- Consegue ver algum tipo de luz ou algum ponto nessa sala lhe atrai? – era a voz rouca de Morpheu interrompendo seus pensamentos.

Concentrando-se um pouco podia sentir que algum local na sala estranhamente lhe atraia. Um ponto atrás do local onde voz de Morpheu vinha, praticamente gritava para Vitor ir ate ele, havia algo ali, começou a caminhar concentrando-se no local.

A escuridão dificultava a caminhada, mas o instinto falou mais alto. Então ouviu algo cortando o vento, seu corpo travou sem o consentimento do dono e, por sorte, algo passou à centímetros de seu rosto.

- Ao fundo da sala encontrará um belo arsenal de armas, diversas laminas, pode escolher qualquer uma, a que lhe chamar mais atenção, mas para chegar lá tem de provar seus instintos como um verdadeiro monge – Morpheu segurou um riso – caso falhe saberei que Sirius perdeu tempo com você.

- Você é louco?

- Caminhe garoto, preciso saber se há algum potencial em você para te ensinar.

Vitor deu mais um passo, em seu cérebro algo falou para virar-se para a esquerda, obedeceu e no instante seguinte ouviu outro corte de ar às suas costas, eram laminas.

Caminhava com cautela, parecia que a cada passo o caminho se iluminava em seu cérebro. Concentrou-se mais, agora as laminas estavam à sua frente, no local onde jazia a esfera de luz anteriormente. Algo vinha por baixo. Não era uma lamina, eram espinhos, agora podia sentir com clareza cada armadilha do local, tinha de pular, no entanto algo vinha de cima, dardos.

Vitor correu, os longos cabelos ainda atrapalhavam a corrida, era um visual que não levaria para frente. A arma que o chamava estava a menos de dez passos, logo provaria a Morpheu que tinha potencial e poderia evoluir para destruir Lucio.

Chegar ao destino não foi difícil, seus instintos já gritavam ao seu ouvido toda vez que algo perigoso ia acontecer. As sombras gritavam para ele, uma miríade de vozes rodando em sua cabeça avisando do perigo. Então chegou ao destino, ali estava a arma que o escolhera, a arma que iria derrotar Lucio. Ali estavam... três facas curtas.

- Isso só pode ser sacanagem

Ao longe Vitor pode ouvir passos pela sala, vinham de vários pontos diferentes, eram passos abafados, as botas de Morpheu

- Muito bom garoto – disse em sua voz rouca – já consegue controlar bem os instintos das sombras

- Essas coisas podiam ter me matado – o garoto estava orgulhoso de si mesmo e ao mesmo tempo indignado com o velho

- Pegue suas armas – Morpheu olhou por cima do ombro de Vitor e riu – essas foram as armas escolhidas?

Morpheu estalou os dedos fazendo os archotes se acenderem e a sala se iluminar. Nas paredes em volta do local haviam milhares de facas, laminas, martelos e diversos outros tipos de armas, mas era como se as três pequenas facas, que não eram muito maiores que as mãos de Vitor o tivessem chamado para si.

- Como as uso?

- Ah claro – começou Morpheu – todas as armas daqui são produzidas com Armandilha, um metal raro que era minerado por dentro desta montanha, logo abaixo do templo, veja como elas são negras.

O homem pegou uma das laminas, o metal absorvia a luz que as chamas exalavam, Vitor olhou para o rosto de Morpheu, as sombras geradas pelas chamas deixavam o rosto do velho mais enrugado e cansado, chegava a ser assustador.

Morpheu jogou a faca para o alto, a lâmina subiu girando. O velho colocou a mão esquerda, em punho com os dedos indicador e médio para cima e a mão direita do mesmo jeito, mas apontando para frente. Na altura do ombro a lamina parou de cair e apontou na direção dos dedos da mão direita.

- Minha vontade agora controla a lamina – os olhos negros de Morpheu ganhavam vida naquela sala – vamos, tente.

Após jogar as facas algumas vezes, e entender os símbolos de mão que o velho fazia, Vitor conseguiu dominar facilmente as facas. Realmente eram feitas para ele.

- Estas facas são especiais, foram as ultimas forjadas pelos monges que as abençoaram com nomes de três entidades que protegiam os monges. Estas eram a Santa Maria, entidade da justiça, Santa Lucia, a entidade da noite e Santa Nina a entidade das sombras.

Vitor prestou atenção, sabia que todas as espadas especiais tinham nomes e as facas irmãs eram muito especiais. Então seu estomago roncou, agora notara que estava com muita fome, e pareceu que não só ele havia escutado como também Morpheu, pois o mesmo disse.

- Vamos garoto, hora do almoço.

Na frente dos olhos de Vitor, Morpheu se tornara fumaça e reaparecera na frente da porta. Morpheu já usava as roupas de couro novamente.

- Vamos garoto – disse – estou pensando para onde poderemos ir.

Os três se reuniram na sala das armaduras, cestas de frutas e carne de cervo assado eram postos a disposição de todos.

- Então – Morpheu comia com dificuldade devido as grossas luvas que calçava – devemos ir para o Vale Congelado – então olhou para Alice – ao menos eu e Vitor, você disse que iria voltar para sua tribo.

Os olhos desiguais de Alice se perderam na parede atrás de Vitor, ela comia uvas, se deleitava com aquele alimento que não experimentava há séculos.

- Sim velho – começou – quero voltar para minha casa

- Pois bem criança – Morpheu batia uma mão na outra limpando o resto de carne e criando manchas de gordura no couro – existe uma tribo de bestas selvagens ao norte daqui. Estamos muito ao leste, mas logo chegaremos ao vale.

- Faremos o que naquele cubo de gelo? – o garoto perguntou chupando a gordura deliciosa dos dedos

- Talvez um velho amigo possa ajudar a entender sua forma primordial e por que ela aconteceu. – então olhou para Alice – iremos em uma caravela ate as florestas de pinheiros, a partir de lá você se vira.

- Sim – a garota deu uma pausa para engolir as ultimas uvas – e onde iremos pegar essa caravela? Lucio está atrás do cara pálida, logo vai mandar assassinos

- Garota, como você diz, eu sou velho – Morpheu pegou um cigarro e acendeu-o na boca, fazendo sua cicatriz no olho mover-se – conheço muitas criaturas.

Vitor Salavar - Os Quatro ReisWhere stories live. Discover now