- Eu acho que o mel resultou na perfeição.

*

(Dias mais tarde)

POV Zayn

- Então, Zayn, como estás?

Fixei o olhar na psicóloga pois já ando aqui há tempo demais para perceber os supostos “sinais subtis” que nos dizem quando estamos a mentir. Esta é mais uma das consultas rotineiras que tenho de fazer de vez em quando pois Niall e Susan, após a morte de Jullie, acharam que eu “não estava bem” e que deveria falar com alguém. É claro que não lhe contei que matei alguém, apenas lhe dei uma visão romantizada dos acontecimentos: eu apaixonei-me por uma pessoa que traiu a minha confiança.

Depois da morte de Jullie, quando todos pensaram que ela partira subitamente para uma viagem pela Europa, deixando-me perdido (e partido) de amores por ela, toda a gente dizia a mesma coisa: é uma questão de tempo até tudo ficar bem. Pressupunham apenas que era a dor já costumeira de um amor não correspondido, talvez, quem sabe, fruto de uma traição qualquer, diziam eles, ignorando o facto de ela estar três palmos abaixo da terra por ter raptado a minha pequena Emma, o que só fazia com que essa dor fosse infinitamente maior, e esse tempo infinitamente mais longo. “É uma questão de tempo” é a pior expressão inventada até hoje, e todas as suas tristes variantes que fazem com que o tempo pareça uma espécie de medicamento milagroso capaz de curar o mal em toda a sua extensão. Sem querer descredibilizar o poder curativo do tempo…eu quase perdi a minha filha, fui enganado pela mulher que amava e levei um tiro, tudo no mesmo dia. Não é uma questão de tempo até tudo ficar bem porque nunca, nem com todo o tempo do mundo, eu vou voltar a ficar bem.

O tempo não apaga a dor, apenas a torna menos prioritária, por isso talvez eu venha algum dia a ficar menos-mal, ou um-pouco-mais-perto-de-bem.

 É por isso que eu espero.

Clareio a voz e respondo com firmeza:

-Estou bem, obrigado.

*

- Flash back on -

            - Mr. Malik, é quase cruel trabalhar para si.

            Ergui os olhos do computador e olhei de forma interrogativa para Jullie que me sorri provocadoramente. Ela está sentada mesmo à minha frente, deslizando os dedos cheios de anéis pelo tablet. É realmente deslumbrante. Trabalha aqui há algumas semanas e eu sei que estou profundamente vidrado nela, o que não pode ser bom. 

            - Porquê? – Perguntei, sorrindo de volta.

            - É desconcertante trabalhar com alguém tão bonito.

            O meu sorriso alargou e arregalei os olhos perante a sua ousadia:

            - Miss Candess, costuma dizer isso a todos os seus patrões? – Perguntei, divertido.

            - Não, só aos que conduzem o meu carro de sonho. – Respondeu, fazendo uma careta.

            - E aos que a convidam para jantar?

            Esse foi o primeiro de muitos.

            *

            (meses mais tarde)

            Jullie está sentada num banco do jardim com uma revista sobre as pernas: vai levando o dedo à boca para virar a folha mais facilmente, e apesar do meu plano original passar por observá-la mais um pouco, acabei por não resistir, caminhando na sua direção e surpreendendo-a com um beijo.

Love WingsWhere stories live. Discover now