Primeiro

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A viagem de volta não demoraria muito. Em pouco tempo ambos já podiam avistar as altas torres, os três picos que rasgavam o azul do céu e refletiam incólumes uma luz tênue, como se tivessem sua própria fonte de luz. Possivelmente tinham. Eodan ainda estava em silêncio, apreciando seus últimos momentos antes da confusão que ele sabia que viria.

Euphie, no entanto, parecia completamente confortável. Ela tinha dobrado uma das pernas, sentando-se de qualquer maneira, abraçada à sua espada, impedindo que ela chacoalhasse e acabasse acertando o outro, e ficou observando tudo que não era as altas torres. Na verdade, o silêncio entre os dois, composto do assobio contente do cocheiro e o som das rodas da carruagem, bem como o trotar do cavalo, só foi quebrado quando a garota falou. – É tudo tão diferente. – Foi um sussurro tão baixo que ele quase não a ouvira, no entanto chamou sua atenção.

-As torres? – Perguntou por hábito. – São realmente enormes.

Ela soltou um riso baixo. – Não, elas eu já conhecia. – Ela olhou para o mais velho, observando o quanto ele parecia não ligar para a situação que tinham naquele momento. Eodan estava estranhamente tranquilo mesmo quando ela falara sobre algo preocupante, na verdade o mais velho parecia mais desconfortável com o fato de ter que explicar para Elysee o porquê de trazer uma estranha consigo do que o problema em si. – É só que tudo está muito diferente do que estou acostumada, apenas. – E depois voltou a olhar as coisas ao redor, perdendo-se na vegetação baixa da pradaria. De tudo o que poderia encantá-la naquela paisagem, a única coisa que não chamava sua atenção era a construção monstruosa.

Ele não pode evitar um sorriso pequeno, achando graça da situação. Tinha julgado que ela não era daquelas terras, mas pela maneira como se portava, talvez só estivesse longe por muito tempo.

Deu de ombros então, sabendo que era esforço desperdiçado tentar conhece-la enquanto ela não quisesse. A garota já havia deixado bem claro que não importava suas tentativas, ela não falaria nada enquanto não estivessem reunidos com a líder. – Muita coisa muda com o passar dos anos. – A contragosto comentou, tentando não ser tão impessoal. Afinal, um pouco de diplomacia não machucaria ninguém. – Acho que depois de certo tempo, tudo parece novo o tempo todo. E então você se acostuma.

Ela o olhou. – Acho que eu nunca me acostumaria com essa época de paz. – Ela confidenciou. – Não fui feita para ela.

Eodan ponderou antes de continuar. – Nenhum de nós foi.

Euphie não sabia se ele falava sobre ambos ali, se falava sobre a Vanguarda, se falava sobre toda a geração dos Legionários qual ele pertencera. Mas sabia que, assim como ela, ele sabia o que era a sensação de inutilidade quando a paz vinha.

Ele também sabia como era difícil lutar para que, um dia, as lutas acabassem e você se tornasse parte da Era das Lendas.

Ela apenas ofereceu-lhe um sorriso, compreendendo a dor do mais velho, e mexeu-se sobre o banco da carruagem, finalmente fitando o marco da esperança naquelas terras.

Euphie estava, também, assustada. As Torres de Marfim eram uma muralha ao redor do mundo, uma lembrança que a proteção existia e que nunca deixaria de existir. Que existiam pessoas que lutariam sempre contra qualquer tipo de maldade.

Mas o que ninguém da Vanguarda sabia era que, aos poucos, aquilo que os protegia, começava a matar seus heróis.

-

As torres, de perto, eram ainda mais incríveis do que as pessoas normalmente esperavam. A construção branca, tão alta quanto os olhos podiam ver, não só refletia o sol como também emitia sua própria luz plácida sob a floresta frondosa que a envolvia, em sua fachada o estandarte da Vanguarda, imponente, balançando com o vento. A imagem da espada envolta em vinhas e apenas três rosas brancas.

Segredo das Chamas DouradasWhere stories live. Discover now