A Espanhola

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A estrada de pista simples era famosa entre caminhoneiros e motoristas de ônibus por ser uma das mais perigosas e fatais do país. Naquele ponto a BR 020 era uma reta que parecia não ter fim, um caminho em direção ao horizonte no planalto, como uma flecha a rasgar o cerrado, partindo de Brasília até chegar a Fortaleza.
Ricardo Flores estava cansado. O vendedor de fertilizantes trabalhara o dia inteiro em Posse, interior de Goiás, onde morava há 1 ano com sua esposa Valéria, e saíra as 18h com destino ao povoado de Mozondó, próximo ao município de Catolândia, na Bahia, para visitar sua mãe, dona Jacira. Era a primeira vez que Ricardo visitava sua família desde que se mudara de Itumbiara para Passo, o que o deixava um pouco preocupado afinal não conhecia bem a estrada.
- Meu Deus, como esse lugar é longe, disse Ricardo em voz alta.
Apesar do cansaço, Ricardo gostava de viajar sozinho. Encontrava tempo para pensar na vida, ouvir música no rádio ou simplesmente ficar em silêncio. Era uma espécie de meditação para ele. Os quilômetros iam ficando para trás naquela reta sem fim chamada BR020 como se um transe hipnótico tomasse conta do motorista. Havia apenas um posto de combustíveis pelo caminho. Do posto em diante não havia mais nada nem ninguém, apenas a solidão do asfalto e a escuridão da noite que deitava sobre o imenso firmamento do cerrado como um lençol negro pontilhado por estrelas sonolentas. O posto era o último ponto de "civilização" pelos próximo duzentos e poucos quilômetros. Seria apenas Ricardo, a estrada, o céu e o cerrado.
O toca cd's do pálio azul de Ricardo estava quebrado e a ausência de cidades no caminho fez com que nenhuma rádio ressoasse por entre as caixas de som do carro, enchendo a viagem de silêncio e tédio. Silêncio e tédio.
Ricardo mantinha uma velocidade de 120km/h. Não havia carros na estrada, eventualmente cruzava com um caminhão. O caminho estava livre. Poderia ir mais rápido, porém a lembrança da morte de seu primo Marcelo em um acidente de carro há cinco anos o tornou mais cuidadoso desde então.
A altura do quilômetro 80 da longa reta da BR 020, o sono começou a rondar o motorista, que bocejava de quando em quando e dava pequenos tapas no rosto para afastar a vontade de dormir, quando notou algo estranho a sua frente.
Havia o que parecia ser a silhueta de uma pessoa no acostamento da pista a algumas centenas de metros.
Ricardo diminuiu a velocidade e acendeu a luz alta do carro para enxergar melhor o que se tratava. Quanto mais se aproximava, mais percebia que sim, era mesmo uma pessoa.
Mais perto, percebeu que era alguém que caminhava na mesma direção do carro.
Chegando bem perto viu que a pessoa usava um vestido vermelho, era uma mulher.
Reduziu mais ainda a velocidade ao ultrapassar aquela estranha figura que caminhava tranquilamente na beira da pista e pode notar que era ruiva e estava descalça, olhou diretamente para seu rosto e seus olhares se cruzaram por um segundo.
Pensou em parar e oferecer carona, ou perguntar se ela precisava de algum tipo de ajuda, porém um cala frio percorreu sua espinha e sentiu medo. São tantas as notícias de violência, tantos assaltos, poderia ser uma armadilha de bandidos escondidos próximo ao acostamento, esperando o primeiro ingênuo que parasse para ajudar aquela mulher para assalta-lo ou fazerem coisa pior.
Com certo peso na consciência, voltou a acelerar o pálio, mas não sem deixar de olhar mais uma vez pelo retrovisor e ver aquela figura de vermelho ir diminuindo de tamanho até desaparecer na noite.
Quem seria essa mulher, se indagou. O que estaria fazendo na beira de uma estrada deserta como essa? E aquele vestido vermelho? Não era um vestido qualquer, ou algo que se usa no dia a dia. Para onde estaria indo? E por que estava andando descalça? Sua mente encheu-se de perguntas enquanto seu carro engolia os quilômetros da estrada.
Quarenta minutos depois Ricardo se deu conta que precisaria abastecer o carro. O único posto de combustível durante todo o trajeto estava a apenas dois quilômetros e ele sabia que se não abastecesse ali fatalmente ficaria na beira da estrada.
Era um pequeno posto sem bandeira, com apenas três bombas velhas, uma para gasolina comum, outra para álcool e a última para diesel. Havia um pequeno cubículo cuja pintura marrom se confundia com a sujeira da poeira do cerrado, com paredes descascadas, que servia de escritório e dois típicos banheiros de beira de estrada, que exigiam coragem de quem se atrevesse a usá-los. O conjunto do pequeno posto formava um quadro de abandono e decadência tão grande que é de se imaginar que muitos motoristas não parem para abastecer seus carros por simplesmente acharem que o lugar está desativado. O tempo passou por ali e fez estrago.
