Capítulo 7

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Os olhos do coração são como janelas abertas para o mundo.

Pierre



Nem mesmo o fundador prepara tortas tão boas?

Ela ficaria surpresa em saber quão boas são as tortas que preparo, penso enquanto carrego o pacote que ela me trouxe até a cozinha e o coloco sobre a mesa ainda empoeirada. Puxo um banco para me sentar, e sobre mesa rasgo o papel da embalagem e o transformo num prato, levando com as mãos os pedaços até minha boca. Na primeira mastigada constato que elas têm o mesmo sabor das que eu preparava logo que abri o primeiro café. Um sabor que com o tempo acabou se perdendo.

Talvez ela tenha razão, essas estão até melhores que a primeira que comi assim que cheguei à cidade. Aprecio cada pedaço e, à medida que mastigo, devagar, desvio meus olhos para a porta principal, foi inusitado vê-la tentando entrar aqui, já havia ouvido falar que as pessoas em cidades menores têm uma interação maior entre si, mas não imaginei que chegasse a esse ponto.

Termino de comer e continuo sentado sobre o banco velho de madeira que encontrei pelos cantos da casa, discorrendo sobre meus próximos passos. Eu não trouxe móvel nenhum para essa casa e penso em não trazer. Minha ideia inicial era vir até Lores conhecer o lugar e partir em algumas semanas, não quero assumir esse café, não vejo sentido em começar tudo de novo, prefiro deixar essa última loja sob a administração de Olivier. Estou cansado de tentar, cansado de verdade, tenho certeza que continuar sem caminho pelo mundo seja o melhor para minha vida.

Meu telefone toca e o nome de Olivier aparece no visor, às vezes parece que ele tem um sensor que o avisa quando penso nele.

— Oi.

— E aí, cara! Como está? Já foi até o café? Ontem recebi um e-mail da gerente pedindo para contratar mais um funcionário, você está sabendo disso? — Olivier diz, com a rapidez de sempre, jogando um assunto em cima do outro.

— Estou bem. Sim, já fui até o café e sim, elas precisam de mais alguém — respondo, apoiando meus cotovelos sobre a mesa.

— Essa loja não tem muito lucro, Pierre. Se contratar mais alguém, seus rendimentos que já estão baixos, vão diminuir ainda mais. Mesmo com você na loja é necessário contratar? Será que esse pessoal está trabalhando direito ou estão fazendo corpo mole?

Ouço o que ele diz e acabo por recordar das vezes em que recebi pedidos parecidos de outras lojas e tive o mesmo pensamento, imaginando se aquelas pessoas estavam dando o máximo de si nas horas em que devem trabalhar. Mas vendo como aquelas três mulheres dão duro o dia inteiro trabalhando por muito mais tempo do que deveriam, arrependo-me das vezes que pensei como Olivier.

— Elas trabalham além do que deveriam.

— E você?

— O que tem eu?

Ele pigarreia e continua a falar.

— Você já não é esse um a mais na loja?

— Não estou trabalhando, elas não sabem quem eu sou. — Olivier ofega do outro lado da linha.

Levanto do banco e abro a porta dos fundos que dá acesso a um quintal com uma relva alta e descuidada tomada por ervas daninhas. Sento-me no primeiro degrau do deck que ainda não foi engulido pelo mato.

— Você ainda não se apresentou?

— Não.

— Pretende?

SEM CAMINHO (Amazon e Físico no daniassis.com.br)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora