1 - A Lâmpada Mágica

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Eu andava pelas ruas da minha cidade em um dia normal: crianças correndo pela rua, pré-adolescentes de namoricos nas calçadas, jovens ouvindo música e os adultos ocupados. Estava passando em frente a uma loja, a T&T. Era uma loja da maior rede relacionada à tecnologia, apesar de vender de tudo: eletrônicos, brinquedos, eletrodomésticos... eu costumava passar todos os dias em frente dela a caminho do colégio.

Naquele dia algo me chamou atenção na vitrine. O que não era uma coisa muito anormal, pois sempre que passava ali, ficava observando os produtos à procura de algo para comprar. O objeto que chamou minha atenção nesta ocasião foi um smartphone. Porém não era um smartphone comum. Era "O" smartphone. Sua câmera com alta resolução, memória enorme, seu design perfeito, e ainda por cima cinza, minha cor preferida. Nossa! Eu precisava ter ele.

Todo mundo vivia dizendo que eu era compulsivo em compras. E que a cada lançamento de qualquer produto novo, eu queria comprar. E que, para mim, aquilo só era bom até lançarem um novo modelo. Na época, me revoltava com isso, mas hoje percebo quão fútil eu já fui. Naquele dia, ao ver o smartphone, já sabia o que pedir para meus pais assim que voltasse da escola.

Segui meu caminho até o colégio e enquanto andava, via outros alunos com o mesmo uniforme que o meu. Camisa vermelha com a gola e as mangas pretas, além do emblema da escola: uma estrela dourada bem no lado esquerdo, em cima do peito. O uniforme era bem ridículo. Eles sempre andavam em grupos de três ou quatro alunos, amigos que faziam o mesmo trajeto para ir ao colégio. Eu sempre ia sozinho, pois nunca fui bom em fazer amigos. Talvez isso seja pelo fato de eu ter sido muito antipático.

Cheguei ao colégio Clark Zaimer. Ele fora batizado com o nome de um importante político que havia criado o projeto de construir aquela escola. Porém nós, os alunos, chamávamos o colégio pela sigla CCZ.

Fazia poucos minutos que eu havia chegado ao portão quando o sinal tocou, então eu entrei. Logo após a entrada do colégio – um portão de grades que possuía um lado móvel e um fixo que era usado para prender o outro quando iam trancar – se abria um caminho de concreto em linha reta até as portas do lugar. Em ambos os lados desse caminho os carros dos professores, coordenadores e do diretor ficavam estacionados sobre um rente gramado. Alguns carros eram modestos, outros nem tanto. Só de olhar os veículos ali parados era possível notar a hierarquia.

As paredes da fachada da escola eram pintadas em uma cor rosa de tom bem claro, já desbotado, assim como todo o restante do colégio. A imensa porta de correr que dava acesso às dependências do local eram feitas de metal e pintada em cor creme, sendo que de sua metade para cima o metal era substituído por um vidro semitransparente.

Não posso dizer que amava ir à escola, mas não achava de todo mal. Eu sempre sentava na terceira cadeira, na fila do meio da sala. Em minha opinião, não importa qual sala seja, esse sempre vai ser o melhor lugar dela. As aulas daquele dia pareciam que nunca iriam acabar, todas elas, sem exceção, estavam completamente tediosas, e o calor escaldante da tarde não ajudava em nada. A primeira aula foi de matemática. Não lembro o nome do professor que ensinava essa matéria, mas lembro muito bem de sua aparência e de como ele ministrava as aulas.

Ele era bem magro e alto, na faixa dos trinta. Tinha um cabelo castanho com alguns fios loiros, sempre meio bagunçados. Além de ser uma matéria chata e ele ensinar de uma forma totalmente chata, esse professor ainda era metido a humorista. E volta e meia ele fazia de suas aulas seu show de stand up particular. Não lembro exatamente se foi nessa aula, entretanto, lembro bem da piada. Queria não lembrar. No meio de uma explicação, ele parou, olhou para a turma e perguntou: O que é pior do que ser atingido por um raio?

Três Desejos [ DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now