Passava das oito e meia da noite, a escuridão tomava conta do céu do planalto quando Ricardo deu seta para a direita e saiu da pista pela alça de acesso ao pequeno posto.
Sentado em uma banqueta de madeira de três pés, sob uma fraca luz amarela vinda de três lâmpadas incandescentes, com uma panela amassada aos pés que servia para recolher as lascas de casca de cana descascadas por um velhíssimo canivete, estava o frentista do posto, um homem tão velho quanto o canivete, magro, de pele branca avermelhada queimada pelo sol quente, cabelos brancos amarelados e encardidos, lisos e curtos, vestindo uma camiseta que um dia já fora de uma cor que poderia ser chamada de branco, onde lia-se "Pastor Dejair prefeito, 15, por uma Correntina mais feliz".
Ricardo levou o carro até a enferrujada bomba de gasolina e parou. O senhor ignorou Ricardo e continuou descascando sua cana, sequer levantando a cabeça para olhar para o cliente que havia acabado de chegar.
- Boa noite, disse Ricardo.
Nenhuma resposta.
- Olá? Boa noite. O senhor pode me ouvir?
O velho frentista seguia ignorando Ricardo, se movendo apenas para levar um pedaço doce de cana até a boca, olhando para o chão.
Ricardo estava ficando nervoso. Ainda estava intrigado pela visão daquela estranha mulher a beira da pista e agora esse frentista que parecia ignora-lo completamente.
- Tudo bem. Eu mesmo abasteço, reclamou.
O velho frentista cuspiu no chão e disse:
- Pra que a pressa? Sente-se, e ofereceu outra banqueta de madeira para Ricardo.
- Isso que é vontade de trabalhar hein. Pode ficar aí com sua cana que eu faço o seu serviço aqui. Vou completar o tanque e deixar o dinheiro aqui do lado, se o senhor não preferir que eu o coloque direto no seu bolso, não é?, provocou Ricardo.
Só agora o frentista ergueu a cabeça e olhou para Ricardo. Levou mais um pedaço de cana a boca e ensaiou um sorriso enquanto observava o cliente brigando com a mangueira de combustível que teimava em não funcionar. Finalmente levantou se, bateu as mãos contra as pernas tirando um pouco da poeira acumulada nas calças, tomou a mangueira das mãos de Ricardo e a colocou no tanque do carro.
- Vocês estão sempre com pressa né? Sempre com essa cara de assustados. E eu sempre dou o mesmo conselho: pra que a pressa? Sente se. Mas vocês nunca me ouvem, não é mesmo?
Esse aí é mais um maluco, pensou Ricardo. Acendeu um cigarro enquanto o frentista enchia o tanque, mas uma palavra que o velho frentista disse lhe chamou a atenção.
- Assustado? Por que eu estaria assustado?
- Pois é. Por quê?
- Não vejo motivo algum para estar assustado, sinceramente. Devo ter medo de quem? Do senhor?
O frentista riu com um único som, como um golpe de karatê. Olhou nos olhos de Ricardo.
- Eu estou aqui há 45 anos. Essa estrada ainda era de terra quando comecei a trabalhar aqui. Eu conheço cada quilômetro dessa estrada, cada buraco nesse asfalto e cada história triste nessas retas, e acredite em mim, há uma história triste para cada metro asfaltado dessa estrada. Portanto, se você quiser ouvir o conselho de uma pessoa que sabe do que está falando, ouça o que eu digo: estacione o carro aqui ao lado, deite o banco e durma até o sol nascer. Não pegue essa estrada sozinho, de madrugada.
- Eu agradeço a preocupação do senhor, mas eu não estou com sono, posso dirigir perfeitamente pelo resto da viagem, e realmente quero chegar hoje ainda na casa de minha mãe. Amanhã é o aniversário dela, não a vejo há muito e terei pouco tempo para ficar com ela.
O tanque já estava cheio quando o velho frentista terminou de ouvir Ricardo.
Retirou a mangueira do tanque e a colocou de volta na bomba de gasolina, em silêncio.
Enquanto limpava as mãos com um pedaço de estopa, disse:
- Eu não estou falando de sono. Eu estou falando dela.
Ricardo, que estava de costas buscando sua carteira dentro do carro virou-se para o homem após ouvir o que ele disse. Enquanto contava o dinheiro para pagar perguntou:
- Dela?
- Você sabe de quem estou falando. Você a viu, disse o velho olhando para a estrada na direção em que o carro de Ricardo veio.
- Desculpe, mas eu não estou entendendo.
- Coisas estranhas acontecem nessa estrada a noite. Você não viu nada que tenha achado estranho?
- Bom, já que o senhor está falando, eu passei por uma mulher andando na beira da estrada e achei estranho mesmo, uma mulher sozinha, a essa hora da noite. Pode ser perigoso, mas era só isso. Qual o problema?
O velho deu um sorriso experiente que escondia também um pouco de lamento antes de prosseguir.
- Pode me falar como ela era, perguntou.
Ricardo disse.
- Bem, não pude ver muita coisa, mas percebi que ela era ruiva e usava um vestido
- Vermelho.
- Isso. E ela estava...
- Descalça né? Eu sei, interrompeu o velho.
O rosto de Ricardo mudara de feição. Ficara realmente intrigado com a visão daquela mulher caminhando a beira da pista, porém afastara o pensamento de sua mente e seguiu viagem. Entretanto, em algum lugar ainda havia um estranhamento naquela situação que o incomodava, e a atitude do velho frentista tornava tudo ainda mais estranho. Como ele sabia não apenas que eu havia cruzado com aquela mulher, pensou, mas também como sabe exatamente como ela era? A curiosidade humana depois de despertada é um caminho sem volta.
- Como o senhor sabe disso?
- Eu já lhe disse. Trabalho na 020 antes dela se chamar 020. Eu sei de tudo. Aquela mulher é famosa por quem passa muito por aqui. É a Espanhola.
O carro estava abastecido, o dinheiro do combustível já estava na mão de Ricardo, mas a curiosidade embaçava seu raciocínio. A mulher no acostamento, os alertas do velho para que não seguisse viagem criaram um clima de mistério em sua mente e se perguntava se as duas situações estariam ligadas. Um mistério formidável.
- Espanhola?, disse Ricardo.
- Sim, é assim que o pessoal a chama por aqui.
- Ela mora aqui pelas redondezas?
O senhor abaixou a cabeça e deu as costas para Ricardo, se virou e caminhou em direção à rodovia, olhando para frente.
- Meu filho, apenas ouça o que eu digo. Encoste seu carro aqui no posto e durma. Não pegue a estrada agora a noite. E não me pergunte mais nada sobre ela. Você não vai acreditar em nada mesmo, e talvez seja até melhor assim. Estou cansado de tentar, durante todos esses anos. Não vai adiantar.
Ricardo colocou o dinheiro de volta em seu bolso. Aquilo tudo era muito estranho. Afinal, quem era aquela mulher? A recusa do frentista em dar mais detalhes não estava ajudando a diminuir a curiosidade que tomava conta de seus instintos. O frentista acendeu um cigarro enquanto seguia olhando para a estrada. Atrás dele Ricardo perguntou.
- Ah não, senhor. Agora você vai ter que me contar quem é essa mulher e o que ela estava fazendo ali no acostamento, naquela situação, exigiu Ricardo tomado pela curiosidade.
O frentista deu uma longa tragada no cigarro antes de jogar a fumaça em direção às estrelas. Olhando para o céu noturno disse numa mistura de aviso com lamento
- Essa é a história mais triste da 020 e a maioria das pessoas tem medo de falar desse assunto. Mas é engraçado como a gente sente curiosidade pelo que não deve não é mesmo? E mesmo que eu lhe conte a história, você não vai seguir o meu conselho. Vocês nunca seguem. E depois, bem, disse o frentista sem terminar o pensamento, mas retomando em seguida, pois bem, eu lhe conto mesmo sabendo que não devia.
- Pode contar, respondeu Ricardo eufórico.
O velho frentista fechou os olhos e ficou em silêncio por alguns segundos, o que chamou a atenção de Ricardo, e então começou o seu relato.
- Antes da 020 existir isso aqui era uma estrada de terra. Ligava as fazendas e povoados da região. Em 1972 o governo resolveu transformar a velha estrada de terra em uma rodovia de verdade e contratou uma empreiteira pra fazer a obra. Houve muitos problemas na obra, muitos atrasos, greves, brigas entre os operários e os engenheiros, e então o dono da empreiteira em pessoa veio pra cá para tocar a obra. Era um engenheiro chamado Rubens. Um sujeito fechado, cara de poucos amigos, nunca dava um sorriso. Muito inteligente. Sabia mandar. Não havia hotéis por aqui, na verdade não há até hoje e os funcionários dormiam em tendas e barracas, mas o doutor Rubens era o dono da construtora e não podia dormir com os operários, então ele mandou que levantassem uma casa de madeira para ele, próximo ao canteiro de obras.
Parou e apontou para a direita.
- A casa dele ainda está de pé, mas bem abandonada. Fica naquela direção, uns 4 quilômetros daqui.
Ricardo ouvia tudo atentamente, porém não entendia como a história daquela mulher que ele viu na estrada teria a ver com fatos acontecidos em 1972.
- Continue, implorou Ricardo.
