O R I G A M I

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Aparentemente ela havia conseguido chegar antes, pois de todas as mesas ocupadas, nenhuma contava com apenas um cara sozinho esperando. Nem nenhum deles se parecia com Paulo, na verdade. Emília procurou uma mesa vazia e sentou-se pegando o cardápio, porém prestando mais atenção ao ambiente ao seu redor. Era um bar legal, com pouca luz, amém, e muitas plantas grandes espalhadas estrategicamente pelo ambiente, dando um pouco de privacidade às mesas. No canto mais ao fundo do bar, não haviam mesas e cadeiras, mas sofás de couro ecológico marrom e mesinhas de centro. Esses lugares já estavam ocupados, embora não fossem uma opção para Emília, que preferia sentar na cadeira de madeira e manter a postura. Do contrário, sua falta de etiqueta a faria relaxar mais do que deveria no sofá e sem perceber já estaria meio espalhada como uma geléia, como se tivesse no conforto da sua casa e nem notaria que estava até com queixo duplo. Definitivamente não era a melhor das primeiras impressões para passar à Paulo. Um garçom se aproximou de sua mesa e perguntou se ela gostaria de fazer o pedido.

- Hum, um mojito, por favor. - Ela não tinha sequer olhado o menu ainda e pega de surpresa, pediu a primeira coisa que lhe veio à cabeça. O garçom assentiu e se afastou, sendo observado por Emília. Ela estava distraída olhando ao redor e ainda analisando o ambiente quando um cara chegou perto da sua mesa e ela endireitou a postura na hora e olhou pra ele com seu melhor sorriso, para constatar que não era Paulo.

- Eu posso pegar a cestinha de molhos da sua mesa? - O rapaz apontou, um pouco sem graça com a receptividade e posterior decepção estampadas na cara de Emília. Ela demorou um pouco para assimiliar o que ele estava dizendo e observou por alguns segundos o porta-molhos com ketchup, mostarda, maionese e molho barbecue descansando na sua mesa.

- Desculpe, claro. Claro. - Ela respondeu dando um tapinha na sua própria testa pela demora e sorriu. Ele agradeceu com um aceno e Emília tomou um gole de sua bebida que o garçom colocara em sua mesa enquanto o rapaz saía com seu porta-molhos. - Preciso acordar. Tô parecendo uma retardada. - Ela brigou consigo mesma e pegou o celular para se distrair enquanto ele não chegava.

Notou que ele já estava um pouco atrasado e se mexeu desconfortável na cadeira. Eram apenas alguns minutos, tudo bem. Imprevistos acontecem. Talvez ele tivesse esquecido de botar comida para as gatas e precisou voltar. Podia estar tentando estacionar. Ou talvez tivesse perdido o ônibus, caso ele não fosse de carro. Ela resolveu passar o tempo no Instagram, rolou o feed de notícias até cansar de ver milhares de pessoas com a vida mais interessante que a sua. Tirou uma foto do seu mojito já começado e escreveu na legenda "aproveitando tanto que até esqueci de tirar foto quando minha bebida chegou". Depois disso ela não postou. Deu um risinho meio de escárnio e descartou o post, se achando patética. Olhou no relógio do celular e constatou que o atraso já passava de meia hora. Não podia acreditar que tava levando bolo. Não quando Paulo parecia tão promissor. 40 minutos. O garçom já havia retornado para perguntar se ela gostaria de outro mojito. A resposta havia sido sim. Com o queixo erguido e tom de voz de quem está no controle. De quem não está esperando ninguém. De alguém que não acabou de ser deixada sozinha, esperando em um bar que ela não conhecia, em um bairro que ela não frequentava. A mensagem que havia mandado para Paulo nem fora visualizada. Emília não sabia se chorava de raiva ou se quebrava o celular. Quando deu uma hora esperando, resolveu que bastava de fazer origamis com seu papel de trouxa e pediu a conta. Quis dar na cara do garçom bonitinho que olhou com pena para ela. Que audácia a dele. Ela não poderia ter ido ali curtir seus mojitos sozinha? Sem precisar da validação de uma presença masculina? Emília levantou com postura de uma dama e seguiu de cabeça erguida para fora do estabelecimento. Agradeceu aos céus por não ter tropeçado em nada no caminho, mas uma vez fora do bar, sua postura se perdeu, seus ombros caíram e ela parecia pequena e encurralada. Como uma criança perdida no meio da rua. 

Continua em... A L I C E 

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