Escrevendo#18 - Narrador

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Um gigantesco ponto de interrogação paira sobre o escritor quando o assunto é o narrador. É ele que vai moldar a percepção do leitor e guiar toda a jornada da trama. Então, trate de escolher a melhor opção para a sua obra.

Para te ajudar no processo, eu compilei uma lista com os tipos de narrador, classificando-os de acordo com suas finalidades dentro do texto

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Para te ajudar no processo, eu compilei uma lista com os tipos de narrador, classificando-os de acordo com suas finalidades dentro do texto.

Quanto a pessoa e sua interferência:

Primeira pessoa( Narrador personagem): Participa da trama, seja como o protagonista ou como secundário. Apesar de manter um foco no "eu", às vezes pode recair na terceira pessoa quando o narrador relata sobre a vida de outra pessoa com o qual compartilha o mesmo universo.

Exemplos:

"Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus." (Dom Casmurro, Machado de Assis)

"Essa é a história de um amigo de um amigo meu..."

Terceira pessoa( Narrador observador): Relata os fatos como uma entidade à parte naquele universo. O uso do "ele" é muito presente.

" Rubião é que não perdeu a suspeita assim tão facilmente. Pensou em falar a Carlos Maria, interrogá-lo, e chegou a ir à Rua dos Inválidos, no dia seguinte, três vezes; não o encontrando, mudou de parecer. " ( Quincas Borba, Machado de Assis)

Segunda pessoa: Através desse foco narrativo é estabelecido um diálogo com o leitor. É muito frequente o uso do você. Já vou logo dizendo que é insustentável escrever um romance todo nesse estilo, só funciona naqueles livros em que você escolhe os rumos da história.

Mas a segunda pessoa não está vetada dos textos.

"Você veste a camisa, passa um papel nas pontas dos seus sapatos e escuta, desta vez, o aviso do sino que parece vaguear pelos corredores da casa e fecha a porta. Você olha para o corredor; Aura anda com o sino na mão, inclina a cabeça para vê-lo, lhe diz que o café da manhã está pronto."

Esse é o trecho de um conto de Carlos Fuentes, Aura. Neste caso, ele já define quem é o protagonista da ação. Ele é Felipe Montero, um jovem historiador. Então, todas as vezes que o narrador menciona "você", ele, na verdade, está falando de Felipe. E ele apresenta toda a história de Felipe como se você, leitor, fosse esse rapaz. Como já disse no exemplo anterior, isso faz com que percebamos de maneira mais intensa os acontecimentos descritos.

Nos textos também podem ser usados alguns lapsos de segunda pessoa.

É, EU SEI. Vocês vão ler sobre minha morte agonizante e vão pensar: "Uau! Que maneiro, Magnus! Posso ter uma morte agonizante também?"

Não. Tipo, não.

( Magnus Chase: A Espada do Verão, Rick Riordan)

Narrador Onisciente: Um tipo de narrador que conhece toda a história e os detalhes da trama.

Além disso, ele tem conhecimento sobre seus personagens, desde sentimentos, emoções e pensamentos.

Esse foco narrativo é mais frequente em terceira pessoa, apesar de não ser impossível escrevê-lo em primeira.

Mas a verdade é que este olho que se abre de quando em quando para fixar o espaço, tão expressivamente, parece traduzir alguma coisa, que brilha lá dentro, lá muito ao fundo de outra coisa que não sei como diga..." (Quincas Borba, Machado de Assis)

"(...) bebia sidra às garrafas em vez de a vender em barris, comia as melhores aves da capoeira e engraxava as botas de caçar com o toucinho dos porcos, não tardou a aperceber-se de que mais valia abandonar toda a especulação." (Madame Bovary, Gustave Flaubert)

Quanto ao tempo:

Passado: Os eventos narrados ocorreram antes da história ser contada. ( Predominam verbos no passado: correu, falou, andou...)

Presente: Narração em tempo real. ( Predominam verbos no presente: corre, fala, anda...)

Futuro: Narra evento que vão acontecer. Se baseia no que o narrador sabe ou acredita que acontecerá. ( Predomina verbos no futuro: correrá, falará, andará...)

Cronológico/Linear: O narrador respeita a sequência de tempo na história, sejam em dias, semanas ou qualquer outra.

Psicológico: O narrador conta a história baseado nos sentimentos e emoções dele ou do personagem abordado. Isso ocorre no livro Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis.

"Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi.Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos!"

Dicas: É notável que há um modismo na literatura atual. O narrador protagonista tem sido um artifício comum entre novas obras. Mas lembre-se que seu personagem deve ser interessante para sua história também ser.

Scott Myers aconselha a escrever em terceira pessoa a não ser que uma voz em primeira se ofereça irresistivelmente. Pierce Brown escreveu a Saga Red Rising sob a perspectiva de um personagem a princípio detestável, porém muito empático. Imagine se George R.R. Martin resolvesse escrever as Crônicas de Gelo e Fogo com apenas um narrador. A história perderia muito conteúdo.

Mas, leve em conta seu gosto pessoal. Se não gosta de terceira pessoa, escreva em primeira. Mude a sua história, arrisque perder alguma parte, mas não escreva algo que você não respeita como leitor.

Apesar disso, peço que também se aventure por estilos diferentes e esteja aberto à mudanças.

O foco narrativo sempre deve servir a trama. Por exemplo, se na sua história acontecem coisas em lugares diferentes, a narração em terceira pessoa seria melhor para ter essa visão mais ampla. É tolice não escutar as exigências da sua história.

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