— Acho que tenho medo de morrer. Sabe?

— Tem medo de ser como eu?

— Eu não diria que tenho medo de ser como você, mas diria que morrer deve ser a pior coisa do mundo.

— Camila...

— O quê?

— Sabe por que eu morri?

— Não. Por que?

— Por sua culpa.

Silêncio.

— Camila...

— Sim?

— Acorde!

Sentou-se exasperada na cama, as lágrimas, que agora desciam de forma inconsciente por suas bochechas, deixando sua visão embaçada. Não tinha ciência, mas passara a noite inteira arranhando o torso, sentindo-se sufocada.

Sentindo-se agoniada por estar viva.

O quão irônico aquilo era?

Seu amor estava sufocado por estar morrendo, e ela estava sufocada por estar vivendo.

Talvez ambas tivessem nascido com os papéis trocados.

Na noite anterior

— Abre a porta, Chris! — Harry ordenou, segurando Camila nos braços. O rapaz, desorientado, fez o que o primo disse e deu-lhe espaço para entrar na sua casa.

A casa dos Jauregui.

Não foi surpresa encontrar Taylor brincando na sala com vários brinquedos, enquanto Michael a ignora e Clara se mantém presa no quarto.

Aquela era a rotina dos Morgado desde a partida da filha mais velha. Um martírio.

Michael não entrou em depressão, como Clara, mas sua vida ficou resumida em dúvidas e receios.

Ele não sabia se devia odiar Alejandro pela morte de sua filha – embora Clara insistisse que o fizesse –, ou ficar triste pela morte do próprio Alejandro.

Ele era seu melhor amigo, não se conheceram de forma comum, mas eram melhores amigos. Quase irmãos.

Michael o adorava, e era recíproco. O Jauregui mais velho cansou de ver o latino correr com sua pequena Lauren pela casa, brincando de alguma fantasia, nos vários finais de semana que passava com a família.

E mesmo que não quisesse, ele o perdoou. Mesmo que não parecesse certo para sua esposa, ele seguiu sua consciência e coração, e perdoou Alejandro. Pelo menos uma parte dele.

Já Clara... Bom... Clara era um caso mais delicado. Para ela, era totalmente impossível até respirar o mesmo ar que os Cabello. Como alguém que jantou e festejou em sua casa, usufruiu de sua hospitalidade, desfrutou de sua companhia e recebeu do bom e do melhor, pode fazer o que Alejandro fez? Eles eram falsos e hipócritas para ela.

Michael não a julgava por isso.

Afinal, você conseguiria dizer "Ah, tudo bem! Você matou a minha filha, mas a amizade continua!"?

Clara e Michael tinham certezas diferentes, e talvez isso gerasse brigas em casa.

O homem de barba rala e cabelo elegantemente cortado, levantou a cabeça de seu jornal para ver o movimento abrupto que se fazia na porta, assustando-se em ver seu sobrinho com uma garota em seus braços.

AngelWhere stories live. Discover now