Capítulo 4

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feridas que são profundas demais para fechar.

Quatro

Chantal

— Você o conhece? — Louise pergunta a mim, assim que o cliente misterioso sai porta a fora.

— Não.

— Ele é novo na cidade? — pergunta e eu entro atrás do balcão do caixa para poder conversar com ela.

— Sim, mas não sei se ele se mudou para cá. Perguntei, mas ele disse que não tinha resposta.

— Cara estranho, eu hein?! — Louise fala e ambas olhamos pelas vidraças e o vemos entrar em seu carro e partir.

— Ele parece bem infeliz, nunca vi um semblante com tanta amargura quanto o dele, tenho certeza que ele é de uma cidade grande, daquelas bem caóticas. E aquela cicatriz é meio assustadora... — continuo.

— Vai, Chantal! Ajude a Mirelle a terminar os assados e vamos deixar de tirar conclusões sobre os clientes.

Assinto e sigo as ordens de Louise, mas meus pensamentos vagam em torno do homem misterioso. Nunca vi alguém como ele na cidade, ele deve estar aqui para trabalhar na obra da empresa de engenharia para a construção da nova estrada ou alguma coisa assim, por isso ele ainda não sabe quanto tempo ficará.

— Chantal! — Mirelle grita e eu assusto, derrubando meio quilo de massa no chão.

— Você me assustou, Mi!

— Preste atenção, olha só o que estava fazendo, jogou cinco ovos ao invés de dois na massa, e ainda para ajudar derrubou tudo no chão. Se não está bem para trabalhar vá embora e veja logo sua avó, é por isso que está assim?

Balanço minha cabeça negando o motivo.

— Desculpe pela massa. Eu vou buscar as coisas para limpar o chão.

— Vá embora, pode deixar que eu me viro, vá para casa e durma um pouco antes de ir para o hospital, você está cada dia mais parecida com um zumbi. Olha esses olhos, duas rodelas roxas imensas embaixo de cada um.

— É difícil dormir no hospital, mas não quero deixar minha avó sozinha.

— Vá dormir, pelo amor de Deus, Chantal! E volta amanhã sem essas olheiras imensas, por favor.

Agradeço minha amiga e lhe dou um abraço.

— Eu vou te compensar, Mi. Eu juro! Cubro qualquer dia que quiser folgar, é só me dizer.

— Só vá, antes que eu mude de ideia.

Tiro meu avental bem rápido e saio correndo para pegar minha bolsa nos fundos da loja, e em poucos minutos estou na calçada respirando o ar invernal de Lores. Puxo a gola da minha blusa para cima, protegendo meu pescoço do frio. Até minha casa são uns quarenta minutos de caminhada, conheço cada canto dessa cidade e sempre o faço andando, já que não tenho carro.

Assim que dobro a esquina e entro na minha rua, vejo um carro desconhecido estacionado na casa de frente à minha. A casa da Dona Flor está fechada há tanto tempo, desde que morreu anos atrás. Será que alguém se mudou para ela? Paro e começo a olhar e noto alguém passar por trás das vidraças da sala.

Segundo depois, esse alguém entra no meu campo de visão, saindo porta a fora. Ele dá uns dois passos distraído e quando me vê em frente ao seu portão, para de súbito.

SEM CAMINHO (Amazon e Físico no daniassis.com.br)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora