Um povo unido jamais será vencido diz o lema desde a década de 70 e é legítimo até os dias de hoje. Basta apenas unirmos a comunidade em questão contra todos os tiranos. No que se refere a minha servidão voluntária a um senhor namorado/marido/parceiro era algo fora de questão naquele momento, ainda mais depois da experiência que eu tinha tido com o Roger e com o Pablo. Pois há de se convir, por mais que se tenha o melhor dos parceiros e viva o melhor dos relacionamentos monogâmicos, ainda assim há concessões que eu não estava disposto a barganhar mais. Afinal, toda escolha implica em perda. E na minha concepção a moeda que te vende a outrem é o amor. E quando você fecha a venda e diz "eu te amo", penso que uma parte de você, do seu eu absoluto e independente, é entregue a outra pessoa para que juntos possam administrar um elo não só afetivo, mas também socioeconômico que se cria a partir de então. Talvez inconscientemente eu nunca quis dividir essa responsabilidade com ninguém, tampouco quis receber essa responsabilidade de ninguém e como disse anteriormente, paga-se um preço alto por isso.

Será que eu deveria ter investido no Joshua, pensava as vezes. Ele gostava de mim simplesmente por eu ser Brasileiro. Muitos acham que o Brasileiro é um povo benevolente, democrático devido a mistura de raças e amistoso e que não quer guerra com ninguém. Se você tiver a oportunidade de viver fora ou aguçar o olhar para o nosso país de forma equânime, perceberá o quão longe disso somos na realidade. Muitas vezes os números viram rotina e é preciso que uma desgraça de grandes proporções aconteça para que possamos olhar para o nosso umbigo.

Benevolente? Com raízes em uma descoberta feita por uma sociedade lusitana de base judaico-cristã que foi nada menos o maior centro mercador de escravizados da Europa, o Brasil a partir de 1538 chegou a receber 4,8 milhões de escravos negros e foi o último país a "abolir" a escravatura. As consequências de mais de três séculos de escravidão ainda podem ser vistas nos dias de hoje. Quantos presidentes negros nós tivemos ao longo da História? Quantos negros estudam em escolas particulares? Quantos fazem curso de Inglês? Quantos moram em favelas? Quantos são estigmatizados como ladrões? Basta olhar para a sua própria família e perceberá alguns membros racistas. Sempre há um.

Democrático? O conceito proveniente do grego antigo significa "governo do povo". Onde três pilares são essenciais para a sua existência: liberdade, igualdade e direito de expressão. O respeito a diferença é primordial, afinal ela é a base de tudo. Ainda mais se formos levar em consideração o país em que vivemos, com um povo extremamente miscigenado como somos, decerto uma ode a diferença deveria ser o nosso hino nacional. Palavras como racismo, feminismo e política de gênero deveriam ser as primeiras a aparecerem em nossa constituição. O sol da liberdade em raios fúlgidos brilhou para quem, afinal de contas? Não para os favelados oriundos dos povos negros escravizados no passado que precisam de cotas raciais para ingressarem em universidades. Que povo heroico era esse as margens do Ipiranga? Que de 1964 a 1985 permitiu que a ditadura militar se instaurasse no solo da mãe gentil e calasse, torturasse e assassinasse seus filhos? De quem são os braços fortes que desafiam até hoje o próprio peito a morte? Provavelmente são de mulheres, muitas delas negras que quando conseguem com muito custo chegar a um posto de destaque são estereotipadas, esculhambadas, molestadas e por fim caladas a bala para que a máquina consiga continuar confeccionando a máscara que encobre a minoria de super-homens arianos, heterossexuais, cristãos, tiranos, milionários e corruptos que perpetuam o controle da maioria servil em troca de bolsas assistencialistas. Será mesmo que o Brasil é uma mãe gentil para todos que nascem neste solo? Ou só para os que conseguem se eleger a um cargo político? Basta um olhar mais atento e você perceberá que o Brasileiro não sabe que um governo populista, com aqueles mesmos moldes do final dos anos 20, mostra essa relação direta com as massas, que ataca a própria república, que é contra a ciência, querem na verdade produzir o próprio conhecimento da massa, torná-la um animal domado. Querem instaurar a ideia do mito que sabe dialogar com o povão, do pastor que sabe liderar o seu rebanho. E dessa forma pilantra vão instaurando esse modo de controle autoritário que reivindica a obediência, paliam o medo e propagam repressão, adestram um povo ao invés de educá-lo.

100 Cuecas!Where stories live. Discover now