- O doutor Rubens era calado e meio grosseiro, mas ele não era uma pessoa má. O problema dele era ficar longe da mulher. Ele era obcecado pela esposa. A chamava "a espanhola". Estar longe dela o deixava infeliz, por causa disso ele tratava todo mundo às patadas. Um dia um carro muito bonito, preto, chegou e parou na frente da casa do doutor Rubens. Uma mulher linda, arrumada e elegante estava dirigindo, o que já chamou atenção de todos os operários, pois na época dirigir era visto como coisa de homem ainda. Mas aquela não era uma mulher comum. Ela tinha um ar de pessoa que não precisa de ninguém. Uma independência que nem as meninas novas de hoje em dia tem. Ela sabia que todos os olhares estariam sempre voltados para ela, não importa onde estivesse. Essa mulher era Yolanda, a esposa do doutor Rubens, que ele mandara vir de Brasília para passar uns dias com ele na obra. Na verdade, acho que ele deve ter implorado para que ela viesse, pois ela não parecia ser o tipo de mulher que obedecesse a ordens de ninguém, mesmo naqueles tempos. Ela era linda e estava sempre com um par de sapatos vermelhos. Eles combinavam com ela. Eram inseparáveis, ela e os sapatos.
Ricardo ouvia atentamente o frentista quando notou que começava a garoar. Há poucos minutos não havia uma nuvem sequer no céu, entretanto agora densas nuvens cinza pareciam se aglomerar sobre a região.
- Melhor irmos para baixo da cobertura, disse o senhor.
Com pouco mais que dez passos os dois se posicionaram embaixo da cobertura do velho posto que mais parecia uma coisa abandonada.
Ricardo questionou.
- Então a mulher que eu vi era  a tal da Yolanda? Ela ainda mora aqui?
- Escute. A princípio a Yolanda veio para cá passar apenas o final de semana com o marido para matar a saudade que o velho homem sentia e também para sair um pouco da rotina de Brasília. Deve ter achado que seria uma aventura estar aqui, no meio do nada. E então aconteceu aquilo que a gente não controla, que não tem como prever, não tem como remediar ou impedir, que acontece com homens e mulheres, casados ou solteiros, desde que o mundo é mundo. Yolanda, aquela mulher fina e elegante, rica e bonita, conheceu e se apaixonou por um operário chamado Rufino. Bom, pelo visto o Rufino também se apaixonou por ela, mas também, como não iria? Quando na vida um homem como ele poderia achar que uma mulher como a Yolanda iria se interessar por ele. Pobre, analfabeto, grosseiro. Eles não combinavam em nada. Enfim, eles tentaram evitar, mas não conseguiram por muito tempo e quando viram, estavam se encontrando às escondidas por aí. E a estadia da Yolanda, que era pra ser apenas um fim de semana, acabou se estendendo e ela foi ficando, foi ficando. O doutor Rubens, de início, adorou a ideia, e todo mundo abaixo dele também, por que ele era uma pessoa diferente com ela aqui, tratava todo mundo bem, até chegava a dar umas risadas e jogar conversa fora com o pessoal. Ele era doido por aquela mulher, e claro, muito ciumento também. Depois de uns dias, aquela alegria que ele sentiu por ela estar aqui foi dando lugar a uma preocupação. Ele achava que todos os funcionários estavam olhando para ela, e olhavam mesmo né. A grosseria e mau humor dele voltaram, só que dessa vez mais intensamente e ele passou a ser estúpido e rude até com a própria mulher, coisa que ele nunca fora. E obviamente ela não toleraria isso. Mas ela aguentou, apenas pra ficar mais perto do Rufino. Não conseguia se imaginar longe daquele homem mais. Só que os dois, a Yolanda e o Rufino, foram se arriscando mais e mais e logo o boato se espalhou na obra. Não demorou, para o doutor perceber os olhares estranhos dos operários, as piadas, os comentários quando ele passava, o que o tornou violento e agressivo, principalmente contra Yolanda. Estava cada vez mais paranoico, sabe? Até que uma noite, enquanto todos dormiam, a Yolanda saiu da casa do doutor para um rápido encontro que combinara com o Rufino. Iriam se encontrar por alguns minutos dentro do paiol que ficava atrás da casa. Quando chegou Rufino já estava lá a esperando. Eles nem trocaram palavras, já foram logo se agarrando, o fogo entre aqueles dois estava incontrolável. Mas aí, aconteceu. De repente, a porta do paiol se abriu. A Yolanda e o Rufino, sem roupas, se abraçaram assustados. Era o doutor Rubens. Ele fingiu que estava dormindo para espionar a mulher e quando ela se levantou e saiu de casa ele a seguiu. Yolanda ficou desesperada e implorou para que o marido ficasse calmo, mas ele já estava decidido. Ele nem a xingou, nem nada. Ficou apenas olhando para os dois. O Rufino entrou na frente da Yolanda e falou 'Calma seu Rubens', mas o doutor continuava não fazendo nada, ele olhava só pra Yolanda. O seu Rubens então olhou