Ela sai do carro batendo a porta e eu a alcanço na varanda de casa. 

 - Pode abrir essa maldita porta? 

 Subitamente me pego apreciando a forma como os seus olhos se tornam ainda mais escuros, profundos, se estreitando na luz do luar e não movo um músculo sequer, bebendo da beleza do seu rosto, o nariz arrebitado, as maças do rosto em um tom suave de rosa, a curvatura feminina do queixo, os lábios carnudos e suaves ao mesmo tempo, mordo o lábio inferior e sem dar conta do quanto estou me comportando como um idiota, solto um grunhido patético, meu lobo frustrado, salivando de vontade de provar mais uma vez a doçura dos seus lábios. 

 - Por que está me olhando assim estranho, eu estou com feijão ou um pedaço de alface nos dentes? 

 Ela pergunta escancarando a boca, virando a cabeça de um lado para o outro para a minha inspeção.

 - Claro que não, eu só estava distraído, entre. 

 Abro a porta e ela entra olhando tudo ao redor, balançando a cabeça. 

 - Bem legal a sua casa, há muitos anos que eu estive aqui, nem me lembro quando. 

 - Foi logo depois do seu aniversário de 7 anos. 

 "O dia em que o meu lobo a marcou como sua e também foi marcado por essa maldita feiticeira, meu bumbum que o diga".

                Sorrio lembrando do nosso primeiro "encontro explosivo" e Nat me olha sem entender, se ela soubesse que aquele filhote de lobo que a protegeu por dias a fio na floresta sou eu, certamente teria um surto. 

 - Você tem camomila aqui?

 - Sim, no armário da cozinha, mas eu não preciso de chá para me acalmar, Nat. 

 - Eu não vou te fazer beber nenhum chá, cowboy, agora me dê uma panela, pano limpo e o seu kit de curativos.

 - Eu agradeço, mas Nat... 

 - Shh, eu esqueci do quanto você é irritante, me dê o que eu pedi, Kayden. 

 Desisto de discutir com a "fera" e vou até o banheiro para pegar o kit e a toalha que eu usei mais cedo, pronto, isso deve bastar. Entrego a ela uma pequena panela e mostro onde está a camomila no armário da cozinha. Ela tira os sapatos, vai até a pia e coloca um pouco de água na panela, remexendo no armário até achar o que deseja. O jeito despojado como ela se debruça sobre a pia, empinando o traseiro grande e redondo me faz suspirar longamente, sem que eu me dê conta. 

Nat caminha pela cozinha tão à vontade, como se fizesse parte desse ambiente, que a única coisa que me resta é só observá-la e guardar em minha memória esse momento... Os seus quadris ondulando a cada movimento, os cabelos longos e pretos como a noite caindo até o final de suas costas, o sorriso sapeca que ela me dá quando me flagra comendo-a com os olhos, porra, eu tenho que me esforçar mais para lembrar que ela ainda é a garota irritante que me inferniza por toda a vida, a filha mimada do meu patrão, qualquer envolvimento entre nós dois seria um desastre total. 

 - Prontinho, agora se sente naquele sofá. 

 Desperto do meu delírio momentâneo com a sua mão em meu braço e eu me sento olhando-a desconfiado, o que será que ela vai fazer? 

É melhor ficar esperto, afinal não é por que uma serpente se traveste de unicórnio que ela vai perder o seu veneno. 

 Uma vez megera, sempre megera. 

 Então por que ela está sendo legal comigo? Hum, não sei não! 

 - Me dá o pano, camomila é cicatrizante, vou limpar esses arranhões com essa infusão, para não infeccionar e o seu nariz também. 

Os desgarrados: Livro 4-"DOMAR"Onde histórias criam vida. Descubra agora