Não poderia lhe mandar um buquê como pedido de desculpas. Ele se recriminou assim que a insana ideia manifestou-se em seu íntimo, flores eram próprias de um cortejo. De sorte que estavam proibidas.

Outra vez, ele se lembrou de que somente comentara o ensejo de ir até à Casa Bridgerton. Decerto, ela até esquecera da conversa. Certamente, estava divertindo-se na companhia de suas primas.

Buscando tranquilizar sua consciência, ele escreveu uma carta para Agatha. Uma mensagem sucinta, sem floreios, ou dizeres românticos. Uma carta de amigos.
Desde a primeira missiva enviada, que foi prontamente respondida por ela, muitas outras trocas de correspondência fizeram com que Agatha Crane e Ethan Denbrook estivessem sempre juntos, não importasse os quilômetros de distância que se impusessem entre eles.
Não houve acordo, ou um consentimento tácito. Ninguém poderia precisar como tudo desencadeou-se. Foi aleatório. Projetado pelo acaso. Ele enviou uma carta. Ela o respondeu. Então ele achou que seria educado lhe escrever uma nova. Ela decidiu lhe escrever uma carta maior, descrevendo seus dias no campo. Ele achou a carta divertidíssima e pediu que ela sempre lhe contasse os detalhes de seus experimentos na estufa. Em troca, Ethan lhe confidenciava tudo o que acontecia em sua vida.
Um ano se correspondendo. E uma promessa não exteriorizada, ainda que estivesse intrínseca em seus atos, de que eles sempre escreveriam um para o outro.

"Querida Agatha,
Terminei meus estudos. Não como um aluno exemplar, do modo que meu pai desejara, no entanto, posso me vangloriar-me ao dizer que eu realmente sou bom em matemática. Quantas pessoas em nosso continente podem dizer o mesmo?..."

" Querido Ethan,
Asseguro-lhe que a matemática é uma ciência que apenas gênios compreendem. O que me faz pensar, ao ler a sua carta, que fenômenos milagrosos realmente existem! Serei eternamente grata por esse estímulo a minha fé..."

"Você é uma menina insolente, senhorita Crane..."

"Ethan, escrevo-lhe para lhe contar uma triste notícia..."
***

***1892***

" Abominável Ethan Denbrook,

Eu espero sinceramente que você morra afogado no Tâmisa, e que peixes carnívoros encontrem seu corpo e o devore, até as unhas... Pensando bem, melhor seria se os peixes o consumissem ainda vivo, e você sentisse cada uma das mordidas. Valendo-me de seu admirável conhecimento matemático, lhe explico o seguinte fato: isso é um décimo do sofrimento que você merece..."

(carta escrita em 1889. Nunca enviada)

- Estou de mudança para casa do tio Benedict. - Agatha Crane anunciou categoricamente, colocando sua valise sobre a grande cama de dossel.
- Você não vai morar com seu tio. - sua mãe retrucou imediatamente, desejando que aquela frase pusesse fim, de uma vez por todas, à discussão.
Para o desalento de Isabella, em se tratando de sua filha, não havia como encerrar um assunto, sem que antes a voluntariosa jovem lhe privasse por completo de uma existência simples e sossegada.
- Então eu me mudo para o galinheiro. - disse Agatha, dando de ombros enquanto ia até a penteadeira e recolhia alguns objetos.
Pelo amor de Deus! Uma única vez, era apenas o que a Sra. Crane almejava, que uma vez na vida Agatha lhe obedecesse piamente.
- Nós não temos um galinheiro. - ela lembrou a garota, tentando manter a calma.
Por um breve segundo, sua filha parou e pareceu pensar um pouco.
- Eu peço para usar o do vizinho. - disse em seguida, como se fosse a solução mais lógica para o problema.
Agatha tinha mesmo acabado de dizer que pediria estadia no galinheiro da propriedade dos Richesters?
Aquele seria um dia longo.
- Agatha Mariella Crane, pare agora mesmo de arrumar esta mala. - o tom autoritário da voz de Isabella ecoou por cada recanto do quarto.
A jovem bufou.
- Eu me recuso a ficar nesta casa enquanto o Lorde Tilgman e sua família estiverem hospedados aqui. Eu sei o que você pretende, mama, mas não há a menor chance de eu cooperar com essa sandice.
- Eu não pretendo nada. - mentiu Isabella com elegância. - Trata-se apenas de uma visita. Rebecca é uma amiga querida de muitos anos.
- E Ethan Denbrook é um genro ideal, não é mesmo? - acrescentou a filha com desgosto.
A mulher sorriu inocentemente.
- Essa é uma opinião vinda do seus lábios, não dos meus.
- Não vou me casar com ele.
- Você não tem como saber disso, faz anos desde que se encontraram pela última vez. Talvez depois de alguns dias juntos algum apreço surja entre vocês.
- Não vou me casar com ele. - Agatha repetiu a despeito dos argumentos de sua mãe.
- Mas ele é um nobre respeitado. E de feições agradáveis. Você se lembra do baile de Lady Ramson? Todas as jovens disputaram a atenção de Ethan.
- Eu. Não. Vou. Me. Casar. Com. Ele.
Isabella jogou-se em uma cadeira, exausta.
- Pois bem. É uma escolha sua, de todo modo. Apenas peço que pare de agir como uma criança pirracenta, se comporte como uma jovem de vinte dois anos e me diga o motivo de tão veemente recusa.
Ah.
Agatha prendeu a respiração.
Essa era uma pergunta que desejava nunca ter que responder.

Como enlouquecer um condeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora