noite, nunca teríamos visto.

     - Nunca? - Jeor pareceu perplexo. - Nem jogando terra e folhas como você fez?

     A raposa sacudiu a cabeça negativamente.

     - Como sabia que isso estava aí? - perguntou Guido, olhando atentamente para os fios dourados.

     - Senti o cheiro daquilo - a raposa gesticulou com o focinho na direção de algo a alguns metros a frente.

     Guido e Jeor olharam para onde ela indicava e ambos recuaram ao ver, numa pequena vala logo abaixo dos fios, partes de corpos humanos mutilados em processo de decomposição. Guido curvou-se para o lado e vomitou sobre um arbusto. Jeor cerrou os punhos com força, sem conseguir tirar os olhos dos pedaços de gente. A raposa aguardou pacientemente até que ambos se sentissem melhor; já esparava aquele tipo de reação da parte dos dois.

     - Vamos - ela disse, assim que Guido se levantou de cima do arbusto.

     - Há... há mais dessas coisas por aí? - estremeceu Guido.

     - Talvez - respondeu a raposa, fixando os olhos grandes nos dele. - Mas eu estarei alerta, então vocês não têm o que temer. Sigam-me e pisem exatamente onde eu pisar.

     A raposa desviou do emaranhado de fios pela esquerda e o caçador e o garoto a seguiram em silêncio. Quando esse silêncio se tornou incômodo, Jeor foi o primeiro a quebrá-lo:

A Raposa [VENCEDOR 'THE WATTYS 2018']Where stories live. Discover now