pelo paiol e pegou um facão. O Rufino ficou desesperado e implorou pela vida dele. O doutor falou pra ele sair dali e não voltar nunca mais senão iria morrer. A Yolanda olhou pro Rufino e o viu pegando as roupas e sair correndo sem olhar pra trás. Imagina o que ela sentiu numa hora dessas? Vendo o homem por quem ela arriscou tudo fugir e deixar ela ali, na frente do marido, armado com um facão. Deve ter se achado uma idiota, ou deve ter achado o Rufino um filho da puta. Um covarde . Bom, ele saiu correndo e ninguém nunca mais ouviu falar dele. Ficaram apenas a Yolanda e o doutor dentro do paiol. Então ali, nos fundos do paiol, com o facão, o doutor atacou a própria mulher que ele tanto dizia que amava. Coitada da Yolanda. Era de madrugada, e o doutor Rubens precisava se livrar do corpo. Colocou ela sobre uma carriola, cobriu com alguns panos e saiu do paiol. Ele levou a Yolanda até a estrada de terra num ponto mais distante do acampamento. Cavou uma cova e jogou o corpo da Yolanda lá. Mas enquanto ia jogando terra sobre ela percebeu que ainda estava viva e a ouviu dizer ''meus sapatos, meus sapatos'. Ele jogou terra até enterrar de vez a coitada. No dia seguinte os operários já estavam trabalhando em cima de onde ela estava enterrada. Poucos dias depois havia uma rodovia em cima dela. Desde então, quem passa por essa rodovia a noite diz ver uma mulher linda, de vestido vermelho, descalça, com uma cara triste, andando na beira da pista.
O velho frentista terminou o seu relato e se sentou na mesma banqueta em que estava quando Ricardo chegou. Olhava para a pista e aguardava alguma reação de Ricardo à sua história. Ricardo não sabia como reagir. Não podia acreditar naquilo. Lendas urbanas existem em todo lugar, pensou.
- O senhor está me dizendo que eu vi o fantasma de uma mulher que foi enterrada viva debaixo dessa rodovia em 1972, disse Ricardo.
- Eu disse que você não acreditaria, mas você insistiu, retrucou o velho.
Ricardo era um sujeito cético, porém sua família era muito religiosa. Cresceu ouvindo as histórias que seus avós contavam sobre aparições na mata, fantasmas, lobisomens, sacis, mulas sem cabeça, feiticeiros, e apesar de ter muito medo dessas histórias quando criança, hoje as tratava como crendice ou folclore, coisas de pessoas supersticiosas e pouco racionais, apesar de nutrir grande curiosidade sobre assuntos sobrenaturais, sem levar, no entanto, as histórias a sério.
- Como o senhor sabe tantos detalhes dessa história, indagou.
- Eu te disse. Estou nesse lugar há muito, muito tempo. Eu sei tudo que acontece e aconteceu aqui.
- Verdade. O senhor teve bastante tempo pra pensar num enredo bem assustador e detalhado pra pôr medo no pessoal, não é mesmo, provocou Ricardo.
- Eu não ponho medo. Como eu disse, vocês já chegam aqui com essa cara de assustados.
- Vocês? Então muita gente já viu essa mulher?
- Eu já perdi a conta, respondeu o velho sentado em sua banqueta. A chuva aumentava de intensidade.
- E o que acontece com quem a vê?
- Eles não estão mais aqui pra contar o que aconteceu, respondeu misteriosamente o velho que olhava Ricardo nos olhos, por isso eu sempre digo que devem esperar o dia amanhecer para voltarem pra estrada. Quem resolve seguir viagem foi avisado e está por sua conta e risco. O curioso é o seguinte: essa estrada é uma grande reta. Não tem curvas. Mas muita gente parece perder o controle do carro de repente por aqui. Como você perde o controle do carro numa estrada sem curvas? Será que algo fez com que perdessem o controle? Será que tomaram um grande susto? Enfim, não sei se você notou a quantidade de cruzes que existem na beira da estrada. Isso aqui é um grande cemitério disfarçado de rodovia. Pra cada metro de asfalto uma história triste, muito triste.
Se Ricardo quisesse ir embora era melhor ir logo. A chuva está aumentando e já perdi muito tempo parado nesse posto, pensou. Estava sim com um certo receio, após todo o relato do velho homem, porém sua racionalidade dizia que aquilo tudo era apenas mais uma história de fantasma como as dezenas de histórias que ouvira quando criança contadas por seus familiares, e que apesar de ter crescido em Mozondó, o mesmo lugar onde seus avós diziam que suas histórias aconteceram, repleto de lendas e misticismos, ele nunca havia presenciado nada de estranho. Eram apenas histórias, e aquela era apenas mais uma.
- Olha senhor, eu agradeço a sua preocupação comigo e o seu conselho, mas eu tenho que ir antes que essa chuva piore. Gostaria de ficar aqui e ouvir mais histórias como essa, de verdade, eu adoro essas histórias, mas não posso. Como disse é aniversário da minha mãe, ela está me esperando, e terei pouquíssimo tempo para ficar com ela e meus irmãos. Então, quanto eu lhe devo?
O velho frentista se levantou e parou na frente de Ricardo com os olhos fechados, começou a falar em voz baixa algo que Ricardo não conseguia identificar, mas que parecia ser uma oração.
Abriu os olhos e olhou para a estrada na direção em que Ricardo seguiria, Deixa o moço passar, ele é bom de coração, deixa o moço passar, disse em voz alta.
Ricardo estava arrepiado.
- Não precisa me pagar nada não. Guarde seu dinheiro.
- Não, por favor, diga me quanto é, insistiu Ricardo.
O senhor ignorou o pedido de Ricardo lhe dando as costas, se agachou em frente a uma das bombas de combustível e abriu uma pequena caixa de madeira, de onde tirou outra caixa envolta num pano branco. Voltou-se para Ricardo com a caixa em mãos e sem dizer nada a ofereceu para Ricardo.
- O que é isso?
- Um presente, disse o velho.
- Ora senhor, não é preciso.
- Sim, é preciso.
Aquela conversa não acabava e Ricardo estava cada vez mais apressado. Tinha que pegar a estrada logo, estava perdendo muito tempo, então resolveu aceitar de uma vez o presente para por fim naquela situação mais que estranha.
- O senhor ainda não me disse quanto lhe devo pelo combustível.
O frentista olhou para a caixa e Ricardo percebeu que mais uma vez ele parecia estar fazendo uma oração quase inaudível, então deu as costas, pegou uma velha vassoura de palha e começou a varrer o chão.
Bom, terei uma boa história pra contar depois disso tudo, pensou Ricardo. Entendeu que o senhor estava abalado com o relato que contou e que aquilo de alguma maneira significava muito para ele que claramente estava emocionado. Aceitou que não pagaria pelo combustível, o que não era nada mal, e entrou em seu carro, colocando o presente do frentista ao seu lado no banco do passageiro.
Ligou o carro, acendeu os faróis, engatou a primeira marcha e quando estava pronto para partir em viagem se deu conta de que durante todo esse tempo não havia perguntado o nome do frentista, que agora estava uns metros atrás do carro. Engatou a ré até que seu vidro ficasse ao lado do senhor.
- O senhor não me disse seu nome.
- É, eu não disse. Boa viagem, respondeu o velho, antes de dar as costas e continuar varrendo o chão com sua vassoura.
Uma risada cansada saiu da boca de Ricardo enquanto pensava que já bastava de coisas estranhas por uma noite. Engatou a primeira, ligou o para-brisa e mergulhou na chuva em direção a estrada, deixando para trás o misterioso frentista daquele posto tão incomum.
A chuva agora era uma companheira de viagem exigindo que Ricardo prestasse muita atenção enquanto dirigia. Uma reta, é só uma longa reta, dizia a si mesmo.
Com a faixa central da pista como bússola ele o pálio azul 2008 ia abrindo caminho na noite do cerrado. Não havia nada em volta. Nenhuma luz. Nenhuma casa. Nenhuma cidade. A ideia de furar o pneu ou de repente ter um problema no motor do carro ali, naquele lugar, passou pela cabeça de Ricardo e o incomodou.
Lembrou então do velho frentista. Que encontro estranho fora aquele? Sentia que só agora vinha se dando conta da bizarrice daquele momento, com aquele velho homem magro e estranho, em um posto de gasolina semi abandonado, pedindo para que ele não pegasse estrada por causa do fantasma de uma mulher. Que doideira, pensou. E então lembrou se da caixa que o velho lhe entregou e que agora estava ao seu lado, no banco do passageiro. Era apenas uma caixa envolta num pano branco, tudo o que Ricardo sabia. Olhou para a caixa e se perguntou afinal, por que o velho a deu pra ele. Um presente? Para quem? Enquanto mantinha os olhos na pista que tentava enxergar por entre o para brisa do carro, esticou a mão direita e desenrolou o pano branco que a envolvia. Olhou e viu que era uma caixa de papelão. Olhou para pista de novo. Com a mão, sem olhar para a caixa, abriu a tampa. Olhou para a caixa mas estava muito escuro para ver o que havia dentro. Voltou a olhar pra estrada enquanto tateava a caixa e enfim sentia o que havia ali dentro. Sua mão tocava a ponta de um salto, escorria por uma fivela e depois sentia uma sola. Era um par de sapatos. Desviou o olhar da pista mais uma vez e viu o par de sapatos em sua mão. Acendeu a luz interna do carro e viu então que era um par de sapatos de salto alto vermelhos, brilhantes mas empoeirado. Era um par de sapatos.
- Meus sapatos, ecoou numa voz dentro da mente de Ricardo, uma voz que o assustou e o fez voltar os olhos para frente. Ricardo viu primeiro dois pés sobre o capô do carro em movimento. Olhou para cima e viu que havia uma mulher em cima do capô olhando fixamente para ele.
- Puta que pariu!, gritou Ricardo, que entrou em pânico, sem saber o que fazer. O carro balançou de um lado para outro da pista escorregadia debaixo de tanto chuva.
- Meus sapatos, meus sapatos, disse alguém com uma voz metálica fria, na nuca de Ricardo, que olhou pelo retrovisor e viu agora uma mulher no banco de trás. Podia sentir sua respiração em seu pescoço e sua mão puxando seu cabelo para trás. Ricardo gritava desesperadamente e enfiou o pé no freio. O carro patinou na pista, deslizou primeiro para o lado esquerdo em direção ao meio da estrada, depois para a direita, saindo de traseira, girou em seu eixo e parou torto na pista com a metade da frente na estrada e a metade de trás no acostamento.
Alguém diz, meus sapatos, agora do lado de fora do carro parado na pista. Ricardo quer sair dali. Abre a porta do carro sem olhar para os lados e deixa o veículo. A sua frente, uns 3 metros de distância, está uma mulher. Ele sabe quem ela é. A mesma mulher que vira quilômetros atrás. A mulher que fora enterrada na pista. A espanhola. Aparece em sua frente, e parece ser de carne e osso, no meio da chuva
O ar tem cheiro de medo. Ricardo está paralisado, não consegue correr, e então pergunta.
- Yolanda?
Ela olha fixamente para ele, um olhar triste, assustador.
De repente aquele estranho espectro lança um olhar para Ricardo que o ergue do chão e o deixa flutuando no ar, no meio da pista e então diz com uma voz que mais parecem mil vozes:
- Meus Sapatos.
- Yolanda, Yolanda. Me põe no chão. Por favor, implorou Ricardo em voz alta. Estava em pânico.
Debaixo de um temporal, Yolanda apenas olhava para o homem assustado com um olhar de puro ódio.
- Eu sei sua história Yolanda. O Rufino, ele foi um covarde.
- Rufino. Rufino. Eu me lembro de um Rufino, diz a mulher.
- Sim Yolanda. Ele foi um covarde, disse Ricardo ao perceber a reação de Yolanda e prossegui, você o amou, você jogou tudo pro alto por ele.
- O Rufino. O Rufino foi embora.
- Sim Yolanda, eu sei que foi muito triste isso pra você.
- Doeu, disse Yolanda desviando o olhar de Ricardo.
- Eu imagino Yolanda.
- Doeu aqui, e como se surgisse do nada um corte profundo apareceu entre o ombro direito e o pescoço da mulher, um corte que parecia recente mas que não estava lá a segundos atrás.
- Meu Deus, disse Ricardo, que mentalmente já estava rezando desde quando Yolanda apareceu. Ele, que não era de rezar.
- Quem fez isso com você Yolanda, indagou Ricardo.
- Eu não sei. Doeu, doeu muito, respondeu e a cada resposta ela parecia se desinteressar por Ricardo e ele que ainda estava no ar, começava a voltar para o chão.
- Eu sei o que te aconteceu Yolanda, me deixa te ajudar, por favor.
- Ninguém quer me ajudar.
- Eu quero Yolanda, me deixa te ajudar, me põe no chão, por favor.
Então, Yolanda olhou novamente para Ricardo e com o olhar o trouxe ao chão novamente. Andou lentamente em sua direção até parar a poucos centímetros de seu rosto. Ricardo sentiu o ar se tornar gelado. A chuva não a molhava, sua pele, seu cabelo e seu vestido vermelho estavam perfeitamente secos enquanto ele estava totalmente encharcado e agora com frio.
- Eu odeio vocês, disse Yolanda pegando Ricardo pelo pescoço.
Com medo nos olhos e com as duas mãos segurando o braço gelado de Yolanda, Ricardo disse:
- Yolanda, eu não fiz nada pra você. Me solte.
- Eu odeio vocês dois, gritou mais alto o fantasma da Espanhola.
Não era mais uma lenda. Ricardo estava vivendo aquilo. O espírito de uma mulher que fora condenado a vagar por aquela estrada estava tentando tirar a sua vida, e ele não sabia o que fazer para evitar isso.
- Yolanda, os sapatos.
- O que?
- Eu tenho um presente pra você. Um par de sapatos.
- Meus sapatos?
- Sim, os seus sapatos. Seus sapatos vermelhos.
Yolanda então abaixou Ricardo e levou as mãos ao rosto, como se lembrasse de algo.
- Meus sapatos. Eu fico tão feia sem meus sapatos, disse.
Ricardo estava sentado no chão debaixo da chuva, tentando recuperar o folego. Levantou se e passou ao lado daquele estranho espectro sem tirar os olhos dele. Abriu a porta do carro e retirou a caixa que estava no banco ao seu lado.
- Olha Yolanda. Eu trouxe pra você.
- Os meus...os meus sapatos. Você trouxe os meus sapatos.
