Mais gargalhadas. Mais palmas.

—Gargalhadas a parte, vocês estão ligados que eu não sou muito fã de dar o cu. A primeira vez que eu dei, a sensação após o ato foi tão ruim que parecia que a coisa nunca ia fechar. Sério. Só então eu entendi porque dizemos "dar" e não "emprestar" ou "usar" o cu. A sensação que você perdeu o cu pra sempre é tão forte, que é como se você o tivesse dado mesmo e nunca mais o rombo no meio da tua bunda fosse ser preenchido novamente. As pregas ficam iguais as contas do governo. Simplesmente não fecham.

Uma salva de palmas choveu sobre mim e mais gargalhadas. Alguém tossia de tanto que riu do que eu disse. Na certa era algum velho que se identificava.

— Mas eu não vim hoje para falar sobre nada disso. Eu estou aqui para compartilhar com vocês uma história de amor. A minha primeira história de amor. E realmente é engraçado usar essa expressão "história de amor" porque definitivamente eu sou péssimo para essas coisas. Não sou do tipo "romanticuzinho" e a maioria das pessoas que me conhecem pessoalmente dizem que eu tenho uma personalidade forte, para não dizer filha da puta mesmo, saca? Mas até alguém como eu é capaz de ser amado. Sim, sim, sim. Eu sei que parece difícil. O difícil, na verdade, para mim, é eu conseguir demonstrar o que eu sinto. Pelo menos de forma clara e objetiva.

Perdi a concentração. Devo ter ficado com uma cara de bobo olhando para o nada quando narrador começou a chamar meu nome.

2.

Deitado no chão do camarim, com os olhos esbugalhados, absorto em pensamentos insanos, lá estava eu cercado de pessoas preocupadas comigo. Quer dizer, preocupadas com o meu estado mental. Afinal de contas, eu tinha destruído a mesa de comes e bebes. E eu nem era um rock star para ter esses acessos e excessos de estrelismo.

— Fábio! —Rael me chamou novamente.

Depois de duas piscadas o teatro Somnium desapareceu dentro dos meus pensamentos e diante dos meus olhos lá estava eu sendo erguido por um monte de gente. Me jogaram no sofá no fundo do cômodo e me fizeram beber água.

—Você está bem? — Rael perguntou virando o copo com água, me fazendo engolir goles e goles.

— Você está tentando me matar afogado? — Eu disse recuperando o fôlego depois de ter afastado os braços dele.

Tentei me levantar, ele me conteve. Minhas roupas que estavam no chão haviam sido colocadas no braço do sofá.

— É melhor você ficar sentado um pouco. Você não está legal.

Todos falavam ao mesmo tempo.

Kai pegou uma caixa do chão e perguntou:

— O que é isso?

Sasha pegou a caixa da mão dele, observou e disse:

— Remédio.

— É um remédio, tarja preta, bem pesado. Esse rapaz está mexendo com coisa pesada. — Jorjão falou.

Rael levantou e tomou a caixa que agora estava na mão do Jorjão, um dos seguranças da casa. Chamávamos ele pelo nome no aumentativo porque ele era alto e bem gordo.

— Não é nada disso, Jorjão. O Linderoff está passando por um problema pessoal muito sério. Síndrome do Pânico, depressão. Foi um médico que prescreveu esse medicamento. Ele está tomando já faz um tempo.

— Será que ele está tomando a dose certa? Ou do jeito certo? —Tobias perguntou colocando a garrafa de Jack Daniel, por sorte inteira, sobre a mesa. Ele era o outro segurança da casa — Olha a merda que ele fez!

Alisson parou de varrer e disse:

— Foda-se o que ele fez. O que eu quero saber é se ele está em condições de ir lá pra cima e dar conta do que a gente tem que fazer.

100 Cuecas!Where stories live. Discover now