Capítulo 1

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Capítulo 01

A caixinha do teste estava em cima da pia do banheiro. Aline estava de olhos fechados, decidindo em silêncio o que fazer.
- Faz logo! – Clara pegou a caixa do teste de gravidez e entregou para a amiga – Acaba com essa agonia de uma vez. - Clara saiu do banheiro e jogou-se em sua cama. Agora foi a vez dela fechar os olhos.
No banheiro, as mãos de Aline tremiam apenas por pensar no resultado do teste. Ela respirou fundo e se obrigou a olhar: positivo. Aline estava grávida. Ela abriu a porta do banheiro e Clara levantou-se num pulo.
Aline não precisou falar nada. Os olhos marejados já foram resposta o suficiente. Clara pegou o resultado do teste e abraçou a amiga.
- O que eu vou fazer? – Aline perguntou entre lágrimas.
- Calma, vai dar tudo certo – Clara tentava consolá-la, secando suas lágrimas. – Mas você precisa contar para o Márcio.
- Ele vai surtar! – Aline soluçou e apertou o abraço.
Assim que ela se acalmou, Clara lhe deu uma carona até a casa de seu namorado.
Durante todo o caminho, Aline foi pensando em como contar para Márcio que estava grávida. Eles namoravam há oito meses e estava tudo ótimo. Pensando bem, a vida de Aline parecia perfeita. Ela tinha o emprego dos sonhos: era editora chefe da Palavra Escrita, a maior editora do país, morava em um apartamento moderno e, para completar, estava com o homem mais romântico do mundo. Então por que se sentia tão insegura para dar a notícia a ele? Márcio era o homem de sua vida, ela sabia disso. A gravidez a pegara de surpresa por ser um descuido e não algo planejado, mas não havia ninguém com quem Aline desejasse ter uma família além de Márcio.
Clara estacionou o carro em frente à casa de Márcio e Aline respirou fundo. Ela olhou para a casa que estava toda iluminada, porém, não fez menção de se levantar.
- Vamos. – Mais uma vez Clara a incentivou. As duas saíram do carro e foram até a porta, onde Aline tocou a campainha.
Instantes depois, Márcio abriu a porta. Ele usava uma calça de moletom preta e surrada e uma camisa branca. Sorriu quando viu as garotas na porta.
- Oi, meu amor – Ele deu um selinho em Aline e deu passagem para que elas entrassem. – Por que não avisaram que vinham?
Aline olhou para ele, mas não respondeu. Percebendo o desconforto da amiga, Clara resolveu intervir.
- Na verdade, não sabíamos...
- Aconteceu alguma coisa? – Márcio aproximou-se de Aline e observou seu rosto – O que foi?
- To esperando no carro – Clara disse e apressou-se em sair da soleira da porta. Por mas que quisesse ajudar a amiga sabia que, naquele momento, ela precisava fazer aquilo sozinha.
- Aline, o que aconteceu? – Márcio perguntou. Ela sabia que ele já estava começando a ficar nervoso.
- Eu to grávida.
Por um momento, Márcio ficou em silêncio. Depois jogou a cabeça pra trás e soltou uma gargalhada alta.
- Hilário! De quem foi a ideia? Da Clara, né? Aposto!
- Márcio, eu to falando sério. – Aline o encarou e as lágrimas voltaram aos seus olhos – Eu acabei de fazer o teste...
- Teste? – Márcio perguntou. Agora ele parecia entender. Olhava na direção de Aline, mas sua visão parecia desfocada.
- Sim, um teste de farmácia.
- Teste de farmácia pode falhar.
- Eu sei que sim. Mas a minha menstruação ta muito atrasada. De qualquer forma, eu vou ao médico.
- Você ta louca. Você não podia ter feito isso! - Ele passou as mãos pelos cabelos, bagunçando os fios escuros. - Nós não tínhamos planejado nada! – Márcio gritou a última parte e Aline se assustou, deixando as lágrimas rolarem livremente por seu rosto.
- Eu não fiz isso sozinha... – Ela disse num tom baixo, quase um sussurro.
- Você não pode fazer isso. Não pode! – Márcio andava de um lado para o outro em sua sala – Você não pode entrar na minha casa e dizer que ta grávida! – Ele a encarou por alguns instantes – Eu nem sei se é meu.
Aline sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Ela mordeu o lábio e franziu as sobrancelhas, mas as lágrimas não paravam de rolar por suas bochechas.
- O que você ta insinuando?
- Eu não sei com quem você dormiu!
- Eu não acredito que você ta falando isso! Como você pode pensar uma coisa dessas?! – Ela gritou. Queria por pra fora toda aquela humilhação e vergonha que sentiu. – Eu te amo, Márcio... Você sabe disso. – A voz de Aline falhou.
Márcio balançava a cabeça negativamente. Ele abriu a porta.
- Eu não sei de mais nada – Ele disse, segurando a porta aberta.
- Você ta me expulsando? – A visão de Aline ficou turva pelas lágrimas.
- Eu preciso pensar.
Aline sentia-se tonta. Não acreditava que estava passando por tal situação. Ela saiu da casa de Márcio e correu até o carro de Clara, que a esperava na porta.
- Eu posso quebrar a cara desse babaca se você quiser – Clara disse e Aline presumiu que a amiga ouvira a discussão. Óbvio, a vizinhança inteira devia ter ouvido a gritaria.
- Não, não. Eu só quero ir pra casa.

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