A feição de Yolanda mudara. O ar ao seu redor ia aos poucos deixando de ser tão frio e o medo em Ricardo ia dando espaço para um outro sentimento.
O homem retirou o par de sapatos da caixa, caminhou em direção a Yolanda e colocou os dois pés do belo par de sapatos vermelhos de pé, no chão, pronto para serem calçados por Yolanda.
- Por favor Yolanda, eles são seus. Um amigo pediu que eu trouxesse, eu não sabia por que, mas agora eu sei. Eles são seus.
- Eu estava tão feia sem meus sapatos.
- Você nunca está feia Yolanda.
Até os fantasmas de mulheres gostam de receber elogios e com Yolanda não foi diferente, que sorriu inocentemente para Ricardo e agradeceu com um "obrigada".
A chuva forte que caia na diagonal cessou como se tivesse acabado a água no céu no momento em que Yolanda calçou os dois sapatos.
- Você está linda, Yolanda.
- Sim, agora sim. Agora eu estou linda. Agora sim, não falta mais nada.
Ricardo percebia uma alegria genuína que o fazia ignorar os pensamentos de medo ou de que aquilo tudo não fazia o menor sentido. Ele estava vendo Yolanda, ele estava sentindo tudo, e era verdadeiro.
Yolanda olhou para Ricardo e disse:
- Obrigada. Muito Obrigada.
Ele não sabia o que responder quando Yolanda disse olhando para um ponto atrás de Ricardo.
- Papai, agora sim. Agora eu posso ir descansar.
Ricardo se virou e viu a figura de um homem surgir da escuridão e aos poucos se materializar a sua frente, quando ouviu uma voz familiar vindo do homem e dizendo:
- Finalmente, minha filha. Que saudade de você. Eu sei que você está esperando por esse momento há tanto tempo. Eu também estava filha, e agora eu consegui. Aí estão seus sapatos meu amor. Agora você pode descansar. E eu também.
Finalmente surgiu em sua frente o dono daquela voz. Ricardo não podia acreditar. O velho frentista do posto estava ali em sua frente.
- Vamos papai. Vamos descansar, diz Yolanda.
- Vamos minha filha, vamos descansar.
O velho frentista agora estava diferente, com uma calça e uma camisa branca, pegou as mãos de sua filha e deu um beijo em sua testa. Em seguida, olhou para Ricardo.
- Muito obrigado Ricardo. Eu esperei tanto por esse dia e hoje eu consegui salvar a minha filha. Eu nunca me esquecerei de você.
- Você, você é pai dela?
- Sim Ricardo. Ela é minha filha. Eu precisava salvá-la.
A chuva havia parado. Uma fina garoa agora caia lentamente testemunhando aquele estranho encontro em plena BR020. Chocado, Ricardo experimentava uma mistura de sentimentos opostos enquanto tentava processar tudo aquilo.
- Eu espero que vocês fiquem bem, disse.
- Nós ficaremos Ricardo. Agora tudo vai ficar bem. Agora vá cuidar de sua mãe enquanto eu vou cuidar de minha filha.
Ricardo com lágrimas nos olhos acenou com a cabeça para o velho senhor, que mais uma vez disse obrigado.
Então, uma luz clara surgiu, no formato de um grande círculo na frente deles.
- Vamos, disse o senhor.
- Vamos papai.
Pai e filha deram se as mãos e se dirigiram a luz. Yolanda atravessou sem sequer olhar para trás. Antes de atravessar o portal para uma outra dimensão, o senhor olhou para trás, mais uma vez para Ricardo e disse: Não se esqueça de nós. Obrigado, e sumiu. O círculo de luz se fechou e agora só havia Ricardo na beira da estrada, ensopado, com o carro atravessado num quilômetro perdido da velha BR020.
O que foi isso, se perguntou. O que foi isso que eu vi? Eu não acredito. Mas eu vi.
Ainda assustado, Ricardo entrou no carro que após algumas tentativas frustradas finalmente ligou. Manobrou, colocou o carro na pista e então acelerou o quanto pode, olhando pelo retrovisor para o lugar onde tudo aconteceu.
Desse dia em diante nada mais em sua vida seria como antes, ele sabia. Não depois de seu encontro com a espanhola da BR020.
Ao passar pelo quilômetro cento e vinte percebeu duas pequenas cruzes brancas na beira pista.
Parou ao lado delas para ler os nomes. Desceu do carro e caminhou em direção às pequenas cruzes.
- Yolanda e Manoel, disse ao ler os nomes.
Manoel.
Seu Manoel.
- Vai com Deus seu Manoel, vai com Deus Yolanda, diz Ricardo.
Voltou para o carro e seguiu viagem. Queria encontrar sua mãe e abraça-la como nunca, mas nunca contará para ninguém o que ele viu na BR020.
Porém agora, sabia que faria parte daquela estrada e assim como a 020 faria  parte dele.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Apr 25, 2018 ⏰

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